ANGOLA GROWING
MARCA DE BRINQUEDOS É A TERCEIRA MAIOR DO MUNDO

Lego: fábrica de sonhos e de fantasias

28 Nov. 2016 Emídio Fernando Gestão

BRINQUEDOS. Aproxima-se o Natal e tradição manda que se comprem objectos para crianças. Há mais de 70 anos que a Lego tem uma palavra a dizer. Já causou alegrias a várias gerações e hoje continua a renovar as suas propostas de jogos didácticos de montar, imitando tijolos da construção civil. Tudo começou na Dinamarca com a família Christiansen.

A originalidade dos brinquedos inventados por um antigo carpinteiro dinamarquês atravessa gerações e fronteiras e faz da Lego a marca de objectos infantis mais famosa do mundo. Ole Kirk Christiansen foi obrigado a usar, da melhor forma, o ofício que aprendera para sobreviver à grande depressão vivida na Europa no início de 1930. Ainda em criança aprendeu a construir em madeira para ajudar o sustento de uma família com 13 filhos.

O início daquela que é considerada a mais longa crise económica europeia, provocando altas taxas de desemprego e que só viria a terminar com o fim da II Guerra Mundial, não constituiu propriamente uma grande novidade na rotina da família de agricultores, já habituada às dificuldades económicas.

Ole Kirk Christiansen aplicou os conhecimentos de carpinteiro para montar uma pequena empresa, na cidade de Billund, em 1916, que se dedicava a fazer móveis e pequenos objectos em madeira. No entanto, oito anos depois, a empresa e as instalações viriam a ser destruídas por um incêndio. Mas o jovem carpinteiro e empreendedor não desarmou: alargou as instalações refeitas, alugou parte delas e apenas utilizou um dos espaços para montar uma oficina. Aqui, começou por construir apenas miniaturas de casas e móveis que serviam de brinquedos. Iniciava assim o conceito da Lego que só viria a ser uma marca como tal em 1932.

Foi a partir desse ano, já em plena crise económica, que Ole Kirk Christiansen encontrou, através da madeira, na imitação de carros, camiões e casas e em mealheiros em forma de porco, uma forma de sobreviver. Mesmo em crise, a pequena fábrica alargou-se e, dois anos depois, já tinha nome: Lego, que é a junção de duas palavras que em dinamarquês significam ‘brincar bem’. A mesma palavra, numa tradução livre do latim, pode querer dizer ‘eu montei’.

Estava assim consolidado o conceito que viria a ser fortalecido com o uso do plástico a seguir ao final da guerra. O primeiro brinquedo foi um camião que poderia ser desmontado e remontado, mas ainda com peças grandes. Em 1947, Ole Kirk Christiansen, já associado ao filho Gotdfred, comprou uma patente britânica que consistia na montagem de cubos de plástico ocos com quatro parafusos na parte superior e que serviam para a instalação de estantes. Os brinquedos passaram assim a ser construídos em madeira e em plástico até que o mais novo Christiansen, já a tomar as rédeas da empresa, entendeu que a produção em massa de plástico seria mais rentável. O pai tinha falecido em 1958, aos 66 anos de idade.

Nem um novo incêndio, que destruiu a fábrica, atrapalhou os planos de Gotdfred Christiansen que já sentia o mercado da Dinamarca pequeno demais. Em 1961, assume a estratégia de expansão, inicialmente com um acordo com a Samsonite que se comprometeu a vender os brinquedos para os Estados Unidos e Canadá. Ficou assim traçado o caminho de sucesso.

No final desse ano, a empresa já empregava mais de 450 pessoas. Hoje, encontra-se representada em 10 países e tem mais de 10 mil funcionários em todo o mundo. Em 2015, foi a terceira marca que mais cresceu no mundo, subindo em 25% o que representa de lucros um valor a rondar os 6,7 mil milhões de dólares. E encontra-se também em terceiro lugar nas marcas de brinquedos mais vendidas em todo o mundo.

Para atingir estes números, a década de 1960 foi decisiva. Em apenas três anos, a dinâmica introduzida pelo filho do fundador da Lego permitiu que a empresa passasse a usar o plástico que ainda hoje faz os brinquedos, um material menos propenso à descoloração e deformação e mais resistente ao calor, ácidos, sal e outros produtos químicos, iniciasse a construção de brinquedos especificamente orientados para crianças com idade pré-escolar, inserisse nas caixas os manuais de utilização e estreasse as rodas para carros e os bonecos com formas humanas. No final da década, ainda ‘inventou’ os motores a pilhas e as caixas de trilhos para pequenos comboios eléctricos.

Nos últimos anos, o Grupo Lego deixou de ser apenas o ‘mero’ fabricante de brinquedos. Gere um parque temático na cidade natal do fundador da marca, o Legoland, entrou no competitivo mercado dos jogos de vídeo e mais recentemente na produção de filmes, chegando a ter os seus bonecos como protagonistas em filmes de Hollywood.

Apesar deste sucesso, a Lego sofreu um declínio de vendas entre 1992 e 1998, em que foi incapaz de inventar novos brinquedos. Em 2004, esteve mesmo à beira do colapso financeiro. Só se reergueu a partir de 2005, criando mais produtos, mais inovadores e de maior dimensão.

A sede do grupo, na Dinamarca, ainda continua a exibir uma frase, à entrada, do fundador que define um lema de gestão empresarial: “Só o melhor é bom o suficiente”.