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ANTIGO PRIMEIRO MINISTRO PORTUGUÊS ELEITO SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS

Os 12 trabalhos de António Guterres

10 Oct. 2016 Emídio Fernando Mundo

DIPLOMACIA. Ex-primeiro-ministro de Portugal e ex-Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados recolheu unanimidade de votos de membros do Conselho de Segurança para Refugiados e vai liderar a ONU, a partir de Janeiro. António Guterres conseguiu vencer seis votações, mas tem agora pela frente casos mais complicados para mediar, alguns com décadas sem resolução.

1. Crise refugiados Quando chefiava o ACNUR, António Guterres criticou os países europeus pela forma como estavam a lidar com a entrada dos refugiados. Só este ano, tentaram entrar mais de 300 mil. Guterres vai tentar combater a ideia de construir muros ou campos de refugiados. Desde 2014, morreram mais de 10 mil na tentativa de entrar pelo Mar Mediterrâneo.

2. Síria Desde 2011, a Síria enfrenta uma guerra civil provocada por uma tentativa de revolução falhada. Bashar al Assad continua no poder apoiado pela Rússia que bombardeia, todos os dias, cidades dominadas por rebeldes islâmicos. Só na segunda cidade, Alepo, vivem nos escombros mais de 300 mil pessoas, 40% crianças, e já morreram mais de 470 mil civis. A ONU tem um enviado que pouco fez.

3. Estado Islâmico Vai ser a maior ‘dor de cabeça’ de António Guterres e deverá marcar o seu mandato. O terror islâmico começa a alastrar-se e com o resto do Mundo a desconhecer a verdadeira dimensão, que aliados tem e que Estados estão envolvidos no apoio aos radicais. África, Europa e parte da Ásia são os principais alvos.

4. RDC O novo secretário-geral vai receber, como ‘prenda’ de início de funções, uma crise política que ameaça descambar numa guerra civil na República Democrática do Congo. A contestação a Joseph Kabila aumenta de tom, num país que é um ‘barril de pólvora’, interno e para os vizinhos.

5. Crise Ucrânia-Rússia Foi precisamente pelos interesses hegemónicos na Ucrânia que a Rússia hesitou, até ao último momento, em apoiar António Guterres. Acabou por ceder, mas o novo secretário-geral sabe que vai ter de enfrentar os russos, que até têm poder de veto e de decisão no Conselho de Segurança.

6. Coreia do Norte A tentação nuclear e bélica dos coreanos esteve sempre na agenda de todos os líderes da ONU. Nenhum deles obteve sucesso com uma paz efectiva na região. A diplomacia mundial aponta a Coreia do Norte como a maior ameaça para o planeta. O que é certo é que os coreanos advertem com o mesmo todos os anos.

7. Palestina vs Israel A questão da Palestina também atravessou as preocupações de todos os secretários-gerais. Com maior ou menor violência, pouco mudou. Os palestinianos continuam a reivindicar um país. Israel continua a ocupar territórios. Guterres conhece bem o terreno por ter visitado os campos de refugiados na Jordânia com milhões de pessoas fugidas da Palestina.

?8. Aquecimento global Os críticos das Nações Unidas garantem que hoje a organização não tem poder e só se preocupa com as alterações climáticas e por fazer cumprir os objectivos de travar o aquecimento global. António Guterres terá de demonstrar que, além disso, a ONU continua a ser o ‘polícia’ do mundo.

9. Grandes Lagos Outra das preocupações antigas da ONU em que a luta pelo poder arrasta conflitos étnicos de proporções bíblicas. Milhões de refugiados e deslocados e a iminência da guerra sempre presente. Guterres vai ter de recorrer à ajuda de Angola que tem tido um papel de mediador.

10. Finanças da ONU A comparticipação de cada país tem sido um tema recorrente. Este ano, dos 193 membros, apenas 100 pagaram a anuidade. Todos os anos, acumulam-se dívidas. As finanças da ONU têm sido as razões evocadas para não haver mais intervenções militares.

11. Sudão Violações em massa, milhões de refugiados, conflito latente entre os recém criados Sudão do Norte e Sudão do Sul, ataques terroristas e gente na absoluta miséria entram no topo das preocupações de António Guterres. De ano para ano, a região piora.

12. Guerras Líbia, Iraque, Síria e Afeganistão são ‘apenas’ algumas guerras que a ONU tem de gerir. A somar às ameaças que surgem na Turquia, Paquistão e agora, de novo, na Colômbia.