O efeito contágio da FRELIMO
Assim como ocorre nas finanças e na economia e em outras áreas, os factos e fenómenos políticos acarretam muitas vezes probabilidade elevada do efeito contágio. No caso específico de África, abundam exemplos dignos de registo nestas quase duas décadas e meia do século 21. O mais significativo de todos, pelo seu simbolismo político, mas sobretudo pelo seu alcance geográfico e revolucionário, é a ‘Primavera Árabe’. Independentemente do mérito ou do descrédito dos resultados, a ‘Primavera Árabe’ produziu transformações que levaram a um certo remanejamento das relações, no contexto geoestratégico mundial. A instabilidade política e a influência nos fluxos migratórios, do Norte África e do Médio Oriente, transportam consequências até hoje incomensuráveis e que perdurarão no tempo e no espaço. Aliás, no auge dos protestos que levaram ao derrube de algumas ditaduras no Grande Magreb, não faltou quem calculasse que o poder em Angola tivesse tremido de um frio rijo e paralisante. É muito provável que esse cálculo fizesse todo o sentido, mas o contrário não deixa de ser verdadeiro. No campo da hipótese, é possível que muitos angolanos também tenham pensado que os sopros dos gritos do Magrebe não chegariam sequer perto das fronteiras angolanas.
Sendo admissível qualquer das suposições no caso da primavera árabe, os termos de comparação mudam substancialmente se colocarmos em perspectiva
o que se passa agora com a FRELIMO, em Moçambique, face ao que poderá ocorrer com o MPLA. Angola e Moçambique partilham percursos históricos que, de tão parecidos, fazem dos dois quase irmãos siameses. A turbulência dos últimos processos de sucessão na liderança de ambos partidos- Estados elevou as semelhanças entre os dois países para próximo do metafísico. Em Angola, depois de estadistas como Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, o país foi entregue a João Lourenço que revela níveis de despreparo estarrecedores. Moçambique, depois do idealista-revolucionário Samora Machel, passando pelo estadista Joaquim Chissano e o moderado Armando Guebuza, viu-se entregue a um presidente que embaraçou o país todos os dias em que abriu a boca.
Pelos factos, até no descarrilamento progressivo dos níveis e da qualidade das liderança, Angola e Moçambique andaram de mãos dadas. Tal como João Lourenço, Filipe Nyusi andou a brincar aos países até à última hora, com a historieta da intenção do terceiro mandato. Desconversou tanto quanto pôde. Impediu o debate interno. Criou o nervosismo na sociedade. Instalou a imprevisibilidade política e adensou a desconfiança económica. Apenas no último minuto, sem pejo nem brio, entendeu dissimular que a conversa de mais um mandato não passou de pura especulação. Mas estas palavras só se tornaram possíveis ao confrontar-se com o que se revelou inevitável: a recusa expressa do seu partido em entrar em manobras que permitissem aturá-lo por mais cinco anos. E, somado a isso, a amarga derrota do seu candidato preferido nas ‘primárias’ do partido.
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