Manutenção e gestão predial nas centralidades

O negócio inspirado pelo Kilamba

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. Mais de sete mil técnicos e oito mil médias e pequenas empresas foram reunidos numa associação que trata dos problemas do dia-a-dia. Projecto nasceu após a desistência da empresa, principal responsável pela construção das centralidades.

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Tudo começou quando a empresa ‘Citic Group Corporation’, responsável pela construção da centralidade, deixou de se ocupar da gestão e manutenção do Kilamba. Três jovens viram como uma “grande oportunidade” a dificuldade que os moradores passaram a ter para resolver não apenas os problemas dos respectivos apartamentos, mas também da comunidade, como, por exemplo, as avarias nos semáforos e nos postes de transformação (PT), ou ainda o tratamento dos jardins.

Francisco Chaves, Sebastião Kiala e Arlete Ngola fundaram a Associação Nacional das Empresas de Manutenção Predial (ANEMP), em Agosto de 2015, com o objectivo de dar seminários e formação sobre manutenção e gestão predial em todas as centralidades do país.

Em seguida, criaram, dentro da associação, a Cooperativa Angolana de Gestão e Manutenção Predial (CAGEMP), no Kilamba, “para dar resposta aos serviços pretendidos pelos moradores”.

A CAGEMP, sob a alçada da ANEMP, foi resolvendo os problemas de iluminação pública do Kilamba. A cooperativa empreendeu campanhas de desinfestação por toda a centralidade, reparou ‘PT’, programou semáforos, sem ter recebido o pagamento imediato da parte da administração. Hoje 84% dos semáforos funcionam com normalidade, segundo cálculos da cooperativa. As avenidas que estavam às escuras foram também requalificadas de 2015 a 2017.

Francisco Chaves, especialista em manutenção predial e presidente da ANEMP, explica que “a associação promove a cultura da manutenção predial, porque constatou que os edifícios antigos da capital e do país inteiro foram construídos, mas não obedecem a regras da manutenção predial”.

Em relação à articulação dos trabalhos entre a cooperativa e a associação, Chaves explica: “quando o morador apresenta um problema de reparação ou manutenção de algum meio, a ANEMP indica a cooperativa, porque a ela cabe a prestação do serviço técnico, sendo que a associação funciona como moderadora entre moradores e técnicos”.Ou seja, “a ANEMP exerce o papel da moralização e a cooperativa executa os trabalhos”. É essa divisão de tarefas que determinou que a cooperativa ficasse com a responsabilidade da facturação.

“A ANEMP não cobra dinheiro para fazer os serviços, mas os moradores pagam à cooperativa uma taxa bonificada que varia de acordo com os serviços prestados”, explica o seu presidente. A coordenação do trabalho facilitou o aumento da solicitação dos serviços. E, para dar resposta à demanda, a associação já trabalha na criação de um ‘call center’ “para dar suporte aos moradores de modo a evitar que estes se desloquem só para apresentarem os seus problemas”. ‘

MAIS BARATO’

Uma das razões do sucesso da cooperativa está na competitividade dos preços, como indicam os seus responsáveis que recorrem a comparações, face ao mercado. Pelos cálculos da ANEMP, qualquer operador profissional cobrará, em termos médios, entre dois mil e quatro mil kwanzas para trocar uma lâmpada. “Na cooperativa, o morador gasta apenas entre 25 e 30% desse valor, porque a ANEMP, que dá o suporte à cooperativa, recebe materiais de construção da parte de fornecedores associados, a um preço acessível”, detalha Chaves.

As comparações sucedem-se. Para a manutenção de ar condicionado no mercado formal e informal, o morador do Kilamba gastará entre sete mil e oito mil kwanzas; na cooperativa, esse custo baixa para os 2.700 kwanzas. “A vantagem da cooperativa é que ela já comporta todos os serviços”, insiste Francisco Chaves, que menciona a refrigeração, a electricidade predial, a manutenção de ar condicionado, a jardinagem e a serralharia entre os vários serviços que podem oferecer a clientes, além da pintura, canalização, caixilharia, limpeza e manutenção de elevadores.

MAIS OPORTUNIDADE

Para os jardineiros que faziam trabalhos individuais no Kilamba,a cooperativa “passou a ser uma mais-valia”. “Antes trabalhavam para patrões, mas, quando ficassem doentes, perdiam o emprego porque o chefe o substituía por outro técnico”, conta Francisco Chaves.

Em relação a salários, o jardineiro, com 35 mil kwanzas por mês, recebe menos 10 mil do que o técnico de frio. Para os demais técnicos, os rendimentos variam consoante a categoria, que é definida mediante um teste de aferição da qualificação profissional. Para já, a cooperativa actua também nas centralidades do Sequele e da Vida Pacífica, além prestar serviços a condomínios e a clínicas. A ANEMP tem 7.440 técnicos, 770 médias empresas e 1.430 micro empresas que, por conselho da associação, acabaram por constituir pequenos negócios e pagam uma taxa anual de 1.240 kwanzas. Os associados individuais e as médias empresas contribuem anualmente com 2.240 kwanzas.