VOLKSWAGEN: DE UM PEQUENO AUTOMÓVEL AO GRUPO DE DIMENSÃO MUNDIAL

O carro-símbolo da ideologia nazi

21 Nov. 2016 Emídio Fernando Gestão

INDÚSTRIA AUTOMÓVEL. Foi Adolf Hitler, líder da Alemanha nazi, que impulsionou criação da Volkswagen. Ideia era ter automóvel ao lado da propaganda. Mesmo com derrota militar, marca é hoje das mais importantes no mundo. Tem mais de 600 mil empregados em dezenas de países e comprou 11 marcas que juntou ao seu ‘portfolio’.

Quando, ainda em 1933, Josef Ganz criou a marca Volkswagen (literalmente o ‘carro do povo’) estava longe de imaginar que também iria formar um dos maiores símbolos da propaganda nazi, que se baseava, entre outras premissas, pela superioridade da raça e pelo ódio aos judeus. A ideia de Josef Ganz era ter um carro simples e tão barato que chegasse ao preço de uma mota. Destacava-se ainda por ter o motor atrás e a bagageira, maior do que qualquer outro carro, à frente. Nascia um dos maiores símbolos da indústria automóvel. Este ‘carro do povo’ é conhecido por ‘carocha’, nos países lusófonos, ou ‘fusca’, no Brasil e ‘beetle’, nos países anglófonos.

O carro foi apresentado na feira do automóvel, em Berlim, em 1933, em plena ascensão do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, de Adolf Hitler. Logo ali, o líder alemão viu uma forma de aproveitar o carro para a propaganda, mas debateu-se com a primeira dificuldade: Josef Ganz era judeu. Nada que não fosse resolvido de uma forma simples: o criador do Volkswagen foi preso, a ideia foi transferida para os engenheiros nazis e o carro começou a ser construído pela tenebrosa Frente Alemã para o Trabalho. Para liderar o projecto foi escolhido um engenheiro que iria deixar uma marca na indústria: Ferdinand Porsche, já popular pelos motores de corrida que tinha inventado, e famoso por criar o modelo Porsche.

A Frente Alemã para o Trabalho (FAT) foi criada, em 1933, e funcionava como um ‘apêndice’ do partido nazi. Chegou a ter 25 milhões de filiados. Suprimiu os sindicatos e todos os trabalhadores eram obrigados a integrar a organização.

Em 1937, a FAT criava o primeiro Volkswagen, numa fábrica em Estugarda, já com as curvas e o formato que ainda hoje é popularizado pela publicidade, pelo cinema, por coleccionadores e pelo modelo mais recente, o Beetle. Na primeira série, mais de 336 mil pessoas aderiram – ou foram obrigadas a aderir – à sua compra. Começou assim a história de sucesso interrompida com o eclodir da guerra em 1939. A fábrica de automóveis, transformada numa pequena cidade de Wolfsburbo, passou a construir veículos militares, como jipes e o famoso tanque de guerra alemão.

Depois da guerra, como todas as instalações destruídas, o fabrico do Volkswagen foi retomado, sob a direcção de engenheiros britânicos, mas com a liderança dos EUA que passaram a controlar a região. O carro continuou a ser fabricado e teve no exército britânico o primeiro grande cliente: 20 mil em apenas um ano. Nos três primeiros anos, chegou a produzir mil carros por mês, aumentando a produção mensal nos anos seguintes.

De símbolo de um país fascista, a Volkswagen passava a ser o símbolo da Alemanha em recuperação económica, seguindo um modelo de gestão e uma estratégia desenhava pelo governo da, na altura, Alemanha Federal: produção em massa para deter o monopólio da indústria automóvel.

O ‘carocha’, designado por ‘Tipo 1’ na nova fábrica, chegou a atingir um milhão de veículos em 1954 e, em 1973, já tocava a fasquia dos 16 milhões, passando a ser o carro mais popular do mundo nas décadas de 1960 e 1970. O crescimento nas vendas foi feito sempre com uma publicidade criativa e arrojada e com a entrada no difícil mercado dos Estados Unidos.

A década de 1970, com as vendas anuais do ‘Tipo 1’ a superarem um milhão de veículos, ‘obrigou’ a empresa a criar mais modelos para acompanhar o crescimento da marca. O ‘Golf’ foi o modelo seguinte que veio ao encontro dos desejos das famílias da classe média, que pretendiam um carro com características mais luxuosas, mas também maior. O modelo que deu nome a marca deixou de ser fabricado em 1974, mas viria a ser retomado, com um formato ligeiramente alterado e mais sofisticado, em 2000.

A criação do ‘Golf’ aproximou a marca do padrão europeu e permitiu alcançar vendas recordes. Logo a seguir, lançou os carros de gama mais luxuosa como o Tuareg e o Passat.

Nas últimas quatro décadas, a Volkswagen adquiriu 11 marcas, entre elas, a Audi, Skoda, Lamborghini, Seat e Ducati. Integra a lista das 10 empresas mais lucrativas do último ano e é considerada a marca mais importante em todo o mundo. Transformou-se no Grupo Volkswagen, com mais de 600 mil funcionários em dezenas de países.