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Em 39 anos no poder

JES: Presidente que sempre usou o silêncio como principal arma política

Discreto, sempre usou o silêncio como principal arma político, José Eduardo dos Santos acabou por se servir desse mesmo silêncio para chegar à liderança do MPLA, numa altura em que o partido ainda lambia as feridas de uma trágica guerra interna, que teve o ponto alto em Maio de 1977.

 JES: Presidente que sempre usou o silêncio como principal arma política

José Eduardo dos Santos assumiu a presidência do partido e do país em 1979. Um ano depois, elege como principal batalha o combate à corrupção, à qual como depois se verificou, caiu em saco roto eterno.

O primeiro grande mérito do sucessor de Agostinho Neto foi ter unido o partido, eliminando divergências, de uma forma paulatina e discreta, mas também autocrática, criando um poder quase unipessoal.

E foi somando vitórias: a união e a paz dentro do MPLA, o respeito internacional de grande parte do mundo, triunfos diplomáticos, em que Angola esteve directamente envolvida, em especial, em períodos complicados.

A biografia de José Eduardo dos Santos é marcada por etapas e por anos cruciais: em 1979, sucede a Agostinho Neto na presidência, ‘empurrado’ por Lúcio Lara, até então o homem mais forte do país e do MPLA, depois de longas discussões a que o partido vinha habituando o país. Anos depois, José Eduardo dos Santos iria confessar publicamente ter ficado surpreendido com a escolha e que sempre se assumiu como “um desportista emprestado à política”.

O empréstimo iria durar mais 39 anos, a que se juntam a década em que foi dirigente do MPLA, antes da independência, e ministro das Relações Exteriores, na Angola independente,

Mas o ‘desportista’ iria ter mais momentos marcantes. Em 1989, perante a derrocada da União Soviética, consegue manter o partido na linha marxista-leninista apesar de, anos depois, mudar o rumo para um regime capitalista.

Assina os acordos de paz em 1991 e ganha as eleições um ano depois, que acabaram por resultar em uma nova guerra quando a UNITA não reconheceu os resultados.

Finalmente, vence a guerra, mas recusa-se a afastar ou perseguir os dirigentes da Unita que resistiram de armas na mão até à morte de Jonas Savimbi. Bem pelo contrário. Acolhe-os e dá-lhes condições para continuarem na vida política.

Voltou a vencer as eleições, em 2008 e 2012, mas recusa-se depois a abandonar a vida política, dando indicações de que estaria à procura de um sucessor.

Encontrou-o em 2017, em João Lourenço, mas, quem o conhece de perto, não tem dúvidas de que se tinha arrependido.

Enigmático, reservado, raramente dava entrevistas e preferia sempre fazê-lo à imprensa internacional. Numa das últimas, à pergunta de como gostaria de ser conhecido, respondeu apenas como “um bom patriota”.

O bom patriota resistiu fora da política a assistir o desmoronar da família.