OGE com blocos que podem falhar produção
ANÁLISE. Executivo perspectiva crescimento do PIB de 1,8%, mas as previsões do sector petrolífero levantam interrogações sobre o alcance da meta. Estão inscritos Blocos que, em princípio, podem não produzir em 2020.
“bastante optimista” o crescimento de 1,5% previsto para o sector petrolífero no Orçamento Geral do Estado de 2020, que inscreve a entrada em produção de novos blocos e o reinício de outros.
O alerta é de vários analistas que, entre outras matérias, chamam a atenção para o facto de alguns desses blocos poderem gerar resultados apenas dentro de dois a três anos.
O investigador do Centro de Estudos e Investigação (Ceic) da Universidade Católica José Oliveira acredita que, em termos de produção, no limite, se vai conseguir cobrir a queda natural da produção “o que já seria bom”, mas “crescer?!”, questiona. “É difícil entender onde foram buscar estas previsões. Parece bastante optimista”, acresce.
Segundo a proposta do OGE para 2020, o crescimento previsto passa pela “execução dos programas de manutenção e inspecção visando a eficiência operacional acima dos 95%” e ainda pelo reinício de produção dos campos raia, bagre e albacore no Bloco 02/5.
Está também prevista a entrada em produção do campo Agogo, fase 1, no Bloco 15/6 com uma produção média anual de oito mil barris/dia, assim como do projecto Gimboa Noroeste no Bloco 4/05 com uma produção de quatro mil barris/dia.
No global, o Executivo perspectiva uma produção média diária de 1.436,9 (1.536,7 com os condensados) e um preço médio de 50,9 dólares por barril. José Oliveira considera “difícil” alcançar-se qualquer um dos indicadores. “Em relação à produção, pode contar com o Bloco 32 que não trabalha desde Janeiro, mas as novas produções não conseguem sequer cobrir as perdas que se estão a registar este ano que são bastante elevadas”, verifica.
Quem também considera “bastante optimista” a previsão do Executivo é Pedro Godinho. Em relação aos blocos inscritos no OGE para garantirem aumento da produção, salienta que estes “são para ter resultados dentro de dois a três anos e mesmo assim não é para garantir o crescimento do sector, mas essencialmente para manter”.
Entretanto, fonte da Agência Nacional de Petróleo e Gás afima que a produção inscrita está dentro da previsão. “Este ano, a produção será de cerca de 1,4 milhões de barris/dia e, para o próximo, com 1.5% de crescimento, estaríamos no 1.421.000. É previsão, não algo exacto”, sublinhou.
Poço deu em seco
O projecto Gimbo, no Bloco 4/05, que está inscrito com uma previsão de quatro mil barris/dia pode iniciar a produção apenas em 2022, visto que o primeiro poço feito deu ‘em seco’, significando que o grupo empreiteiro terá de preparar as condições para um segundo poço. “Até mobilizar as sondas e preparar as operações, a produção só pode ter impacto no orçamento de 2022”, estimou Pedro Godinho, calculando em cerca de 40 milhões de dólares o investimento “torrado” na primeira tentativa.
Petróleo em queda
Por outro lado, Pedro Godinho estima que o petróleo “não terá muito para dar nos próximos dois anos”, justificando-se com a mudança de paradigma no mercado petrolífero mundial.
Lembra que, este ano, aconteceram incidentes e conflitos que, no passado, teriam impactado consideravelmente no preço, mas o que se “verificou foi um pico e depois os preços voltaram a baixar”, referindo-se, entre outros, ao incêndio nas instalações petrolíferas da Arábia Saudita e as sanções dos Estados Unidos contra o Irão. “Isso significa que a oferta é maior que a procura”, analisa Godinho, atribuindo a causa do aumento à produção norte-americana, que passou de seis para cerca de 13 a 15 milhões de barris/dia desde 2006. “Agora os Estados Unidos só têm necessidade ir buscar de cinco milhões de barris quando iam buscar cerca de 13 milhões”, confere.
Por outro lado, acrescenta, “todos os dias se descobre petróleo, o que vai inundar o mercado” pelo que “a estratégia da OPEP de cortar a produção não vai funcionar”.
OGE em números
No global, o OGE inscreve receitas e despesas de mais de 15,8 biliões de kwanzas, mais 4,5 biliões face ao OGE em execução. Para o sector não-petrolífero, o crescimento perspectivado é de de 1,9% contra os 1,5% do petrolífero, colocando-se em 1,8% a expectativa de expansão da economia. Para este crescimento a estratégia do Executivo passa pela implementação do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (Prodesi). Ancora-se também na hipótese de surgimento de MPME, na concessão de microcrédito e crédito com juros bonificados, à luz do Projecto de Apoio ao Crédito, assim como pela efectivação do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios e do Plano de Acção para a Promoção da Empregabilidade.
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