LOPES PAULO, ECONOMISTA E EX-SECRETÁRIO PARA os ASSUNTOS ECONóMICOS DO PR

“Não conseguimos assumir os desafios da economia, apesar de todo o esforço que o Governo fez”

O êxodo da população do interior do país para Luanda, que resulta, geralmente, em comércio informal e desordenado em todas as artérias da capital angolana tem explicação no não-investimento, sobretudo no sector produtivo, nas restantes províncias, onde se anda vários quilómetros para se ter acesso a uma agência bancária, segundo o economista Lopes Paulo, que defende a criação de uma unidade de economia comportamental, para estudar o impacto dos programas implementados pelo Governo. O ex-secretário do Presidente da República para os Assuntos Económicos alertou ainda para a necessidade de maior cuidado na selecção das pessoas que deverão estar à frente do Planagrão, pojecto que visa a produção de gãos em grande escala.

“Não conseguimos assumir os desafios da economia, apesar de todo o esforço que o Governo fez”

Quando olha para a economia angolana, o que o preocupa?

A nossa economia é basicamente dependente do sector petrolífero. Quando está em cima, todos outros sectores acompanham a subida e, quando está em queda, os outros sectores também acompanham a queda. Como consequência, tivemos cinco anos de recessão económica, que terminou em 2020 e 2021 foi o primeiro ano em que Angola voltou a crescer a 0,7%. Durante este período, o sector não petrolífero estagnou. Também porque não conseguimos assumir os desafios da economia, apesar de todo o esforço que o Governo fez. Em 2015, o Conselho de Ministros terá aprovado a transferência do saldo das linhas da China para o sector não petrolífero, no sentido da diversificação da economia. Estamos a falar de cerca de 5 a 6 mil milhões de dólares, mas infelizmente, quando o preço do petróleo começou a subir, abandonou-se, não houve uma explicação sobre a aplicação desses valores, para a diversificação da economia.

O malparado da banca também trava a alavancagem da economia?

Temos o banco BDA, para alavancar projectos do sector privado, mas também não alavancou o sector da economia real. Temos iniciativas de vários créditos. Por exemplo, de bancos, com destaque para o BPC, que visavam incentivar, justamente o sector privado, que também não resultaram, por isso é que temos crédito malparado. Ou seja, estamos aqui a olhar para uma situação em que não faltaram instrumentos para alavancar a economia, mas provavelmente seja um problema da perceção e preparação das mentes dos actores económicos, para a concretização dessas ideias e projectos, quer no sector privado, quer no público. Se é verdade que o sector privado claudicou e temos muito crédito malparado, também é verdade que o Governo investiu biliões e biliões em projectos. Vale lembrar a Zona Económica Especial, as várias fazendas do Estado, silos e várias infra-estruturas que foram feitas para alavancar a economia, mas que também falharam. E, naquela altura, sob gestão do Estado e agora passaram ao sistema de privatização.

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