EMPRESA JÁ FOI A MAIOR EMPREGADORA NO PAÍS

Odebrecht: do sucesso ao colapso

IMPÉRIO. Empresa despediu, nos últimos meses, centenas de colaboradores. E a venda da participação no projecto diamantifero de Catoca aumentou o sentimento de instabilidade no seio dos que continuam.

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O recente anúncio da venda da partcipação (16,4%) da Odebrecht no projecto diamantifero de Catoca aumentou o sentimento de instabilidade laboral no seio dos colaboradores da empresa devido à onda de despedimento que se regista nos últimos meses.

“Todos os meses são dispensados centenas de quadros nacionais e engenheiros, administradores e técnicos de base em todas as obras e também no escritório central em Talatona. As dispensas, este ano já somam mais de dois mil funcionários mandados para casa, 90% dos quais são nacionais” confidenciou-nos uma fonte dos recursos humanos da empresa.

Uma realidade que deixa para o passado o título de maior e um dos mais estaveis empregadores do país que durante anos ostentou. Chegou a ter cerca de 25 mil empregos entre directos e subcontratados. Em 2015, entretanto, já tinha registado, entretanto, uma diminuição para quase metade da força de trabalho para 14.817 funcionários, 10.835 dos quais directos e perto de quatro mil subcontratados.

A Odebrecht destacava-se ainda entre as empresas que apostavam na formação dos colaboradores, bem como que proporcionavam estágios e o primeiro emprego a recém-licenciados. Entretanto, grande parte destes jovens perdeu o emprego.

“Os jovens saídos das universidades pelos programas ‘Jovem Parceiro’, ‘Prémio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável’, ‘Estágio Alternativo’, etc, que participaram de formações internas e beberam da TEO (Tecnologia Empresarial Odebrecht), para poderem assumir cargos estratégicos, foram despedidos”, revela a fonte. Em razão dos despedimentos está a falta de obras, motivada não apenas pela diminuição de empreitadas no país devido à crise actual, mas também pela perda de poder por parte da empresa brasileira para conseguir novos contratos e, inclusive, em manter alguns em curso, no seguimento do escândalo da ‘Lava Jato’.

No mês passado, por exemplo, o Executivo rescindiu com a empresa um contrato avaliado em cerca de 143,3 milhões de dólares que consistia na execução da segunda fase da marginal entre a praia do Bispo e a Corimba, empreitada que passou para a chinesa o grupo China Railway 20 (CR20).

O VALOR apurou que a empresa também tem tido saldo negativo na tentativa de reaver contratos de limpeza e saneamento da cidade de Luanda, que também já foi uma das suas frentes.

Neste momento, o principal empregador do grupo é o Projecto Hidroeléctrico de Laúca que, entretanto, está em fase de desmobilização devido à conclusão do projecto. À luz do Despacho Presidencial n.º 179/17, publicado em Diário da República nº 114, esta força de trabalho, entretanto, poderá ser transfererida para outros projectos hidroeléctricos em cursos no país.

A Biocom é o outro grande projecto em que a empresa está envolvida, mas, segundo apurou o VE, “trabalha sem qualquer intervenção directa da Odebrecht por determinação dos accionistas nacionais (Cochan, S.A., e a Sonangol Holdings, Lda., com participações, respectivamente, 40% e 20%)”.

A situação da empresa contraria a crença manifestada pela direcção da Odebrecht Angola, depois da detenção, em Junho de 2015, do seu patrono, Marcelo Odebrecht, no âmbito da operação ‘Lava Jato’. O responsaveis da empresa no país acreditavam que a situação não afectaria o desempenho da empresa.

No seio dos trabalhadores, porém, é dominante o sentimento, de que este cenário de perda de fôlego é resultante das declarações de Marcelo Odebrech, na delação premiada em que expôs alegados esquemas de corrupção, envolvendo figuras angolanas.

Certo é que, após as declarações, a direcção da multinacional desdobrou-se em contactos no sentido de assegurar a continuidade no país, como escreveu, na ocasião, a imprensa brasileira.

“A preocupação do grupo é que, após essa divulgação, as autoridades em Angola possam colocar obstáculos e prejudicar os negócios da empresa”, escreveu, por exemplo, o Folha de São Paulo, na sequência da divulgação das declarações em Abril do ano em curso. Manter os negócios em Angola era fundamental, considerando o facto de a empresa estar a ser sansionada em grande parte dos países em que opera, sobretudo os latinos.

A Odebrecht actua há mais de 30 anos em Angola nos ramos da construção civil, energia, água, transporte, e habitação, além de investimentos no sector de mineração, varejo e agronegócio.

Alrosa e Endiama repartem participação

A Endiama (detentora de 32,8%), segundo o anúncio oficial, fica com os 16,4% que a Odebrecht detinha na Sociedade Mineira de Catoca, mas vozes do sector indicam que a parcela será repartida em partes iguais com os russos da Alrosa (32,8%).

A leitura é suportada pelo discurso do presidente da Alrosa, Sergey Ivanov, durante a assembleia-geral da empresa, realizada recentemente. Na ocasião, adiantou que a Alrosa pretende aumentar a sua participação até 41%, o que significa que tenciona comprar 8,2%, ou seja, metade da então participação da Odebrecht.

Já os chineses, da LLI, controlam 18% da sociedade que explora a quarta maior mina de diamantes a céu aberto do mundo. Em actividade deste 1997, Catoca é responsavel por cerca de 75% da produção diamantifera do país, estimada em cerca de nove milhões de quilates por ano.

Novo contrato, Novo fôlego

A 1 de Agosto, o Governo aprovou a assinatura de um novo contrato com a empresa, encarado no seio da direcção da Odebrecht Angola como exemplo de que a actual situação da empresa “resulta apenas da conjuntura económica do país e nada mais”. O comentário é de um membro da direcção que, entretanto, se recusou a comentar o assunto de forma oficial.

Em despacho com o n.º 214/17, o Presidente da República autoriza a celebração do contrato, avaliado em 993,4 milhões de dólares entre a Empresa de Produção de Electricidade –PRODEL e a Odebrecht para a operação e manutenção das Centrais Hidroeléctricas de Cambambe, Capanda, Laúca e a Modernização de Capanda.

Segundo o despacho, “a operação visa proporcionar maior segurança e estabilidade na produção e fornecimento de energia eléctrica, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento económico e social do país”.