“O empresário chinês vem e não quer saber de política, só quer investir”
Um dos maiores investidores chineses em Angola aponta o roubo por parte dos trabalhadores e a instabilidade da moeda como os principais desafios dos empresários no país. E, em relação à situação cambial, sugere o uso da moeda chinesa nas trocas comerciais entre os dois países. Pelo meio, deixa um elogio à Polícia que, como refere, “melhorou” a relação com os empresários chineses, graças ao trabalho dos jornalistas.
Em 2021 concedeu uma entrevista ao Valor Económico e, na altura, o seu grupo empresarial era constituído por 18 empresas, empregando perto de duas mil pessoas. Continua com estes números, aumentou ou diminuiu?
Este ano arrancaremos com uma nova fábrica de água de mesa. Ou seja, o número de pessoas continua e há a possibilidade de aumentar. O sector comercial não está muito bom, devido à crise económica provocada pelas guerras, mas é uma situação que afecta o mundo. Aqui temos a situação cambial, está muito difícil, tem um forte impacto no salário. Hoje, as pessoas defendem o aumento do salário mas, mais do que defender o aumento, as pessoas precisam perceber o que se passa porque, antes, com este mesmo salário, as pessoas conseguiam ter uma vida normal. O problema é cambial. Angola depende muito da importação e qualquer alteração cambial tem um impacto muito forte. Como resolver este problema? Este, hoje, é o maior problema para os empresários. Para os chineses, por exemplo, a questão do crime melhorou muito. Nos últimos tempos, poucos chineses foram vítimas de crimes, muito poucos. Hoje, os empresários chineses consideram mesmo Angola entre os países mais seguros de África. Esta é uma boa condição para os chineses virem visitar Angola, mas o Ministério do Turismo não está a promover bem.
Diz que o comércio em Angola não está muito bom, mas muitos empresários chineses estão a investir em centros comerciais, sobretudo na Via Expressa…
Esta é também a minha pergunta, é uma preocupação. Penso que muitos desses shoppings não terão futuro, vão fechar. Muitos estão a inspirar-se no sucesso da Cidade da China. Estão todos a fazer, não estão a analisar quantos empresários já investiram neste negócio. Está errado, são muitos centros comerciais, por isso penso que alguns vão fechar.
Há quem tenha justificado estes investimentos com a dificuldade de investir em outras áreas, como em fábricas e pescas, por exemplo…
Não é isto. Angola precisa de muitas indústrias, aliás, um país é forte e seguro quando tem um sector industrial forte. O comércio permite as relações comerciais com outros países, mas o futuro de Angola passa pela indústria. Em Angola, há muito terreno, tem energia e a bom preço, o clima é muito bom.
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