O efeito contágio da FRELIMO

08 May. 2024 V E Editorial

Assim como ocorre nas finanças e na economia e em outras áreas, os factos e fenómenos políticos acarretam muitas vezes probabilidade elevada do efeito contágio. No caso específico de África, abundam exemplos dignos de registo nestas quase duas décadas e meia do século 21. O mais significativo de todos, pelo seu simbolismo político, mas sobretudo pelo seu alcance geográfico e revolucionário, é a ‘Primavera Árabe’. Independentemente do mérito ou do descrédito dos resultados, a ‘Primavera Árabe’ produziu transformações que levaram a um certo remanejamento das relações, no contexto geoestratégico mundial. A instabilidade política e a influência nos fluxos migratórios, do Norte África e do Médio Oriente, transportam consequências até hoje incomensuráveis e que perdurarão no tempo e no espaço. Aliás, no auge dos protestos que levaram ao derrube de algumas ditaduras no Grande Magreb, não faltou quem calculasse que o poder em Angola tivesse tremido de um frio rijo e paralisante. É muito provável que esse cálculo fizesse todo o sentido, mas o contrário não deixa de ser verdadeiro. No campo da hipótese, é possível que muitos angolanos também tenham pensado que os sopros dos gritos do Magrebe não chegariam sequer perto das fronteiras angolanas.

 

O efeito contágio da FRELIMO

Sendo admissível qualquer das suposições no caso da primavera árabe, os termos de comparação mudam substancialmente se colocarmos em perspectiva
 
o que se passa agora com a FRELIMO, em Moçambique, face ao que poderá ocorrer com o MPLA. Angola e Moçambique partilham percursos históricos que, de tão parecidos, fazem dos dois quase irmãos siameses. A turbulência dos últimos processos de sucessão na liderança de ambos partidos- Estados elevou as semelhanças entre os dois países para próximo do metafísico. Em Angola, depois de estadistas como Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, o país foi entregue a João Lourenço que revela níveis de despreparo estarrecedores. Moçambique, depois do idealista-revolucionário Samora Machel, passando pelo estadista Joaquim Chissano e o moderado Armando Guebuza, viu-se entregue a um presidente que embaraçou o país todos os dias em que abriu a boca.

Pelos factos, até no descarrilamento progressivo dos níveis e da qualidade das liderança, Angola e Moçambique andaram de mãos dadas. Tal como João Lourenço, Filipe Nyusi andou a brincar aos países até à última hora, com a historieta da intenção do terceiro mandato. Desconversou tanto quanto pôde. Impediu o debate interno. Criou o nervosismo na sociedade. Instalou a imprevisibilidade política e adensou a desconfiança económica. Apenas no último minuto, sem pejo nem brio, entendeu dissimular que a conversa de mais um mandato não passou de pura especulação. Mas estas palavras só se tornaram possíveis ao confrontar-se com o que se revelou inevitável: a recusa expressa do seu partido em entrar em manobras que permitissem aturá-lo por mais cinco anos. E, somado a isso, a amarga derrota do seu candidato preferido nas ‘primárias’ do partido.

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