“Há muita música descartável em Angola”
PRODUÇÃO MUSICAL. Com 20 anos de carreira, o músico e compositor Presilha congratula-se com o estado da música e da produção em Angola. Desaconselha o imediatismo para atingir o sucesso e, apesar do sucesso, defende que o Estado deve apoiar e impulsionar o desenvolvimento dos artistas.
Passados 20 anos, que avaliação faz da carreira?
Graças a Deus, está boa! Estou a fazer muitas produções e a contribuir para o mercado angolano de forma positiva. Neste momento, estou a prestar serviços em produção para Rey Hélder, Bela Chicola, entre outros músicos.
Quando prevê lançar o quinto álbum?
Estou a preparar com muito carrinho e é provável que saia para o ano. Na realidade, o projecto está quase pronto e, inclusive, já tem título, ‘Tributo à música’, e vai contar com as participações de Yuri da Cunha e Ivan Alexei, Lutchana. Estou a negociar com Paulo Flores e mais alguns artistas.
O que se pode esperar deste projecto?
Vai ser um bom trabalho. Afinal de contas, só pelo título já é uma forma de homenagear a música, por tudo o que ela fez por mim e por outros artistas. Preferi este para que qualquer pessoa, nacional ou estrangeira, se reveja nos estilos que o disco vai apresentar. Há de tudo, desde semba, kizomba, zouk, balada, entre outros estilos.
Que grandes sucessos já produziu?
Yuri da Cunha ‘Tu és o amor’; Yola Semedo, ‘Say Ho’; Rey Hélder, ‘Mana Luna’; Irmãos Almeida, ‘Senta mais um pouco’ e ‘África’; Flay ‘Jóia rara’; Géneses ‘Luz’; Big Nelo, ‘Quem será’; Phather Mak, ‘Laranjas’… são tantos que até perdi a conta.
Qual foi a sua grande produção?
A minha melhor e maior produção foi a música ‘Senta mais um pouco’ dos Irmãos Almeida, porque foi o trampolim como produtor. Foi a oportunidade de me conhecerem e respeitarem. Já trabalhei em produção e nunca tive uma produção como aquela. Ai, dei toda a minha alma.
Com que artistas internacionais já trabalhou?
Já trabalhei com Carlinhos Branco, um brasileiro, dei uma música completa ao cabo-verdiano Grace Évora. Trabalhei com uma banda da Bahia ‘Mameto’, no Brasil, entre outros trabalhos.
Que produção mais o animou?
Todas as produções me deram o mesmo prazer, porque cada álbum tem o seu grau de responsabilidade e desafio. Mas o quinto acarreta bastante responsabilidade, pelo caminho que já venho trilhando, tendo em conta os trabalhos já feitos. Porque a música é das coisas que faço para toda a vida e por isso não posso errar. Não faço música para as pessoas dançarem durante um ou três meses. Acho que, embora não tenha sucesso ou nome, o artista deve fazer música para dançar e ficar na história.
Sente imediatismo nos nossos músicos?
Existe sim! Mas é algo que não aconselho, porque o que chega cedo e rápido pode também terminar cedo. A música tem de transmitir mensagem à alma. Há muita música descartável em Angola. O artista não é aquela pessoa que, quando entra na discoteca, é reconhecida de imediato. Não! O artista tem de ter a capacidade de mudar mentalidades. Muito pelo facto de já termos vivido períodos longos de guerra e hoje, já não as guerras de facto, estamos numa guerra da mudança de mentalidade e de comportamentos.
Como vê os artistas que se expõem para ganhar notoriedade?
Essas polémicas, no nosso país, não são saudáveis. Talvez seja algum dia. Na Europa e na América, por exemplo, os artistas fazem essas coisas para ganhar dinheiro e vendem mesmo. Somos seguidos por muitas crianças, até nas redes sociais, e isso afecta inclusive no desempenho dos filhos.
A produção musical respira bem?
Respira bem! Porque hoje, sem medo de errar, 90 por cento das músicas consumidas são nacionais. Então, de certeza que os produtores e músicos estão a trabalhar bastante e as pessoas já valorizam mais a produção nacional. E só sai a ganhar a nossa música.
Os produtores ainda sentem falta de patrocínios?
Enquanto a nossa cultura não tiver o apoio do Estado, não vamos deixar de pedir, porque, afinal de contas, toda a cultura tem peso quando o Estado patrocina. Ganhámos dinheiro, sim, mas não é suficiente. Hoje podemos fazer toda a produção em Angola, mas há coisas que temos de finalizar obrigatoriamente no estrangeiro.
É considerado um dos melhores produtores. Concorda?
Sim! O segredo é muito trabalho e humildade. Não foi fácil conquistar este título, para que as pessoas reconhecessem inclusive as minhas músicas.
Quanto tempo levou para chegar onde chegou?
Já faço produção desde 1997, no Lobito, Benguela, mas, em 2000, tive de vir a Luanda, por ser o maior mercado, onde tudo acontece. De lá pra cá, tenho a felicidade de somar sucessos atrás de sucessos, graças a Deus.
Gosta de estar na noite/discotecas?
Gosto de sair, mas evito ir a espaços como discotecas. Há cinco anos que não frequento. Porque nós, os artistas, muitas vezes, não somos bem encarados. É sempre bom esquivar-se.
Quem mais gostaria de produzir?
Paulo Flores e Bonga, entre os nacionais. Dos internacionais, Ivete Sangalo, para fazer uma junção dos estilos baianos e os nossos, porque acho que os dois ritmos têm tudo para dar certo e um outro qualquer, desde que seja norte-americano.
Se não desse certo na música o que faria?
Engenharia de petróleo é uma das grandes paixões. Já trabalhei neste ramo na Sonamet. Foi o meu primeiro emprego.
PERFIL
Valeriano Joaquim Calei, mais conhecido por Presilha, tem 37 anos e é natural do Lobito, Benguela. Tem a formação média em Ciências Sociais. Possui quatro álbuns lançados: ‘Sem rumo’, ‘Meu estilo’, ‘Estrelas’ e ‘Duetos’. De momento, prepara o lançamento do quinto álbum, intitulado ‘Tributos à música’, que deverá estar no m
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