DO PROGRAMA DE CRÉDITO ANGOLA INVESTE

Millennium Atlântico herda dívidas de 14 mil milhões Kz

BANCA. Instituição deve assumir os encargos com o crédito cedido pelo antigo Millennium Angola, antes da fusão com o banco Privado Atlântico, no programa público ‘Angola Investe’. Do total de crédito cedido, 1,9 mil milhões de kwanzas são de recuperação duvidosa.

O Banco Millennium Atlântico (BMA) absorveu uma dívida superior a 14 mil milhões de kwanzas do extinto Banco Millennium Angola, decorrente de empréstimos a clientes, ao abrigo do programa de crédito ‘Angola Investe’, de acordo com um documento da auditoria interna do banco a que o VALOR teve acesso.

De acordo com o documento, até 30 de Junho, a carteira de crédito do Millennium Atlântico, para o Angola Investe, comportava um total de 112 operações, com uma exposição de 14.030,1 milhões de kwanzas, das quais 35 operações em situação de carência de capital e 77 em fase de amortização da dívida.

Denominado ‘Monitorização Mensal da Carteira do Angola Investe’, o documento separa os encargos de dívidas por nível de risco. Das 122 operações, 49 estão no nível de “serviço de dívida irregular”, 28 no “serviço de dívida regular”, além das classes de “carência irregular” e “carência regular”, com um total de 35 operações.

Desde 5 de Maio, os bancos Millennium Angola e o Privado Atlântico passaram a ser uma única entidade – o Banco Millennium Atlântico – em conclusão ao processo de fusão iniciado no ano passado. Situação que fez migrar todos os activos e passivos das duas extintas instituições para o novo banco.

Apesar de o documento não fazer referência ao extinto Millennium Angola, fonte bem posicionada do Millennium Atlântico assegura ao VALOR que os encargos “são referentes ao crédito cedido pelo ex-Millennium Angola”, no programa estatal de fomento à actividade produtiva Angola Investe.

No ‘mapa’ de créditos cedidos, estão também identificados os principais ‘devedores’ e os montantes em dívida. Num único ‘quadro’, o banco isolou 13 clientes cujos projectos são classificados como sendo de “risco”, e que reclamam um total de 1,9 mil milhões kwanzas.

Dos 13 projectos, 12 estão “parados” e com “indícios de paralisação”, e um “cuja regularização da prestação da conta de empréstimo em atraso, teve recurso à criação de descoberto autorizado”, informações que foram expressas em relatório interno, com o número 17/2016.

 

COBRANÇAS EM CURSO 

A vasta folha de excell de balanço do crédito do Millennium Atlântico arruma as áreas de implementação de 49 dos 77 projectos em fase de “cobrança de juros e de capital e de eventual situação de incumprimento” (ver tabela).

Dos 49 projectos, sobressaem as iniciativas de “construção de um complexo industrial para serração de madeira e fabrico de móveis”, beneficiária de um crédito de 149,7 milhões de kwanzas, um reforço de tesouraria para um projecto de Agricultura, Pecuária e Pescas, com um desembolso de 286,8 milhões de kwanzas, e um projecto de construção de fazenda agrícola, com um financiamento de 448,3 milhões de kwanzas.

O banco alistou mais três grandes projectos no grupo de clientes cujas dívidas estão em fase de amortização e incumprimento, designadamente a construção de uma gráfica, fábrica de material de construção civil e uma indústria transformadora do sector de geologia e minas, que, no conjunto, receberam do banco acima de 600 milhões de kwanzas.

 

DÍVIDAS FORA DO PRAZO

Entre os ‘devedores’, há ainda quem esteja acima do período regulamentar para a cessão da dívida. Ou seja, o banco também ‘separou’ três clientes cujos empréstimos estão já 90 dias fora do tempo estipulado para o vencimento do crédito. Destes, está um projecto de ‘caprinicultura’, suinicultura e ‘avinicultura’ e mais dois da indústria transformadora, com financiamento total a rondar dos 550 milhões de kwanzas.