“Ninguém se afirma por um prémio”
ENTREVISTA. Foi a primeira mulher a vencer o Grande Prémio Ensa’Arte, mas rejeita que tenha chegado ao topo: quer dar continuidade à obra. Fineza Teta acredita que a sua arte representa o valor do esforço, tempo, talento é criatividade, mas sente que ainda falta mercado em Angola e indústrias para apoiar a arte.
As pessoas têm medo de consumir cultura?
Pelo contrário, as pessoas sentem-se atraídas pela cultura, quando é apresentada com excelência. Neste período particular, já não poderei falar de desinteresse, mas, sim, de um novo interesse no resgate aos valores culturais.
Como vê o momento cultural?
Assim como outros sectores sociais, as artes encontram-se num novo momento de reafirmação.
Qual deve ser o papel das artes plásticas?
É fundamental. É o único recurso estético e visual por meio do qual se educa uma sociedade, utilizando meios sustentáveis, incentivando a sensibilidade na cultura.
O título da exposição ‘Divergente’ reflecte a sua independência em relação aos padrões clássicos?
‘Divergente’ é, sobretudo, uma corrente artística a qual defendo, por ser a liberdade que possuo em emergir nas distintas etapas e estilos artísticos, caracterizados até hoje.
Sente-se realizada profissionalmente?
Primeiramente, tería de analisar bem o termo realização, só assim teria afirmações convictas. Como artista sempre busco a perfeição e as inquietações são constantes.
O que falta?
Alcançar o inimaginável, agarrar o vento e correr sobre as águas.
Quanto custa uma obra sua?
As minhas obras têm o valor do meu esforço, tempo, talento e criatividade, porque, como todo o cidadão, também tenho contas a pagar.
O que falta para que os artistas plásticos angolanos vivam das suas criações?
Um mercado disponível, indústrias dispostas a investir e uma lei do Mecenato actuante.
O produto angolano tem qualidade suficiente para se impor internacionalmente?
A resposta está na qualidade e quantidade de prémios internacionais que Angola tem vindo a conquistar nos últimos anos.
Compra quadros de artistas nacionais?
Claro, mas nós, como artistas, temos formas de intercâmbio para a aquisição do que pretendemos.
Que avaliação faz dos colegas?
Estamos numa boa trilha, devendo somente permanecer e cultivar melhor os nossos interesses.
Ter sido a primeira mulher a vencer o Grande Prémio Ensa-Arte representa uma afirmação na sociedade?
Ninguém se afirma por um prémio, mas sim pelo trabalho apresentado neste prémio e pela continuidade que dá à sua obra. É comum vermos artistas a pintar o abstracto, mas no seu caso, nota-se mais a presença humana… Tudo o que se vê nas minhas obras são tentativas de expressão do imaginável. Os contornos, as cores e até as figuras surgem mesmo quando quero fugir delas.
As suas obras representam o surrealismo ou o realismo?
Elas são um pouco de tudo. A base é a espontaneidade, porque sou divergente.
Quais os pontos de intercepção entre a pintura e a escultura?
As inúmeras possibilidades de auto-expressão em diferentes dimensões.
Está a ser fácil essa nova etapa da escultura?
Nada é difícil quando se tem vontade e meios.
Que projectos tem?
Para 2016, são três grandes projectos: Tea Club, projecto filantrópico, a qual estou muito grata por fazer parte deste projecto nobre, de poder acarinhar crianças necessitadas, dentro das comemorações dos 40 anos de Independência de Angola. E um pessoal que ainda está no forno (risos).
Em que se inspira para esculpir ou pintar?
É difícil citar fontes de inspiração fixas, tudo depende , às vezes, das coisas mais absurdas que nos inspiram (risos).
PERFIL
Nome: Fineza Sebastião Teta dos Santos ‘Fisty Teta’
Natural: Luanda, Ilha do Cabo
Idade: 26 de Dezembro de 1977
Filhos: Duas meninas
Estado civil: Casada
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