O FACTO DE 2019
A Personalidade do Ano escolhida pela redacção do VALOR ECONÓMICO não é uma pessoa, muito menos uma instituição, é um imposto. Na avaliação dos jornalistas do VALOR, nenhum outro facto, nenhum outro evento, nenhuma outra decisão governamental ou privada teve impacto psicológico e material tão transversal na sociedade, neste ano que termina. A implementação do imposto sobre o valor acrescentado (IVA) mexeu com os grandes contribuintes e deu argumentos ao engraxador de sapatos para alterar os preços para cima.
O leitor provavelmente terá visto o vídeo icónico que correu pelas redes sociais em que um adolescente - engraxador de sapatos – explica ao incrédulo cliente o aumento do preço, com a justificação de que o Governo estaria a trabalhar mal, por causa do IVA.
Mas, entre outros efeitos, talvez seja mais simbólico o facto de o imposto ter levado o Presidente da República a ceder aos nervos publicamente. João Lourenço, apesar da agressividade característica do seu discurso, até então não se tinha confrontado com a necessidade de ‘dar um susto’ ao vivo a uma empresária por esta ter feito comentários que não o agradaram. O histórico “não gostei do Presidente”, ao responder às críticas da empresária Filomena de Oliveira à “surdez” da Administração Geral Tributária, vincou todo o nervosismo presidencial à volta da controversa introdução do IVA.
A escolha foi, portanto, óbvia, nos termos dos critérios abaixo, apesar de terem pontificado também os nomes do Presidente da República e do recém-eleito presidente da Unita, Adalberto Costa Júnior.
NOTA
O VALOR estreou-se, em 2016, com a publicação da ‘Personalidade do Ano’. Trata-se de uma edição especial de periodicidade anual em que é identificada uma pessoa, um grupo, uma instituição, uma ideia, um facto ou uma invenção que mais se tenha destacado ao longo do ano, em Angola. À semelhança dos exemplos da media internacionais, com destaque para a prestigiada ‘Time’, a ‘Personalidade do Ano’ não representa necessariamente uma distinção de mérito ou de qualidade, por feitos positivos. Através de critérios marcadamente objectivos, a ideia é apontar o indivíduo (como identificado acima) que, por razões diversas e que podem ser de cariz negativo, tenha marcado de forma diferenciada o ano. Os critérios são flexíveis e são ajustados, conforme o jornal o entender justificável. Nesta edição, constam dos critérios ‘a repercussão e a relevância política, económica e social’, além da ‘exposição mediática’.
Depois de Isabel dos Santos em 2016 e João Lourenço em 2017 e 2018, é a vez do IVA.
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