EMANUEL MIGUEL, EMPRESÁRIO

“Nós, do sector rochas ornamentais, não temos nenhuma medida de alívio vinda do Estado”

Empresário há mais de 15 anos, Emanuel Alaturca denuncia corrupção na exportação de rochas ornamentais não transformadas e considera que as políticas públicas estão a pôr em risco o desenvolvimento do mercado interno da transformação de pedras naturais. Alerta ainda que muitas empresas correm o risco de fechar portas, por dificuldades em aceder aos créditos bancários, apontando como exemplo, Emanha, um produtor, que não resistiu a adversidades do mercado e faliu, na Huíla. Defende ainda a criação de uma entidade que regule os preços das pedras ornamentais, à semelhança do que é feito nos combustíveis.

“Nós, do sector rochas ornamentais, não temos nenhuma medida de alívio vinda do Estado”

Angola tem grandes reservas de rochas ornamentais, mas o volume de negócios ainda é considerado residual. Porquê?

O consumo depende da procura. Então, se temos um mercado onde estamos em inflação permanente, como é que se vai ter o bom ambiente de negócios? Não há poder de compra. Nós transformamos com boa qualidade. Se puder visitar o novo aeroporto de Luanda, por exemplo, vai ver mármore de boa qualidade. Convido a fazer uma visita ao ‘hall’ de entrada do novo aeroporto, foi feito pela nossa empresa, a Alaturca Pedras Naturais. É uma empresa 100% angolana. O Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás tem de fazer ‘shows’ a nível internacional para podermos atrair mais investidores e tornamos Angola sustentável.


O Plano Nacional de Geologia (Planageo) alterou o ‘modus operandis’ na exploração das rochas ornamentais?

O Planageo fez um grande trabalho de levantamento em relação aos nossos recursos naturais. Fizeram o trabalho e entregaram isso ao Estado. O mercado das rochas ornamentais não é para aventureiros. É pesado. Estamos aqui em Angola. Vamos dar o nosso melhor para um dia ver essa Angola melhor. A China conseguiu, a Itália conseguiu, a Turquia conseguiu sobreviver desse grande recurso que são as rochas ornamentais. Colocaram-se no pedestal do mundo. Temos a China hoje como um dos maiores exportadores de rochas ornamentais, mas importa a matéria-prima, a maioria parte de África. Temos a Turquia, como o segundo no pedestal, a Índia, como terceiro, a Itália em quarto lugar e nós podemos muito bem também colocar Angola e África nessa lista. Angola, por exemplo, tem a maior reserva de rochas ornamentais em relação a esses países. Tem de haver muito investimento. Um navio saiu daqui para a China carregado de matérias-primas. Quanto é que isso representou para o nosso país? Nada. Precisamos que o nosso país melhore as condições de exportação de materiais que vão nos agregar valor, para termos um bom impacto na nossa balança de pagamento. 


Que medidas o Estado deve tomar para dinamizar e tornar o mercado competitivo?

O Estado é o Estado. Tem de olhar e criar políticas para salvaguardar as empresas. As empresas precisam de injecção de capital e quem tem de injectar capital são os bancos. Mas o dinheiro está caro em Angola. As taxas de juro estão altíssimas. Então, é difícil. Diz-se que a idade da humanidade é a idade da fome. Para a agricultura, o Governo o criou o Planagrão e para as pescas o Planapesca. Estes programas têm de dar certo, porque as pessoas têm de comer, enquanto estiverem em vida. O sector de rochas ornamentais é completamente diferente. As pessoas não comem pedra. Então não nos dão prioridade. Mas o sector cria emprego e tem rumo.