Lojistas encerram portas na Cidade da China
COMÉRCIO. Dificuldades na importação estão na base do encerramento de lojas no centro comercial Cidade da China. Receio de contágio também dificulta os negócios.
Dezenas de lojas fecharam, nos últimos dias, no centro comercial Cidade da China, o maior de Luanda, por conta da ruptura de stocks, justificadas pelas dificuldades de importação impostas pela pandemia.
Vários lojistas, consultados no local, disseram ao VALOR que, em muitos casos, não há previsões de reabertura dos espaços, enquanto as dificuldades persistirem. “Estamos a fechar, não temos produtos para vender. Os funcionários ficarão em casa até que consigamos ter no país os produtos”, lamenta um lojista, enquanto encerrava o estabelecimento na terça-feira, 9 de Junho. No centro, são comercializados produtos, particularmente, oriundos da China e, com as restrições no comércio internacional desde o primeiro trimestre, muitos não chegaram a fazer a reposição de stock.
Há, no entanto, algumas lojas que se mantêm abertas enquanto aguardam pela reposição dos produtos. Mas os proprietários alertam que podem fechar, caso as previsões de chegada de novos abastecimentos não se confirmem nos próximos meses. A loja Mini, por exemplo, comercializa habitualmente diversas marcas de telemóveis, mas actualmente tem apenas duas à venda.
Já a Welwitchia, uma das poucas que afirma estar “aliviada”, garante ter produtos para até ao fim do ano. A loja teve a ‘sorte’ de receber quantidades “consideráveis” de bens antes da decretação do estado de emergência, em Março. O mesmo ocorreu com várias lojas de venda de roupa usada.
Medo do vírus
Outra questão que preocupa os lojistas é a persistente falta de clientes, apesar do desconfinamento gradual. Antónia Sebastião, funcionária de uma loja, aponta o medo de contrair a covid-19 na base da pouca afluência ao centro comercial, embora assegure estarem criadas as condições de higienização. “Sempre tivemos muita movimentação aqui, talvez por isso as pessoas sintam receio de cá vir”, suspeita.
A lojista avança também que muitas lojas ainda não abriram desde o encerramento em Março, porque os funcionários aguaram pelo regresso dos patrões que se encontram na China, depois de terem viajado para a comemoração do ano novo chinês. Com a queda das vendas, há também lojistas que preferem não retomar a actividade, face aos considerados custos avultados.
Um cenário esperado
A situação por que passam os lojistas, entretanto, já tinha sido perspectivada, em Fevereiro, por Juan Shanga, académico e investigador do Centro Chinês de Estudos dos Países de Língua Portuguesa. Ao VALOR estimou na ocasião que a partir de Março, os produtos chineses em Angola começariam a escassear, por causa das fábricas fechadas na China. Mas também pelo facto de os investidores chineses se recusarem a regressar a Angola, antes que seja declarado o fim da epidemia.
“Nesta altura, os negócios estão a correr bem porque grande parte dos empresários investem na importação e exportação e têm em armazém mercadoria suficiente para atender à demanda, mas, depois de três meses, poderá registar-se alguma dificuldade porque muitas fábricas não estão a produzir”, disse na altura. Estimou ainda que as exportações chinesas para África só deverão reiniciar em Agosto, perspectiva que, entretanto, deve ser refeita tendo em conta a tendência de surgimento de uma segunda onda se contaminação em algumas cidades chinesa.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...