Obras do BRT avaliadas em mais de 200 milhões USD paralisadas há um ano
TRANSPORTES. Desde o primeiro trimestre do ano passado que as obras do sistema de Trânsito Rápido por Autocarros, BRT, estão paralisadas e sem data para retomarem. A empreitada estava a cargo da construtora Odebrecht, implicada num mega-processo de corrupção no Brasil.
As obras do novo sistema de Trânsito Rápido de Autocarros, tecnicamente conhecido por BRT (sigla inglesa de ‘Bus Rapid Transit’), estão paralisadas, desde o primeiro trimestre do ano passado, segundo constatou o VALOR na zona entre o estádio 11 de Novembro e o ‘Campus’ Universitário até à Estalagem, em Luanda.
A previsão inicial da direcção do Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários apontava 2013 como a data para o arranque da fase experimental. No entanto, as obras só começaram em Outubro de 2014, prevendo-se, na altura, que o sistema estivesse em funcionamento em 2017.
O projecto BRT está previsto ter 240 autocarros, entre articulados, bi-articulados, 24 paragens numa via exclusiva de 53 quilómetros de extensão, divididos em dois corredores. O primeiro liga a Estalagem ao estádio 11 de Novembro e o segundo a Avenida Deolinda Rodrigues ao estádio 11 de Novembro, com previsão para transportar 200 mil passageiros por dia.
As obras estão a cargo da construtora brasileira Odebrecht e a fiscalização é da responsabilidade da DAR Angola. A Odebrecht foi contratada, segundo um despacho presidencial, por 202 milhões de dólares enquanto a empresa fiscalizadora, por 14,1 milhões de dólares.
Fonte do Ministério da Construção respondeu ao VALOR que não há nenhuma informação concreta sobre a previsão para a retomada das obras, financiadas por uma linha de crédito do Brasil. “Não há nenhuma informação clara de quando as obras poderão ser retomadas ou se as coisas se vão alterar ou melhorar”, referiu, indicando que “os projectos estão a ser resolvidos junto das mais altas estruturas do país e o Ministério não está em condições de fazer comentários sobre o assunto”.
O VALOR contactou também a directora do Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários, Noélia Costa, que garantiu que o Ministério da Construção ainda não oficializou quando vão retomar as obras e que não podia pronunciar-se sobre o assunto. “Enquanto não há pronunciamento de quem tutela, o Instituto não pode pronunciar-se se os BRT vão poder arrancar este ano ou não”, referiu, tendo assegurado ainda que os protótipos dos carros do BRT já estão prontos.
A Odebrecht está envolvida num processo de investigação levada a cabo pela Polícia Federal do Brasil, denominada ‘Operação Lava Jato’, e considerada a maior investigação de corrupção na história do Brasil, que já resultou na prisão do presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, em 2016.
Aprovado em Conselho de Ministros em 2012, o novo modelo de transportes rápidos de Luanda prevê resolver o problema da mobilidade da capital e o aprimoramento da oferta de transportes de passageiros.
Durante um seminário de apresentação do projecto, em 2015, o ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, referiu, citado pela Angop, que o sistema BRT de Luanda será integrado aos sistemas de transporte ferroviário, marítimo, e inserido na actual rede de transportes.
O ministro afirmou, na altura, que “o acesso através de modernas estações permitirá o embarque e desembarque de maneira rápida e eficiente dos utentes”. O governante assegurou que as estações seriam “dotadas de sistemas de comunicação e informação visual e sonora com os utilizadores, e, juntamente com as vias e veículos, estarão monitorizados por uma central de controlo operacional, capaz de intervir na operação em tempo real e assegurar a qualidade de serviços”.
As obras do projecto BRT obrigaram a demolições de casas no bairro da Sapu e o realojamento de cerca de sete mil famílias que se encontravam no espaço previsto para um dos corredores. Durante o processo, alguns moradores foram realojados no Zango.
O sistema de Transporte Rápido de Autocarros vigora em muitas cidades, como Curitiba e Paraná, no Brasil, ou Bogotá, na Colômbia. O primeiro foi inaugurado em 1974, em Curitiba, e inspirou muitos sistemas pelo mundo.
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