“Nunca me passaria pela cabeça, na Europa, não ter internet durante um segundo. Mesmo que arranquem cabos submarinos, deve haver redundância.”
Consultor financeiro, conhecedor do mercado angolano, aponta a ineficiência nas comunicações como um dos grandes problemas. Vasco Oliveira sugere caminhos para que os bancos angolanos se adequem aos novos tempos da digitalização e lança alertas às instituições que só se limitam a seguir práticas tradicionais. No entanto, o sócio da Digital Banking defende a utilidade das notas para a realidade angolana.
Quais são os desafios que Angola enfrenta para a digitalização da banca?
Os serviços que temos cobrem toda a componente de digitalização do sector financeiro, a regulamentação existe em todos os países e ela é necessária para reduzir a fraude, o roubo, a corrupção e garantir que as instituições financeiras cumpram os seus objectivos a favor dos clientes. O desafio é fazer com que estas soluções digitais, que na verdade podem fazer quase tudo, estejam a cumprir a regulamentação, garantindo níveis de segurança, mas, por outro lado, aumentando os serviços aos clientes. Ou seja, se o cliente fica mais liberto e consegue interagir com o seu banco fica com a vida fica muito mais facilitada.
Este processo já está muito mais avançado em outras realidades. Nós ainda temos muitos desafios…
A digitalização não tem única e exclusivamente que ver com a tecnologia. Tem que ver com processos. Se eu digitalizar um cartão de cidadão, ou passaporte, não serve para nada. É como se tirasse uma fotografia. O que preciso do passaporte são os dados, de quem é, o nome, idade, pai e mãe, onde é que nasceu. Isso é que é informação que está no passaporte. Quando digitalizo tem que se ter acesso a isso que é válido para qualquer informação. De nada me serve digitalizar o documento se no final existir uma cópia física, tenho uma folha impressa que não altera o documento. A digitalização é um processo. Ao se acabar com os documentos físicos, os dados são trabalhados. Consigo saber quem é a pessoa, onde está, onde trabalha, quanto ganha e quantos filhos tem. O banco pega nessa informação e consegue criar um produto específico com base nessas características, rendimentos e com base na sua capacidade no envolvimento no sector financeiro. Isso vai fazer com que o cliente se sinta muito mais seguro. Todos nós ficamos muito mais próximos do banco, não há tanta necessidade de comunicação com uma falha de papel, perdi o papel ou não há papel. Isso aumenta a segurança. São documentos, ou informação segura, e que vêm, por exemplo, de entidade patronal ou do Estado, no caso do bilhete, passaporte ou outro documento emitido pelo Estado. Portanto, aumenta a qualidade de informação, a segurança de informação e conseguimos trabalhar com essa informação e dar produtos muito mais seguros e muito mais versáteis. Se eu souber de um determinado ‘nicho’ da população, quais são as dificuldades e qual é o rendimento de que as pessoas precisam para superar essas necessidades, consigo criar produtos próprios, tudo de forma digitalizada sem quase o cliente ter de pedir uma pasta de papéis.
Angola tem muitos desafios desde a literacia financeira, a informalidade da economia e o número considerável de cidadãos não bancarizados, que soluções?
Todos os países têm uma população não bancarizada, uns mais e outros menos. O Brasil, por exemplo, tem uma população muito maior, de 200 milhões de pessoas. Se calhar, 100 milhões não estão bancarizados ou acima disso. É preciso construir soluções financeiras para essas pessoas que não estão bancarizadas, como as “fintechs,” que são empresas financeiras e tecnológicas como ‘braços’ dos bancos. É possível o cliente não ser bancarizado e pagar os seus serviços em ‘cash’. Mesmo não tendo conta, consegue fazer alguns movimentos, transferências e transacções como se tivesse conta no banco. Isso faz com que, numa primeira fase, se sinta confortável porque é dinheiro, mas, ao longo do tempo, vai se habituando que tem dinheiro e que o dinheiro se transforma num processo eletrónico. Isso vai fazer com que a literacia permita às pessoas estarem mais evoluídas e informadas. Mais cedo ou mais tarde começam a envolver os bancos e a aproximarem-se do sector financeiro.
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