POR PRESSÃO DAS AUTORIDADES MONETÁRIAS INTERNACIONAIS

Moeda europeia pode ‘desaparecer’ de Angola

DIVISAS. Depois do dólar, o euro pode ser a próxima moeda a escassear em Angola devido a sucessivos incumprimentos pela banca de regras prudenciais internacionais. Banco central admite haver “fragilidades” no sistema financeiro nacional. Especialistas anteveem dias de “sufoco” para o país.

Angola arrisca-se a ver reduzidas as disponibilidades financeiras em moeda europeia se, no curto e médio prazo, não aplicar e fazer cumprir as regras prudenciais internacionais do sistema bancário, alertam ao VALOR vários especialistas da banca nacional.

De acordo com os analistas, em causa está também o incumprimento de várias regras relacionadas com a prevenção ao branqueamento de capitais e ao financiamento ao terrorismo, além dos últimos desenvolvimentos da banca nacional, caracterizados pela redução da confiança dos depositantes.

Há duas semanas, no entanto, o governador do banco central, Valter Filipe, admitiu que o país “corre o risco de ficar sem o euro”, devido ao facto de o sistema bancário angolano “estar marginalizado pelo sistema financeiro internacional”, e culpou vários grupos empresariais estrangeiros que operam em Angola como promotores de “práticas de corrupção e financiamento do terrorismo”.

Valter Filipe anunciou, no entanto, uma estratégia que visa à recuperação imediata da credibilidade do sistema financeiro, o que vai exigir a imposição de normas prudenciais e comportamentais à banca, no que é corroborado por vários analistas.

Um dos inquiridos é o economista Alves da Rocha que não tem dúvidas de que o país poderá ter dificuldade no acesso ao euro e ao investimento estrangeiro de origem europeia, se o Governo não adequar, a curto e médio prazo, as regras do sistema bancário nacional às do Banco Central Europeu (BCE).

“Isso terá consequências nalguma alteração da estrutura bancária angolana, nomeadamente em termos de fluxos comerciais e económicos entre Angola e outros países do espaço europeu. Os fluxos comerciais são feitos através de bancos. É para isso também que eles existem”, antevê o economista.

O consultor financeiro Galvão Branco considera, por sua vez, que o aumento da fiscalização e responsabilização dos agentes “incumpridores” das regras prudenciais poderá ajudar a devolver estabilidade e confiança no sistema bancário e incentivar a captação de investimento estrangeiro.

“Neste momento, Angola está à margem do sistema financeiro internacional, quer ao nível do Banco Central Europeu, quer ao nível da Reserva Federal dos Estados Unidos. Os bancos norte-americanos e europeus desaconselham os investidores a fazer aplicações em Angola por não haver cumprimentos das exigências de regras prudenciais e de combate ao branqueamento de capitais”, apontou o dono da GB-Consultores.

 

PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS

As dificuldades que os bancos têm em responder às solicitações de clientes e as “recorrentes faltas de sistema” nas operações bancárias constam, segundo Galvão Branco, entre os problemas de natureza comportamental que o sistema bancário deve ultrapassar. “Temos, de facto, de fazer bem os trabalhos de casa, designadamente em matéria de regras prudenciais, além da componente comportamental interna”, apela o consultor financeiro.

Já o empresário Hirondino Garcia afirma que a solução para a estabilização do sistema financeiro angolano “não passa necessariamente pelo combate às ‘kinguilas’” e acusa os bancos como promotores da venda ilegal de moeda estrangeira.

“Os motivos da venda de divisas na rua todo o mundo sabe, os ‘kinguilas’ não são os culpados. Eles são apenas um veículo, o elo mais fraco. O dinheiro sai do banco, através de funcionários, e chega às mãos do operador informal. Os ‘kiguilas’ não vão ao banco buscar dinheiro”, analisa o líder da Associação de Jovens Empreendedores – Prestígio.