ANGOLA GROWING
AGÊNCIAS TÊM DIFICULDADES EM FAZER PLANOS

Modelos com trabalho precário

MODA. É um trabalho que oscila entre o amadorismo e o frágil profissionalismo. Nos últimos anos, cresceu o número de agências, mas os trabalhos são cada vez mais reduzidos. Os agentes queixam-se da falta de visão das empresas que “não apostam” na publicidade e no ‘marketing’.

Os agentes que se dedicam à moda reconhecem que os maiores rendimentos não provêm de desfiles, mas sim da publicidade e dos protocolos. O profissional não se limita aos desfiles, tem também como principal função publicitar produtos. O mercado da moda em Angola “é delicado, porque nem sempre há trabalho”, de acordo com Hadjalmar El Vaim, de 32 anos, que dirige a maior agência de moda de Angola, a Hadja Model. “Há temporadas menos boas e as melhores. Em moda, não se pode fazer uma previsão de rendimentos e calcular o mês que mais se factura”, admite.

Por isso, há “muita oscilação” nos rendimentos financeiros, mas Hadjalmar El Vaim acredita que essa oscilação só acontece porque as empresas, em Angola, “não apostam na publicidade e no marketing”. “Até há grandes empresas em que não há uma direcção de marketing, não fazem publicidade. As pessoas têm de ter consciência de que a publicidade aproxima o público da empresa” e defende que esse trabalho poderia pertencer ao um profissional de moda. “Enquanto agente de moda, não consigo fazer a média de lucros mensal, mas uma empresa consegue fazer porque sabe exactamente a facturação anual ou mensal. As pessoas olham para a publicidade como um gasto e não como um investimento.”

Apesar de haver meses de “pouca facturação”, a Hadja Model agencia 148 modelos e manequins e ainda aposta em desafios como organizar o ‘Mister Angola’, o ‘Angola Fashion Week’ e a ‘Moda Solidária’. Os meses de maior facturação são Janeiro, porque as empresas traçam estratégias de ‘marketing’ e precisam de modelos para protocolos, Junho, por causa do ‘Angola Fashion Week’, e Novembro e Dezembro, os meses mais agitados com muitos eventos principalmente casamentos.

O agente de moda acredita seriamente que “esse mercado ainda pode crescer” se as empresas “ganharem uma cultura de investir em publicidade e em marketing”.

Já o agente da Valente Models, Hélder Mulaza, que agencia actualmente 50 modelos, afirma que os modelos nacionais “não têm muita aceitação”, porque “existe muito amiguismo” na moda e nas empresas. Exemplifica com algumas empresas que preferem chamar a sobrinha ou a filha para ser o rosto de determinado produto, em vez de contratarem modelos profissionais.

Até algum tempo, contavam-se, pelos dedos as agências de moda, mas ultimamente têm surgido muitos jovens que se dedicam à moda, mesmo sem terem empresas formalizadas. Hélder Mulaza justifica que essas agências, como foi o caso da Valente Models, surgiram como forma de colmatar lacunas, porque as que existam “só aceitavam modelos por indicação”, o que fez com que muitos jovens optassem por “criar a sua própria empresa”.

“A agência de moda não é só mais uma agência, mas gera emprego, ajuda a tirar alguns jovens da delinquência, do álcool e das drogas”, acrescenta Hélder Mulaza. A Valente Models, no Kilamba Kiaxi, conseguiu através de palestras, ‘workshops’ e acções filantrópicas ajudar jovens a desistir das drogas, do álcool e da delinquência.

Sem revelar rendimentos mensais, Hélder Mulaza revela que, no contrato, o modelo fica com 60% do valor total do seu trabalho e a agência com os restantes 40%, o que, de certo modo, “se justifica pela formação que a agência dá ao modelo ou manequim”. A agência só têm patrocínio e contratos fixos com algumas empresas, mas a realidade de hoje apresenta-se mais difícil. Em anos anteriores, chegava a ter uma média mais de 15 trabalhos mensais, entre desfiles em passerelles, anúncios e protocolos.

Há poucos anos, até 2014, cada modelo conseguia, por um dia de trabalho, arrecadar entre os 15 mil e os 20 kwanzas. Hoje, já são poucas as empresas que contratam modelos, cujos pagamentos diários sejam superiores a seis mil kwanzas.

ENSAIO NA RUA

Se umas agências contam com patrocínios, há quem caminhe sozinho e até na rua já teve de ensaiar para garantir algum trabalho aos modelos, garante o director-geral da agência Angel Model, Floriano Pausí, que conta com seis anos de experiência e tem um ‘portfolio’ de 40 modelos e manequins. A sua maior dificuldade tem sido a falta de apoios, mas, apesar disso, consegue ter, em média, oito a dez trabalhos entre desfiles, ensaios fotográficos e protocolos. E ainda realiza palestras motivacionais e iniciativas filantrópicas todos os finais de ano, no centro de acolhimento Lar Arnaldo Jansen.

Para ultrapassar as dificuldades e dar mais cunho profissional à moda, Hadjalmar El Vaim defende que os potenciais patrocinadores e empresas deveriam “tirar maior proveito da globalização”, porque “não deve servir só para colher as coisas negativas, mas sim para ver que as grandes empresas comunicam com grande força através da publicidade e usam modelos para vender mais.”