ANGOLA GROWING
ECONOMIA BRASILEIRA PODE SAIR AINDA MAIS ENDIVIDADA

JO: uma tábua para a recessão

08 Aug. 2016 Emídio Fernando Mundo

BRASIL. Depois de realizar o campeonato do mundo de futebol, o Brasil ficou convencido que eram os Jogos Olímpicos que iriam tirar a economia de uma recessão profunda. Mas os estudos dizem ao contrário. Os analistas prevêem que o país fique ainda mais endividado.

Os Jogos Olímpicos (JO) arrancaram com as previsíveis ‘dores de cabeça’: uma das competições demorou a arrancar porque a organização perdeu as chaves de uma das portas do Estádio Maracanã; a comitiva da Austrália foi assaltada e os atletas ficaram sem os pertences; e as instalações da ‘aldeia olímpica’, no Rio de Janeiro, não ficaram todas concluídas.

Mas os problemas organizacionais são de menor importância, atendendo ao ‘fantasma’ da realização dos Jogos vir a agravar a já crítica economia brasileira. Na candidatura, o governo, na altura chefiado por Lula da Silva, acreditava que, mesmo com as obras colossais, o maior evento desportivo viria a dar lucros, arrastaria milhares de turistas e iria dar um impulso à economia. No entanto, as previsões apontam o contrário. “Os JO vão contribuir com apenas 0,05 pontos percentuais para o crescimento em 2016”, sobretudo por causa do aumento do investimento e do consumo, antecipam os economistas. O investimento total em infraestruturas foi calculado em 154 mil milhões de dólares o que é, “relativamente pouco, tendo em conta o tamanho da economia”. O consumo deverá beneficiar com os 320 mil turistas esperados para o Rio de Janeiro.

Contudo uma análise da Euler Hermes, uma conceituada empresa de consultoria, aponta para que os JO não sejam suficientes para dinamizar a economia e retirá-la da recessão.

Nas previsões, o governo brasileiro apontava para a criação de 120 mil empregos temporários, mas com a crise, as duas economistas, que assinam o relatório, concluem que, a acontecer, será “uma gota no oceano”, atendendo à população activa de 100 milhões de pessoas e uma taxa de desemprego superior a 11% registada no primeiro trimestre deste ano.

O Brasil enfrenta a pior recessão económica desde 1990, fruto da instabilidade política, mas também dos desequilíbrios do próprio país, dos preços baixos das matérias-primas, da desaceleração económica na China e da subida da taxa de juro imposta pelos EUA.

Outras análises apontam para que os JO possam trazer mais endividamento público e privado e que sejam uma má notícia para a inflação. Com obras nas mãos, o Rio de Janeiro foi obrigado a decretar o estado de emergência financeira para poder receber verbas extra do governo federal. O dinheiro foi destinado a ultimar as obras, como as do Metro e campos de jogos, e ainda não chegou para pagar dívidas antigas como a prestação de serviços básicos, o pagamento de pensões e salários na Função Pública. Ao todo, o Estado do Rio de Janeiro recebeu mais de 900 mil milhões de dólares para assegurar os jogos.

Além disso, os JO podem ser fatais para centenas de empresas que foram criadas para dar apoio aos Jogos. A seguradora Cosec prevê que, no mínimo, 5% decrete insolvência.

Por fim, é previsível haver uma alteração dos preços que alarma os economistas e o Banco Central do Brasil que calcula uma subida permanente até 2017. A taxa da inflacção em Maio situava-se nos 9,3%.

O banco central prevê ainda que os JO tragam, até Setembro, 200 milhões de dólares gastos por estrangeiros, mas bem longe dos 900 milhões que os adeptos de futebol deixaram no país há dois anos.

No total, a realização dos Jogos Olímpicos custou ao Brasil mais de 12 mil milhões de dólares, em infraestruturas. Mais de 60 mil pessoas foram deslocadas à força para dar lugar às novas obras, não só as que servem de palco de muitas competições, mas como as instalações de apoio e acessos aos Jogos, desde estações de metro a estradas e parques de estacionamento.

Depois dos JO, chegam novas ‘dores de cabeça’: o destino que vai ser dado às infra-estruturas desportivas e o alojamento de mais de 100 mil pessoas, entre elas, as 60 mil deslocadas, vão estar no topo das prioridades.