DEVIDO À COVID-19

Incertezas no processo de recapitalização do BPC

BANCA. Em Março, fonte da administração garantiu ao VALOR que o processo estaria concluído agora em Abril, mas, “infelizmente, a situação [da covid-19] provocou algum atraso”.

Incertezas no processo de recapitalização  do BPC
D.R

A pandemia da covid-19 criou incertezas no período de recapitalização do Banco de Poupança e Crédito que, até à última quinzena de Março, estava previsto para este Abril. A informação foi avançada ao VALOR por fonte do conselho de administração da instituição.

“Infelizmente, a situação provocou algum atraso. Neste momento, não conseguimos dar indicações exactas, mas tudo está a ser feito para implementar o programa de recapitalização”, explicou a fonte.

Na última semana de Março, a mesma fonte garantiu ao VALOR que o processo estava “concluído” para que a recapitalização acontecesse em Abril. “Faltam alguns pormenores, mas, até final de Abril, o banco deve estar recapitalizado”, estimou na altura, garantindo agora que, em termos burocráticos e administrativos, o cenário se mantém, com a conclusão a estar dependente dos accionistas.

As necessidades de recapitalização do BPC apontam para um desembolso dos accionistas de cerca de 168,7 mil milhões de kwanzas, mas a administração garante não estar ainda definido o valor que receberá por ora.

ABERTURA DO CRÉDITO TAMBÉM ADIADA

A incerteza em relação ao período de recapitalização também cria incertezas sobre quando o banco volta a conceder crédito, processo previsto para logo depois da injecção dos fundos.

“Logo depois [da recapitalização], voltaremos a conceder créditos, porque agora, sem a recapitalização, não é possível. A taxa de incumprimento do BPC é de cerca de 90%”, explicou em Março a referida fonte.

A maior instituição bancária pública suspendeu a concessão de todo o tipo de créditos em 2016 por força do alto nível do crédito malparado. Em Agosto de 2018, reabriu a concessão do crédito BPC Salário, produto que consiste no adiantamento de 80% de um salário para os clientes que sejam trabalhadores por conta de outrem e que tenham o ordenado domiciliado na instituição.

Em relação ao possível regresso da concessão dos créditos, entretanto, não é a primeira vez que a instituição promete para um futuro breve. Fê-lo também em Abril de 2018. Na altura, liderado por Alcides Safeca, que então estimou que, naquele mesmo mês, o banco seria recapitalizado com 180 mil milhões de kwanzas.

No entanto, no BPC, existe uma linha do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) que está aberta deste Agosto de 2018, apesar de ter sido anunciada há cerca de quatro anos com o valor total de 325 milhões de dólares. Deste valor, a instituição bancária africana já disponibilizou 120 milhões, correspondente à primeira tranche, mas o banco público nunca concedeu qualquer crédito dessa linha de financiamento por suposta “falta de viabilidade” dos projectos, segundo justificação apresentada pelo banco em várias ocasiões.

Em entrevista publicada na edição n.º 202 do VALOR, o empresário Nuno Borges, presidente da Toyota Angola, considerou que “as exigências do BAD são extremamente difíceis de cumprir por uma classe empresarial que se encontra numa fase inicial do seu desenvolvimento”.