INCERTEZA, A PALAVRA DE ORDEM
O ano que findou lembrou-nos uma lição poderosa sobre a fragilidade dos prognósticos. As expressões do dia-a-dia que refutam os exageros com que, muitas vezes, se valorizam as projecções assentaram como uma luva. Pelo negativo ou pelo positivo, ao fim de 2020, não houve um único prognóstico confirmado, porque, em termos macro, tudo ficou condicionado ao presente envenenado do novo coronavírus. Por razões objectivamente sanitárias, mas também por ganância económica e por descaramento político.
É inegável que o aparente desconhecimento generalizado sobre o novo coronavírus impunha prudência em excesso, nos primeiros meses de 2020. Mas não é menos verdade que, a partir de determinada altura, ficou claro que o insuportável peso da factura da covid-19 incluía, sobretudo, a ambição desmedida do poder económico e o oportunismo insolente do poder político.
Do lado económico, a voracidade do poder manifestou-se, particularmente, na manipulação grosseira e absurda dos preços. Apegados na desculpa do excesso da procura sobre a oferta, muitos encontraram justamente no desespero generalizado da população a oportunidade para exponenciarem os negócios e o património numa única sentada. Há até exemplos ‘banais’ que mostram esse gangsterismo económico e financeiro de forma expressiva. Como o facto de uma caixa com 50 unidades de máscaras cirúrgicas poder ser adquirida hoje por 3 mil kwanzas, quando já esteve acima dos 30 mil. Mas também há relatos mais densos como os que envolvem alegados contratos chorudos, na luta contra a pandemia com dinheiro público.
Do lado político, o aproveitamento mais visível foi, sem dúvida, a restrição de direitos fundamentais e a anulação de compromissos prometidos à população com juramentos e com a mão direita sobre a bíblia. A efectivação das autarquias, tão esperada em 2020, não aconteceu por causa da covid-19, a mesma doença que afecta apenas todo o mundo, incluindo os nossos próximos Namíbia e Cabo Verde que, entretanto, realizaram eleições autárquicas.
É neste quadro de despudor empresarial, de desvario financeiro, de descomprometimento político e de agitação social que entramos em 2021. E é precisamente este conjunto que enfatiza as incertezas e que nos aconselha a manter a esperança moribunda. Afinal, como defende Adalberto Costa Júnior, nesta edição, e tal como espelha o exclusivo sobre a empresa DP Word, acusada de corrupção nos quatro cantos do nosso planeta e que vai gerir o terminal do Porto de Luanda, ainda não se começou a corrigir o que está mal.
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