EDUARDO CHISSUPA, TURISMÓLOGO E CONSULTOR GASTRONÓMICO

“O preço simbólico dos museus fica para nós, o turista já pode pagar muito bem”

TURISMO. Defende que Angola tem um grande potencial turístico, precisando agora de soluções práticas para a sua rentabilização. Turismólogo e consultor gastronómico, Eduardo Chissupa perspectiva que “o turismo doméstico vai ganhar muita força” nos próximos cinco anos.

“O preço simbólico dos museus fica para nós, o turista já pode pagar muito bem”

O que tem faltado para que o turismo tenha um contributo efectivo na diversificação da economia? 

O nosso país tem um potencial turístico no que diz respeito à fauna, à cultura e às paisagens. Acho que soluções práticas agora passariam por rentabilizar os nossos museus, assim como os outros fazem. Recentemente, tivemos uma visita de um cruzeiro que trouxe mais de mil pessoas, acho que são essas oportunidades relâmpago que devemos aproveitar. Aquele preço simbólico dos museus que temos actualmente fica para nós, mas o turista já pode pagar muito bem por pessoa, pelo acervo, pela história por detrás dessas infra-estruturas. Estamos a falar de 20, 15 euros, que seriam 15 mil kwanzas no final do dia, que cada turista pagaria. Um cruzeiro com mais de mil, faríamos um bom dinheiro e assim sucessivamente. 


Muitas vozes associam a existência de um novo aeroporto à possibilidade de aumento de turistas em Angola. Faz sentido?

Há uma conexão, porém não é automática. Ela precisa de ser preparada. Ou seja, o aeroporto vai dar uma percepção de moderno, de mais seguro, com uma maior capacidade. Mas e depois? É só uma porta, o aeroporto é só uma porta. Precisamos preparar a casa, que é o nosso conteúdo. Quais são as atracções ao redor do aeroporto? E não só, o que temos para o potencial visitante? E outro, os preços competitivos. Estamos a falar de um passageiro que vem da Europa, da Ásia, que conhece muito bem os preços. Vai chegar aqui e assusta-se com uma renda diária com um preço muito alto, em comparação a países mais desenvolvidos. Temos de fazer um jogo no que diz respeito aos preços que vamos praticar ao visitante transitário. 


Como perspectiva o turismo em Angola nos próximos cinco anos?

Nos próximos cinco, olho para os angolanos a desfrutar mais do turismo doméstico. Vamos visitar mais o nosso país várias vezes. Já há províncias com maior destaque, Benguela, Namibe, Huíla, entre outras. O turismo cultural vai despertando também mais a curiosidade dos nossos visitantes, o turismo de sol e praia, que é já o nosso ponto forte e o turismo de aventura que também vai ganhando espaço cada vez mais. Vamos precisar de conhecer mais grutas, vamos precisar fazer mais aventuras por aí e conhecendo um pouco do nosso país. 


De que maneira a gastronomia angolana pode ser utilizada como uma ferramenta de atracção turística e quais ‘ingredientes’ seriam essenciais para essa possível estratégia?

O primeiro ponto é a inserção e a normalização das nossas ofertas já nos nossos cardápios, nos nossos restaurantes. A muamba, o calulu, o funje e o mufete já não podem ficar de parte. Não podemos estar a consumir isso só em casa. Temos de ter os profissionais capacitados para venderem esse tipo de pratos diariamente aos turistas. É assim, o turista é muito curioso. Quando lhe for dito de onde vem, que o prato que come tem uma história por se contar, a experiência dele torna-se muito mais agradável e impactante. Não vou citar os ingredientes, porque são muitos, que eu também agora vou conhecendo. Há muita coisa que não conhecemos e, por trás desses pratos, há sempre uma história. Desde as bebidas que temos hoje, os pratos que temos em casa, já precisam ser seleccionados quatro ou cinco para estarem no restaurante. Começamos com essas soluções práticas e já vamos andando. 

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