O generoso e despercebido Abril de Massano
Todos o ouvimos. Pouco depois de aterrar em Luanda, acabado de chegar da China, José de Lima Massano prometeu dias melhores a partir de Abril. Detalhou, em termos mais específicos, que os angolanos passariam a sentir os efeitos positivos decorrentes da deslocação de João Lourenço ao país mais importante da Ásia. Por razoabilidade, por ingenuidade ou por pura profissão de fé, certamente houve angolanos que lhe deram o benefício da dúvida. Não faltou quem tivesse visto nas palavras do ministro de Estado para a Coordenação Económica a ‘luz no fundo do túnel’. Mais concretamente no alívio do peso das médias empresas às quais o Estado não consegue pagar um centavo por meses incontáveis e, por arrasto, das micro e das pequenas empresas. Mais particularmente no aligeiramento do mercado cambial que corrói, sem apelo nem agravo, a capacidade de importação de bens essenciais para vários sectores da actividade económica. Mas, acima de tudo, na suavização do sofrimento dos angolanos de parcos rendimentos que todos os dias se confrontam com preços novos nas prateleiras dos supermercados, nas praças a céu aberto e nos armazéns de venda a grosso. O certo é que o Abril acabou esta terça-feira, 30, e não há quem tivesse visto concretizadas as promessas do ministro que saiu às três pancadas do Banco Nacional de Angola para coordenar a economia. José de Lima Massano até poderá ter-se referido a números e a dados que ainda não são de conhecimento público. Nada disso importa, entretanto, se vista a questão na perspectiva de como o ministro colocou a promessa e, sobretudo, na forma como foi percebida pelos angolanos.
Habituado a gerir bancos e não sendo propriamente um político a sério, a Massano pode ter escapado a lucidez de que as suas palavras não seriam recebidas como estatísticas para encher relatórios. Pelo contrário, a generalidade da população, incluindo uma certa classe de empresários, poderá ter guardado as promessas do ministro com alguma ansiedade. Como qualquer boa nova que produziria alguma alteração neste quadro de degradação que lançou para a indigência total os que já nada tinham e que reduziu drasticamente a qualidade de vida dos que pouco tinham. Alguma mudança que fosse prática, tangível e visível. Porque Massano não se referia certamente aos 30 mil kwanzas acrescidos aos salários da função pública e que acabam engolidos pelo esperado aumento generalizado dos preços, fruto da subida do litro do gasóleo. Não, isto não era o alívio ‘massiánico’ de Abril esperado. O ministro de Estado deveria, por isso, assumir a responsabilidade e explicar aos angolanos o que aconteceu para que a prometida ‘generosidade’ de Abril passasse despercebida. É o mínimo que a decência o obriga a fazer. Que o faça ele ou que dê a missão à ministra das Finanças que, apesar de tudo, não se comprometeu com nada.
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