O POLÍTICO MASSANO
José de Lima Massano não está, seguramente, numa situação fácil. O governador do BNA ultrapassou uma certa fronteira que, por princípio ou por decoro, limita as intervenções públicas de qualquer regulador de mercados a um espaço mais técnico do que político. Com as críticas dirigidas à banca na última semana, pela forma e pelo conteúdo, Massano juntou-se formalmente ao Executivo. E passou a integrar a lista informal de ministros que histórica e habitualmente, sem qualquer sentido autocrítico, bate na banca como a grande culpada pelo encolhimento do sector privado. No fundo, puxou da cartola o político Massano. E uma das frases a que fez recurso não poderia ser mais confirmativa e enfática: “Não queremos ter um sistema financeiro desligado da realidade da nossa economia”. Uma precisão, desde logo, impõe-se. No contexto em que proferiu essas palavras, a referência ao sistema financeiro está despropositadamente elástica, porque o alvo era concreto: o sector bancário. E mais particularmente todos ou alguns dos grandes bancos.
Mas, além do realismo da conjuntura económica, as críticas de Massano à banca são também problemáticas no sentido em que levantam desassossegos que lhe tocam de forma íntima. O governador do BNA, não sendo dos mais antigos, é dos mais experimentados e qualificados banqueiros do país. Esteve duas vezes à frente do BAI, de onde saiu interpoladamente para liderar o BNA. Poucos saberão, portanto, como ele o quanto a actual conjuntura eleva o risco de crédito a níveis indecifráveis. Precisamente, por isso, Massano sabe que o seu lado de banqueiro torceu o nariz quando ouviu o seu lado de governador do BNA. Ou melhor, o seu lado de político. Seguramente, não é um conflito fácil de gerir e os seus colegas grandes banqueiros só lhe podem oferecer compreensão. …
Ao lado do desassossego íntimo, a conjuntura económica também faz da pressão de Massano à banca um problema. E os números oficiais compilados pelo próprio BNA são inequívocos. O relatório de estabilidade financeira do BNA, que reporta o primeiro semestre de 2019, nota que o malparado aumentou, em termos homólogos, 51,73% para os 1,53 biliões de kwanzas. E o rácio do crédito vencido sobre o crédito total superou a fasquia dos 35%, mais de um terço. E mais: as empresas privadas reclamavam 87,6% do total do malparado. Números que, na melhor das hipóteses, se terão mantido nos semestres subsequentes, face à deterioração do já fragilizado contexto económico, em 2020.
E porque não parece que o objectivo seja a criação de novos BPCs e BCIs, como alerta em ‘off’ um grande banqueiro, o BNA tem de encontrar caminhos mais realistas para forçar o crédito. Mas, para isso, é preciso que o político Massano não se substitua ao governador do BNA.
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