O valor económico do poder feminino
MULHERES. As empresas geridas por mulheres têm tido mais lucros. Noutros casos, têm menos propensão para as falências. Quem o afirma são pesquisas elaboradas por especialistas, em todo o mundo.
Em 2015, a Bolsa de Valores francesa registou quedas sucessivas, mas houve uma única excepção entre as grandes empresas que compõem o índice das 40 mais da CAC: a Hermés. O grupo destaca-se também por ser o segundo com mais mulheres no topo da sua gestão, no caso, mais de metade (55%). O valor das acções aumentou em 16% e, mesmo com variáveis, esse crescimento tem sido constante.
No ano passado, na lista de quedas, as mais ‘suaves’ foram precisamente aquelas em que se regista um maior número de presença feminina nos lugares de topo: a Sanofi tem 44,8% de gestoras, as acções desvalorizaram apenas 27,3%; e a Danone, com 38% de gestão feminina, teve uma queda inferior a 42%. No lado contrário, foram as empresas com maior número de homens nas administrações que registaram as maiores quedas. Exemplos disso são a Alcatel-Lucent, com apenas 8,6% de gestoras, caiu 69,3% e a Renault, com 21,7% de gestoras, tombou 81,3%.
Estes dados ajudam a sustentar o estudo elaborado pelo Peterson Institute for International Economics e pela consultora Ernest&Young (EY). A pesquisa conclui que uma administração com cerca de 30% de mulheres a liderar pode aumentar mais os lucros, em média de seis pontos percentuais, do que as que têm unicamente homens.
O estudo analisou 21.980 empresas em 91 países, destacando que cerca de 60% das empresas analisadas não tem qualquer mulher no topo da direcção e apenas 5% por cento tem uma mulher como a máxima responsável.
Já o ano passado, outra consultora, a McKinsey, divulgou um estudo que concluiu pela “excelência organizacional” de empresas na Europa, América do Norte e Ásia em que avaliou nove critérios de gestão. Os analistas da McKinsey concluíram que as empresas, com três ou mais mulheres na gestão, tiveram resultados mais altos, em média, do que as administrações que não tinham mulheres.
Um outro estudo, no Reino Unido, elaborado em 2014 por uma organização não-governamental internacional que apoia e incentiva a liderança feminina, Catalyst, analisou mais de 900 mil empresas de sociedade limitada. Constatou que as empresas com mulheres executivas tiveram um risco menor de falência.
Os investidores tentam encontrar explicações para este sucesso feminino. “Criam um ambiente de trabalho mais inclusivo, respeitam as condições da paternidade e maternidade e estão mais disponíveis para fazer investimentos em novos mercados”, sublinha a análise da EY.
No entanto, o papel das mulheres em altos cargos ainda está longe de atingir esses patamares. Nem a média mundial, mesmo juntando a participação feminina em cargos de relevo na política, chega aos 30%. Não ultrapassa os 25%, sendo que no México apenas 4% se destaca, enquanto na Noruega esse número dispara para os 40%. Contudo, este país aplica a lei que obriga as empresas a terem quotas de mulheres, tanto funcionárias como membros das administrações. As finanças, saúde e telecomunicações são as áreas com mais mulheres no topo. As mais masculinas são as das matérias-primas, tecnologia, energia e indústria.
Uma previsão do Fórum Económico Mundial aponta que o mundo poderá atingir a paridade (entenda-se, em média) entre homens e mulheres, no trabalho, apenas em 2095. A previsão é baseada na realidade actual. O Japão, um dos países mais industrializados e que domina o mercado das tecnologias, alberga das maiores empresas mundiais. Mas o peso da mulher na liderança é reduzido, apesar de se desviar ligeiramente da média mundial: 27%. Na Rússia, todas as grandes empresas têm, pelo menos, uma mulher na administração.
Os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, elaborados no seio das Nações Unidas e que Angola é signatária, prevêem a inclusão de mais mulheres no trabalho e nas empresas, incluindo em lugares de chefia, como uma das prioridades a ser atingida até 2030.
Curiosamente, as 10 mulheres mais ricas do mundo, de acordo com o ‘ranking’ da revista Forbes deste ano, não criaram fortunas: gerem apenas heranças de família ou dos maridos.
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