O FACTO DO SÉCULO
Mais uma vez, e pelo segundo ano consecutivo, a redacção do VALOR escolhe um facto, como o mais relevante, para a capa da sua edição especial de fim de ano. Seria, aliás, a escolha indiscutível para qualquer um que elegesse a ‘Personalidade do Ano’ com base no método e nos critérios do VALOR, como esclarecidos na nota abaixo.
A covid-19 não vai marcar um ano nem uma década, vai marcar um século. Sob todos os pontos de vista, vai marcar, em rigor, o resto da história da humanidade. Salvaguardas as diferenças de contextos e outras ou qualquer eventual surpresa desagradável futura, como o admite o magnata Bill Gates, a covid-19 está para o século XXI como a gripe espanhola está para o século XX. Uma pandemia que, não sendo tão letal quanto à do início do século passado, é aparentemente tão infecciosa quanto à outra: mais de 77,4 milhões de casos confirmados em quase toda a terra habitada, em menos de um ano, 16,7 mil dos quais em Angola. Não é para menos que o grosso das economias mundiais, incluindo as mais consolidadas, tenha registado recuos do produto só comparáveis aos verificados no período imediato à Segunda Grande Guerra, atingindo os dois dígitos. É o caso da Alemanha que assinalou uma queda histórica de 11,7% do produto no segundo trimestre do ano.
Neste quesito em particular, Angola não escaparia à regra e informações nunca confirmadas pelas autoridades chegaram a indicar que o produto do país teria recuado mais de 20% no segundo trimestre. Os números oficiais ficaram-se pelos 8,8%, ainda assim, suficientemente desastrosos para uma economia que já se arrasta de recessão em recessão há pelos menos quatro anos consecutivos.
NOTA
O VALOR estreou-se, em 2016, com a publicação da ‘Personalidade do Ano’. Trata-se de uma edição especial de periodicidade anual em que é identificada uma pessoa, um grupo, uma instituição, uma ideia, um evento, um facto ou uma invenção que mais se tenha destacado ao longo do ano, em Angola. À semelhança dos exemplos dos media internacionais, a ‘Personalidade do Ano’ não representa necessariamente uma distinção de mérito ou de qualidade, por feitos positivos. Através de critérios marcadamente objectivos, a ideia é apontar o indivíduo ou facto (como identificado acima) que, por razões diversas e que podem ser de cariz negativo, tenha marcado de forma diferenciada o ano. Os critérios são flexíveis e são ajustados, conforme o jornal o entender justificável. Entretanto, a repercussão e a relevância política, económica e social, além da exposição mediática, é permanente. Depois de Isabel dos Santos em 2016; João Lourenço em 2017 e 2018, e o IVA em 2019, desta vez é o novo coronavírus.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...