Orçamento para eleições causa ansiedade à oposição
CUSTOS. Partidos políticos alegam ser insignificante a verba orçamentada para a preparação e realização das eleições gerais, enquanto a Comissão Nacional Eleitoral discute ‘plano estratégico’ para o pleito.
Orçamento Geral do Estado (OGE 2017) prevê 35 mil milhões de kwanzas para a organização das eleições, valor que enfurece os partidos políticos da oposição, que o qualificam como ‘residual’ e irrisório. Entre outras demandas, esta verba deverá cobrir as despesas logísticas da CNE, bem como financiar a campanha dos partidos que deverão disputar as eleições (ainda não está definido o número de partidos concorrentes). Do ‘bolo orçamental para as eleições’, o Tribunal Constitucional e o Ministério da Administração do Território deverão receber também as respectivas ‘fatias’.
Transportes, serviços informáticos, cadernos eleitorais, ‘spots’ e cartazes publicitários fazem parte das listas das necessidades do acto eleitoral, sem esquecer a alimentação e os subsídios para o pessoal recrutado que vão trabalhar nas assembleias de voto. Para isso, por exemplo, argumentam fontes, “ainda não se sabe quanto é que se vai gastar”. A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) ainda não tem um plano de preparação e realização das eleições, mas fontes ligadas ao processo garantem que o documento está em discussão e que, até ao final deste mês, deverá ser aprovado pelo órgão colegial da CNE, presidido pelo juíz Silva Neto.
Sem a aprovação do ‘plano estratégico’, fica-se impossibilitado de saber quais deverão ser as ‘reais’ necessidades logísticas ou materiais, bem como de recursos humanos para a organização do pleito eleitoral, que vai eleger o Presidente da República, vice-presidente da República e deputados. Mas, sabe-se já que vários serviços ligados ao processo deverão ser terceirizados a diferentes empresas especializadas.
Os deputados da oposição estão ainda preocupados com a quantia que vão receber, desejando que se entregue “em tempo oportuno para se evitarem erros do passado”. A deputada da UNITA, Mihaela Webba que defende ainda que o orçamento global do processo eleitoral devia ser gerido exclusivamente pela CNE, acrescenta ainda mais dúvidas: “este valor tão baixo faz-me pensar que nas outras eleições houve sobrevalorização, porque custaram mais. O kwanza desvalorizou-se e os bens e serviços estão mais caros”, alerta.
Para o presidente da bancada parlamentar do PRS, Benedito Daniel, os 35 mil milhões de kwanzas “não são suficientes sequer para suportar 30% dos custos globais do sufrágio universal”. “Há quem diga que a oposição não faz nada, mas nós discutimos isso. Fizemos as nossas contribuições, só que o MPLA não as aceita.”
O porta-voz da FNLA, Joveth de Sousa, lembrou que os materiais de propaganda são importados, pelo que avisa que os partidos políticos da oposição enfrentarão várias dificuldades no que toca à aquisição dos referidos artigos, tendo em conta que Angola ainda está a enfrentar a crise cambial, iniciada em 2014. “Ainda não sabemos quanto nos vão dar, mas, à partida, é fácil notar que será muito pouco dinheiro. O kwanza está desvalorizado e o dólar está difícil.”
“O nosso processo eleitoral é muito burocrático e há falta de transparência, o que dificulta as pessoas terem uma opinião. Só em Luanda, está a falar-se de 30 mil mesas de votos e sendo um valor global, parte vai para a CNE, TC e MAT. Não sei se o que sobrar chegará para os partidos políticos realizarem as campanhas eleitorais em todo o território nacional”, reflecte Filomeno Viera Lopes, do Bloco Democrático.
Nas eleições de 2012, nove formações políticas disputaram as eleições, tendo cada um recebido o equivalente há 800 mil dólares. Na altura, os partidos da oposição também argumentaram ter sido irrisório o valor para além de se queixarem dos constrangimentos porque receberam o dinheiro apenas um mês antes do escrutínio. O Ministério da Administração do Território gastou, na primeira fase do registo eleitoral (25 de Agosto a 20 de Dezembro), 30 mil mlihões de kwanzas, segundo o secretário de Estado para os Assuntos Institucionais, Adão de Alemida, que calculou os custos globais do processo em cerca de 40 mil milhões de kwanzas.
JLo do lado errado da história