Revenda de gás

Lucros garantidos com poucos riscos

EMPREENDEDORISMO. Opinião é consensual entre comerciantes envolvidos na actividade. Agentes autorizados podem atingir rendimentos líquidos acima dos 500 mil kwanzas. Principal risco são os assaltos.

 

A revenda de gás butano é considerada por quem está no mercado como um “bom negócio”, por ser um investimento “com poucos riscos de falência”. Além de se tratar de um produto sem risco de deterioração, o gás butano é “altamente procurado, por ser incontornável na cozinha”. Marcos António é dos revendedores autorizados que vê o negócio com ‘bons olhos’, desde há mais de dois anos. Em 2015, António recorreu a um empréstimo bancário e investiu 80 mil dólares na compra de mil botijas de gás butano de 12 quilos, instalando-se no bairro Prenda. O negócio foi fechado com a Sonagás, a entidade que credencia e autoriza os revendedores a grosso e a retalho, e, dois anos depois, conseguiu reembolsar ao banco o total do crédito, incluindo os juros. A explicação do sucesso dispensa calculadoras. O rendimento líquido mensal de Marcos António ultrapassa os 500 mil kwanzas, considerando a margem média de 260 kwanzas por cada botija vendida. As vendas médias na agência de Marcos António, aberta de segunda a domingo, são de 100 botijas por dia, ao valor de 1.200 kwanzas, contra os 940 kwanzas de compra na Sonagás. As despesas operacionais resumem-se essencialmente ao ordenado de um funcionário, à renda do espaço e ao pagamento do serviço de segurança. “O maior risco que corremos são os assaltos”, explica António, esclarecendo que, mais do que a segurança da loja, a preocupação maior reside, sobretudo, com nos assaltantes instalados ao longo da via do bairro Uige, em Cacuaco, até ao ponto de descarga.

De qualquer forma, o negócio de Marcos António prospera e, passados dois anos, depois de pagar o empréstimo, já pensa em candidatar-se ao programa de crédito de iniciativa governamental Projovem, para expandir a actividade.

Com um serviço mais diversificado está a ‘Dinga Gás’, uma micro-empresa, com uma agência na avenida Murtala Mohamed e outra no Sambizanga, que adoptou as entregas de gás ao domicílio. Criada pelo casal Tavares e Luísa da Silva, a Dinga Gás realiza cerca de 60 vendas diárias, 80 por cento das quais através de entrega ao domicílio. O casal recusou-se a revelar o capital inicial investido, mas indicou que os dois armazéns empregam 17 jovens que auferem salários acima dos 30 mil kwanzas. Luzia da Silva explica que as entregas domiciliares são as mais solicitadas e são feitas por enquanto nos distritos da Maianga, Sambizanga, Ingombota, Samba e Rangel. A taxa de entrega está fixada em 250 kwanzas para as botijas pequenas e 500, para o caso das grandes. No entanto, segundo Luzia, a a posta neste segmento “ainda não está a render financeiramente”. De qualquer forma, diz-se “feliz” por estar a contribuir para a redução do desemprego no país.

Comparada à facturação de Marcos António, aqui as contas são mais modestas. O rendimento líquido da Dinga Gás, em termos médios, está fixado nos 200 mil kwanzas por mês, descontadas as despesas com salários energia, água, combustíveis, revisão das motorizadas e impostos. “Muitas vezes, chegamos a pagar salários recorrendo aos nossos próprios bolsos”, esclarece Luzia, descrevendo às dificuldades do negócio, nesta fase, que incluem também o medo de assaltos aos funcionários que fazem as entregas ao domicílio.

O casal Tavares e Luzia já pensou, entretanto, na solução que deverá passar por pagamentos através de cartões multicaixas.

OUTRA LIGA

Nesta actividade, há também os comerciantes mais pequenos que fazem vendas em pequenas quantidades, sobretudo, dentro dos bairros suburbanos ou mesmo à porta das agências autorizadas. São vendedores que, geralmente, adquirem de três a dez botijas, que, depois, são revendidas diariamente com uma margem que vai dos 25% a mais de 60%. Cada botija de 12 quilos comprada a 1.200 kwanzas, por exemplo, pode ser vendida a entre 1.500 e 2.000 kwanzas. Teresa Inácio, de 21 anos, vende gás à porta da sua casa, há mais de cinco anos, iniciativa que surgiu pelo facto de os pais se encontrarem desempregados. Das três evoluiu para sete botijas que adquire do revendedor autorizado a 1.200 kwanzas cada uma. Com as três vendas diárias, a margem é de 2.400 kwanzas, atingindo um rendimento líquido mensal superior a 70 mil kwanzas.

Já o comerciante Manuel Bongo, de 54 anos, revende à frente da agência de gás Canhogo, onde adquire o produto. Bongo explora, sobretudo, o período em que a agência não tem produto ou está fechada, para aumentar 300 kwanzas sobre os 1.200 por que compra cada botija.