ANGOLA GROWING
RAFAEL VIDAL, Embaixador do Brasil em Angola

“Não existe nenhuma comunicação do Governo de Angola a sugerir a aprovação ou anulação de vistos”

03 Apr. 2024 Grande Entrevista

Representante do Brasil reconhece as dificuldades na emissão de vistos para angolanos, mas apresenta várias justificações e lança números: a solicitação de vistos aumentou 760% depois da pandemia. Apesar das dificuldades, está convencido – e promete – que em poucos meses a sua embaixada tenha o problema resolvido. Entusiasta das relações com Angola, Rafael Vidal garante um forte apoio brasileiro na economia angolana e espera que sejam reforçados os investimentos de brasileiros, sobretudo nas infra-estruturas e na agricultura.

“Não existe  nenhuma comunicação do Governo de Angola a sugerir a aprovação ou  anulação de vistos”

Qual o ponto de situação da relação entre Angola e Brasil?

 
A relação não podia estar num melhor momento. Foi retomada a diplomacia presidencial com encontros de alto nível entre Luís Inácio Lula da Silva e João Lourenço. A diplomacia presidencial é fundamental no desenvolvimento ou parceria estratégica como a que o Brasil tem com Angola. Uma parceria desde 2010 e que foi lançada justamente no segundo mandato do presidente Lula. A parceria envolve todas as dimensões do conhecimento humano. Desenvolvemos relações muito fortes com Angola desde a independência e sobretudo depois do fim da guerra civil. Com a parceria estratégica, elevamos essa participação a um nível do envolvimento dos três poderes: executivo, legislativo e judicial. Essa é a grande diferença entre uma parceria estratégica e uma relação diplomática. Ao envolver os três poderes, a diplomacia presidencial passa a ter um papel muito importante. A relação diplomática entre o Brasil e Angola não pode estagnar, não pode seguir apenas na base daquilo que já foi feito, precisa de estar sempre desenvolvida, cuidada, tratada e é por isso que o encontro entre os presidentes relança a parceria estratégica e fortalece os novos mandatos.

No mandato anterior, houve um certo esfriamento das relações entre Angola e Brasil…

Sim. O presidente Lula tem se empenhado em ser um grande pacificador, em promover as noções e princípios de humanidade, dos direitos internacionais e tem sido muito actuante. O presidente João Lourenço também tem feito isso, tem sido um actor internacional importante e todos sabemos do seu papel no contexto regional africano. Quando os dois presidentes se encontram, conseguem defender a relação bilateral, mas também coordenam internacionalmente em prol das causas que são importantes para os dois países que hoje, mais do que nunca, estão muito sofríveis. Vivemos um momento muito difícil tanto, por exemplo, pelo conflito na Ucrânia, quanto na crise do Médio Oriente. Esta coordenação estreita entre chefes de Estado é fundamental para que exista esse movimento em prol da paz, da pacificação, do desenvolvimento, da defesa do estado de direito, do direito internacional e, a partir da presidência de Lula, no dia 1º de Janeiro, os dois presidentes voltaram a falar.

Os angolanos queixam-se de dificuldades na obtenção de vistos para o Brasil. O que se passa?

Esse problema decorre da força da relação bilateral. Há uma relação económica e social, desde o fim da guerra civil, sobretudo, o capital de investimentos feito aqui, de mais de dez mil milhões de reais em obras por empresas brasileiras. Angola é o maior beneficiário de crédito do BNDES desde 2002 com todos os pagamentos honrados. As trocas comerciais voltaram a ser fortes. Estamos com um patamar superior a 1,5 mil milhão de dólares, que era o patamar normal da relação, embora tenhamos tido momentos mais altos, mas de curta duração. Já tivemos um intercâmbio superior a dois mil milhões de dólares, mas tivemos também, nos momentos difíceis, intercâmbios de cerca de 500 ou 600 milhões e, em 2023, voltámos a alcançar o patamar de 1,5 mil milhão de dólares e esperamos que isso se repita. Isso envolve trocas, empresários que vão de um lado para outro, muito movimento de pessoas e a integração cultural é promovida pela grande presença de comunidades brasileiras em Angola e angolanas no Brasil. Angola recebe a maior comunidade brasileira em África e a comunidade angolana no Brasil talvez seja das mais importantes no contexto da emigração e do trânsito sazonal migratório, não de residentes permanentes, mas de temporários – estudantes, trabalhadores, empresários, turistas, etc. Todas as dimensões da relação são muito fortes, porque temos uma das parcerias estratégicas internacionais mais importantes. Esse movimento sofreu uma multiplicação de 760% desde o fim da pandemia. 

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