“O Governo não está a fazer um investimento suficiente na melhoria das capacidades dos empresários angolanos”
É de opinião que, para a agricultura ser a base de desenvolvimento, tem de se desenvolver actividade económica nos municípios, e capacitar os empresários angolanos não somente com dinheiro, mas com conhecimento. Fernando Pacheco, engenheiro agrónomo aponta que o sector agrícola não avança porque no país não se adequa o discurso à prática desde os primeiros tempos da independência.
Há 50 anos que se fala sobre o desenvolvimento da agricultura, inclusive, era muito referenciado por Agostinho Neto, que dizia que é a base. Afinal, onde é que está a falha para a falta de crescimento do sector?
Os problemas começam porque no nosso país existe uma prática sistemática, desde os primeiros tempos da independência, de não adequar a prática ao discurso. Ou seja, fazemos bons discursos, mas depois temos muita dificuldade de implementar aquilo que é dito. Quando se diz que a agricultura é a base do nosso desenvolvimento, deve haver um esforço no sentido de se desenvolverem acções que permitam que a agricultura se desenvolva adequadamente para depois permitir o desenvolvimento de outros sectores. O que temos vindo a assistir é que a agricultura é tratada de uma forma pouco holística. Ou se pensa nos fertilizantes ou nas sementes, e assim não pode ser. Temos de pensar a agricultura como o resultado do desenvolvimento de um conjunto de factores que contribuem todos para o mesmo fim.
O que quer dizer?
Quero dizer que não adianta, por exemplo, importar mil tratores se depois não tiver combustível. Não adianta importar 150 mil toneladas de fertilizantes se depois não tiver transporte. São estas as questões que têm que ser bem analisadas. O esforço para se desenvolver a agricultura não pode ser com fogachos, tem que ser com acções permanentes, concretas, visando determinados objectivos. Ora, isto tem faltado desde a independência até hoje. Continuamos a falar da agricultura aos fogachos. Quando está na moda falar de terras, falamos de terras. Depois passa a moda das terras, vamos falar de um outro factor de produção. E assim sucessivamente. Assim não dá. É isto que tem acontecido.
Foi, por exemplo, do departamento de política agrária do MPLA, conselheiro do Presidente, e é bastante interventivo. Não é ouvido?
Eu fui director do Departamento de Política Agrária num período em que, na minha opinião, o sector agrícola esteve mais organizado, mais estruturado para responder aos problemas. E não estou a dizer isso para chamar o mérito para mim. Nesse período em que eu fui director do Departamento de Política Agrária, o Ministério da Agricultura tinha uma direcção que fez reformas extremamente interessantes, que depois não tiveram seguimento. Por exemplo, no domínio da pecuária, nessa altura foi criada uma estrutura que se chamava Gabinete de Pecuária do Sul de Angola, que tinha enormes condições para o aumento da produção de carne bovina. Acontece que passado uns tempos este gabinete foi extinto e voltámos outra vez à estaca zero. De qualquer dos modos, nesse período em que eu fui director do Departamento de Política Agrária, também foi o período em que a guerra teve o maior desenvolvimento. Estou a falar do período entre 1986 e 1990. Todos nós sabemos que foi nesse período que a guerra se generalizou, praticamente, a todo o país e tornou-se extremamente difícil desenvolver as acções. Naquela altura criaram-se o Instituto de Desenvolvimento Agrário e as Estações de Desenvolvimento Agrário, que são as EDAS. Foi nesse período também que se acabou com as empresas estatais de produção.
Para ler o artigo completo no Jornal em PDF, faça já a sua assinatura, clicando em 'Assine já' no canto superior direito deste site.








“Ainda somos uma economia com uma estrutura muito rígida em novos sectores,...