PERANTE A ACUSAÇÃO DO PCA DA SONAGOL

“Não havia carregamentos para pagar a Israel e ao Brasil”

CONFLITO. Carlos Saturnino disse que o Estado pretende saber o destino dos carregamentos que serviriam para amortizar as linhas de crédito do Brasil e de Israel e que foram interrompidos pela anterior administração. Isabel dos Santos responde que “não havia carregamentos disponíveis”.

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A ex-PCA da Sonangol, Isabel dos Santos, nega que, durante a sua administração, tenha direccionado para outros fins os carregamentos de petróleo que deveriam ter como destino o Brasil e Israel para honrar o compromisso que o Estado tem com esses países.

O possível destino contrário foi anunciado pelo actual PCA da Sonangol, Carlos Saturnino, na conferência de imprensa da empresa, a 28 de Fevereiro, em que salientava que o Governo pretendia saber o destino desses carregamentos.

“Especulações falsas, pois não havia petróleo disponível e não havia carregamentos para mandar pagar a linha de Israel ou do Brasil”, respondeu Isabel dos Santos ao VALOR, acrescentando que “simplesmente” o Estado e a Sonangol “não tinham carregamentos disponíveis, pois, com o preço de petróleo baixo, têm direito a muito menos carregamentos da concessão/blocos”.

“Os poucos carregamentos que havia não chegavam para pagar todas as linhas de financiamento. De acordo com os contratos de partilha de produção, o Estado e a Sonangol recebem menos petróleo quando o preço está baixo. Ele [Carlos Saturnino] sabe, pois negociou muitos destes contratos nesses termos. Mente. Pois, infelizmente, é o que sabe fazer melhor”, rebate a ex-presidente da petrolífera.

Responder ao Estado

Na conferência de imprensa, Carlos Saturnino anunciou que, desde Novembro de 2017, a Sonangol reactivou a amortização da linha de crédito do Brasil e, desde Dezembro, a de Israel. “Tem já amortizados 65 milhões de dólares da linha de crédito do Brasil e 181 milhões de dólares da linha de crédito de Israel”, adiantou, acrescentando que, no primeiro trimestre de 2018, foram alocados cinco carregamentos para o Brasil e dois para Israel. Sublinhando que “era uma orientação antiga do Estado”, Carlos Saturnino acrescentou que, depois da administração da Sonangol reiniciar os carregamentos, o Estado questionou sobre o destino dado aos anteriores “carregamentos que não foram alocados ao Brasil e a Israel”.

Carlos Saturnino garantiu que se limitou a dizer que essa questão deveria ser feita à anterior administração. “Estamos à procura para responder ao dono da empresa o que se fez.”

O VALOR questionou à petrolífera se já tem a resposta, mas, segundo fonte da empresa, da parte da Sonangol “não há intenção de se pronunciar tão cedo sobre as questões que foram abordadas na conferência de imprensa” e que têm sido rebatidas por Isabel dos Santos, em inúmeras entrevistas e nas redes sociais.

O destino dos carregamentos é apenas um dos muitos factos apresentados pelo PCA da Sonangol, Carlos Saturnino, que têm sido negados e esclarecidos por Isabel dos Santos. Entre outras, a empresária refutou também a acusação de transferência de 38 milhões de dólares depois de exonerada e esclareceu a inclusão dos bancos BFA e Euro BIC, de que é accionista, entre os que passaram a trabalhar com a petrolífera.

Depois da conferência de imprensa, a Procuradoria-Geral da República anunciou a abertura de um inquérito para investigar as acusações feitas pelo PCA da Sonangol.