Negócio resiste à ‘modernidade’, mas com baixa facturação
PERSISTÊNCIA. Curso teve momentos áureos no início da década de 2000, em que a formação, na óptica do utilizador, durava 12 meses e chegava a custar até 500 dólares. Formação é feita, actualmente, em menos de três meses, custando menos de 10 mil kwanzas.
Centros de formação profissional, em Luanda, registam baixa facturação com o curso básico de informática, embora a procura pela formação continue considerável, constatou o VALOR, em conversa com promotores do negócio.
Diferentes factores foram apontados como causas da ‘desaceleração’ dos resultados, com os promotores a divergirem, entretanto, em relação ao futuro do negócio. Houve, por exemplo, quem defendesse que a ‘informática na óptica do utilizador’ corre o risco de desaparecer, pelo facto de, cada vez mais cedo, as pessoas, inclusivamente crianças em idade escolar, terem contacto com telefones que incorporam funções dos computadores.
“Este curso vai mesmo desaparecer. Desde 2012, ano em que foi criado o nosso centro, nunca tivemos um período de formação com mais de 20 formandos do curso básico de informática. O nosso record foi de 17 estudantes em 2013. Actualmente, temos apenas seis formandos”, contabiliza o coordenador de cursos do Centro de Formação Profissional ‘Maurício’, localizado na Gamek Vila, Martins Camões. “Há formandos que, quando chegam aqui, dizem que já sabem manusear o computador e que precisam apenas de um certificado para ter acesso a um emprego”, continua, justificando a quebra do negócio.
Camões não deixou, entretanto, de incluir, entre as razões do momento de baixa dos cursos de infomática, a conjuntura de crise financeira dos últimos três anos. “Cobramos seis mil kwanzas pelo curso e os candidatos à formação, que são geralmente jovens abaixo dos 25 anos, dizem que está caro”, assinala.
Quem também defende que o negócio da formação básica de informática tem os dias contados é o director-geral do Instituto Nacional de Fomento da sociedade da Informação (Infosi), Manuel Homem, que verifica “uma tendência de descontinuação”, face à adopção da tecnologia cada vez mais cedo. “O nosso dia-a-dia tornou-se muito assente na utilização de equipamentos informáticos e isto propicia uma literacia digital cada vez mais cedo.
As razões pelas quais os cursos duram cada vez menos tempo decorrem do modelo de adopção a que estamos a assistir e este modelo de formação, sobretudo para as questões básicas das novas tecnologias, tendem a acabar”, argumenta o director do Infosi. Mas as visões não são unânimes.
O coordenador do Centro de Formação Profissional ‘Criarte’, Soares dos Santos, discorda de Martins Maurício e de Manuel Homem e vê com “bons olhos” o futuro do negócio. “Pelo menos, no nosso centro, a procura continua em alta, principalmente por mulheres”, argumenta. Localizado na Rua Direita da Samba, o centro Criarte existe há 11 anos e tem actualmente um universo de 67 formandos só no curso básico de informática, divididos em dois turnos. Soares dos Santos garante que, entre várias formações que leccionam, a informática é a mais solicitada. No entanto, reconhece que os níveis de facturação já não são como em tempos idos.
“A facturação já não é alta como no passado, por conta também dos impostos, que são muito altos.
Então, para não ter problemas com o Estado, já não pensamos muito em lucros, apenas em manter a funcionar o centro”, declara.
O director do Centro de Formação Profissional Garden English Center, Comba Kingombo, comunga da opinião de Soares dos Santos, segundo a qual o negócio “tem futuro”, associando a quebra de clientes à crise financeira e não aos avanços tecnológicos ou ao acesso a computadores cada vez mais cedo.
Nesse centro, o curso custa 13.200 kwanzas com uma duração de dois meses. E, segundo Kingombo, há 10 turmas diárias, com uma média de sete alunos em cada uma. “Novembro e Dezembro são os meses de maior procura, devido às férias no ensino geral. Nesta época, vêm alunos com idades compreendidas entre os 14 e os 50 anos”, explica o director do centro, situado na Rua 21 de Janeiro.
Se, quanto ao futuro do negócio, os promotores divergem, o mesmo não se pode dizer em relação ao encurtamento da carga horária e à redução do custo do curso. No início da década de 2000, a formação básica demorava 12 meses e chegava a custar até 500 dólares (em métodos intensivos). Alguns anos depois, a duração passou para nove, oito e seis meses, custando abaixo de 200 dólares.
Actualmente, o curso básico de informática, em geral, demora menos de três meses e custa abaixo de cem dólares. E há várias organizações não-governamentais a promoverem campanhas de formação grátis deste curso em um mês. Nas próximas décadas, definir-se-á, seguramente, o futuro deste negócio ligado aos computadores.
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