ANGOLA GROWING
VASCO OLIVEIRA – CONSULTOR FINANCEIRO E SÓCIO DA DIGITAL BANKING

“Nunca me passaria pela cabeça, na Europa, não ter internet durante um segundo. Mesmo que arranquem cabos submarinos, deve haver redundância.”

13 Dec. 2023 Grande Entrevista

Consultor financeiro, conhecedor do mercado angolano, aponta a ineficiência nas comunicações como um dos grandes problemas. Vasco Oliveira sugere caminhos para que os bancos angolanos se adequem aos novos tempos da digitalização e lança alertas às instituições que só se limitam a seguir práticas tradicionais. No entanto, o sócio da Digital Banking defende a utilidade das notas para a realidade angolana. 

“Nunca me passaria pela cabeça, na Europa, não ter internet durante um segundo. Mesmo que arranquem cabos submarinos, deve haver redundância.”

Quais são os desafios que Angola enfrenta para a digitalização da banca?

Os serviços que temos cobrem toda a componente de digitalização do sector financeiro, a regulamentação existe em todos os países e ela é necessária para reduzir a fraude, o roubo, a corrupção e garantir que as instituições financeiras cumpram os seus objectivos a favor dos clientes. O desafio é fazer com que estas soluções digitais, que na verdade podem fazer quase tudo, estejam a cumprir a regulamentação, garantindo níveis de segurança, mas, por outro lado, aumentando os serviços aos clientes. Ou seja, se o cliente fica mais liberto e consegue interagir com o seu banco fica com a vida fica muito mais facilitada.


Este processo já está muito mais avançado em outras realidades. Nós ainda temos muitos desafios… 

A digitalização não tem única e exclusivamente que ver com a tecnologia. Tem que ver com processos. Se eu digitalizar um cartão de cidadão, ou passaporte, não serve para nada. É como se tirasse uma fotografia. O que preciso do passaporte são os dados, de quem é, o nome, idade, pai e mãe, onde é que nasceu. Isso é que é informação que está no passaporte. Quando digitalizo tem que se ter acesso a isso que é válido para qualquer informação. De nada me serve digitalizar o documento se no final existir uma cópia física, tenho uma folha impressa que não altera o documento. A digitalização é um processo. Ao se acabar com os documentos físicos, os dados são trabalhados. Consigo saber quem é a pessoa, onde está, onde trabalha, quanto ganha e quantos filhos tem. O banco pega nessa informação e consegue criar um produto específico com base nessas características, rendimentos e com base na sua capacidade no envolvimento no sector financeiro. Isso vai fazer com que o cliente se sinta muito mais seguro. Todos nós ficamos muito mais próximos do banco, não há tanta necessidade de comunicação com uma falha de papel, perdi o papel ou não há papel. Isso aumenta a segurança. São documentos, ou informação segura, e que vêm, por exemplo, de entidade patronal ou do Estado, no caso do bilhete, passaporte ou outro documento emitido pelo Estado. Portanto, aumenta a qualidade de informação, a segurança de informação e conseguimos trabalhar com essa informação e dar produtos muito mais seguros e muito mais versáteis. Se eu souber de um determinado ‘nicho’ da população, quais são as dificuldades e qual é o rendimento de que as pessoas precisam para superar essas necessidades, consigo criar produtos próprios, tudo de forma digitalizada sem quase o cliente ter de pedir uma pasta de papéis. 


Angola tem muitos desafios desde a literacia financeira, a informalidade da economia e o número considerável de cidadãos não bancarizados, que soluções?

Todos os países têm uma população não bancarizada, uns mais e outros menos. O Brasil, por exemplo, tem uma população muito maior, de 200 milhões de pessoas. Se calhar, 100 milhões não estão bancarizados ou acima disso. É preciso construir soluções financeiras para essas pessoas que não estão bancarizadas, como as “fintechs,” que são empresas financeiras e tecnológicas como ‘braços’ dos bancos. É possível o cliente não ser bancarizado e pagar os seus serviços em ‘cash’. Mesmo não tendo conta, consegue fazer alguns movimentos, transferências e transacções como se tivesse conta no banco. Isso faz com que, numa primeira fase, se sinta confortável porque é dinheiro, mas, ao longo do tempo, vai se habituando que tem dinheiro e que o dinheiro se transforma num processo eletrónico. Isso vai fazer com que a literacia permita às pessoas estarem mais evoluídas e informadas. Mais cedo ou mais tarde começam a envolver os bancos e a aproximarem-se do sector financeiro.

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