RENDAS, COMBUSTÍVEIS, IMPOSTOS E TRÂNSITO

Os custos da ‘felicidade’ nas centralidades de Luanda

CUSTO DE VIDA. Os custos de viver nas novas centralidades, em Luanda, ultrapassam os cem mil kwanzas por mês. O que era um sonho está a tornar-se num pesadelo para muitos, que foram `surpreendidos´ com o pagamento de taxas e impostos. Há mesmo quem esteja a regressar para `o seu musseque´, devido ao elevado custo da `felicidade nas centralidades´.

Pelo menos, 158 mil kwanzas é o que os moradores do Kilamba, Zango e Sequele, em Luanda, pagam por mês para a manutenção da sua estadia naquelas centralidades construídas pelo Estado angolano, sendo que os valores atingem os 1,9 milhões de kwanzas, quando calculados na perspectiva anual.

As contas foram feitas pelo VALOR, com base em seis serviços que os moradores das centralidades estão obrigados a pagar mensalmente. Deste modo, foram seleccionados, a renda resolúvel da casa, taxa de condomínio, energia, água e combustíveis vs transportes. Embora não sejam obrigatórios, a creche ou empregada doméstica também foram seleccionados, pelo facto de muitos moradores recorrerem a esses serviços. Assim, as duas variáveis aglutinadas compõem um item, o que perfaz o total de seis serviços escolhidos. Os apartamentos estão avaliados entre 60 e 120 mil dólares, mas grande parte dos ocupantes paga mensalmente, no formato de renda resolúvel. Em média, os moradores desembolsam para a renda resolúvel 50 mil kwanzas/mês.

Por razões contratuais, esta prestação tem uma duração que varia entre os 20 e 30 anos. A taxa de condomínio ronda os 10 mil kwanzas, cinco mil kwanzas é o que se paga pela energia, valor igual ao que se cobra pela água.

Grande parte dos habitantes do Kilamba, Zango e Sequele possui pelo menos um carro e trabalha no centro de Luanda, pelo que por mês chega a gastar 48 mil kwanzas de combustíveis para se descolocar de casa para os postos de trabalho e vice-versa, numa distância que ronda entre os 25 e 40 quilómetros. Até aqui, estão contabilizados cinco serviços, que atingem um custo de 118 mil kwanzas por mês.

Os préstimos de uma creche ou de uma empregada doméstica são muito procurados por aquelas paragens. Em média, o custo de um destes serviços gira em torno dos 40 mil kwanzas/mês. Adicionado a este montante o custo de morar nas centralidades atinge 158 mil kwanzas por mês, sendo que o valor global chega aos 1,9 milhões de kwanzas/ano. Esses números ultrapassam os do salário mínimo nacional que nem sequer atingem os 200 mil kwanzas/ano.

Os resultados são as estimativas de valores médios desembolsados pelos habitantes por cada serviço de pagamento obrigatório nos três centros urbanos. De fora, ficaram os custos ligados ao lazer e entretenimento, bem como os de produtos alimentares comercializados em superfícies e restaurantes, situados nas centralidades.

Aos 158 mil kwanzas/mês também não foram acrescentados os custos de colégios e transportes escolares nem os cem mil kwanzas que geralmente se cobram para se ter acesso a salões de cerimónias fúnebres e festivas. Há habitantes de centralidades que possuem mais de um carro, mas as contas com o combustível abrangeram apenas um dos veículos.

De custos ainda não é tudo. Moradores das centralidades vão pagar nos próximos tempos o Imposto Predial Urbano (IPU). Por enquanto, o custo com o IPU ainda não foi estipulado, encontrando-se em análise a nível governamental.

Mas a Administração Geral Tributária está já a montar os seus balcões a nível das centralidades, esperando apenas o sinal verde para arrancar as cobranças. A taxa de lixo, anunciada recentemente pelo governador de Luanda, Higino Carneiro, configura um outro pagamento que também vem aí para `tirar o sono´ daqueles habitantes. Já se sabe que citadinos do Kilamba, Zango e Sequele vão pagar mais do que os moradores das zonas periurbanas e periféricas.

 

REGRESSAR À PROCEDÊNCIA

Em Março de 2014, várias famílias foram desalojadas de apertamentos nas centralidades, com maior destaque para o kilamba. Se estas, acusadas de ocupação ilegal das casas, foram obrigadas a regressar à procedência, actualmente, há quem esteja a voltar ao seu musseque por razões de elevado custo de vida naqueles centros urbanos.

Há ainda quem esteja a sub-arrendar o seu apartamento, na tentativa de suprir as obrigações contratuais de ordem financeira. Em conversa com moradores, demos conta ainda de que muitos não tinham noção que haveriam de pagar este preço para ´ser feliz nas novas cidades´. Outros, mesmo sabendo da sua incapacidade financeira, ocuparam as casas, na esperança de que, posteriormente, o Estado deixaria de cobrar rendas por altura das eleições.

 

O PESO DO ENGARRAFAMENTO

O engarrafamento no trânsito é um outro quebra-cabeça que apoquenta os moradores das centralidades, que distam entre 25 e 40 quilómetros da cidade de Luanda. Claramente, esse trajecto não é feito de `ânimo leve´, já que obriga os `centralinos´ que trabalham no centro e entram às nove, a sair de casa antes das cinco horas e 30 minutos. De acordo com os interlocutores, grande parte dos combustíveis dos carros evapora, suportando o congestionamento no trânsito. O custo provocado pelas quatro horas em média perdidas para os engarrafamentos matinais e vespertinos está a levar vários habitantes a repensar a sua estadia nas centralidades. Além do stress que o transito provoca, obriga a dormir tarde e a acordar mais cedo do que o normal, reduzindo o tempo de convivio familiar.

Casos há em que toda a família (pai, mãe e filhos) sai de casa às quatro horas e terminam o sono na cidade, dentro do carro, ou em casa de um parente para não comprometer a agenda diária. Já no regresso, preferencialmente `abandonam´ Luanda às 22 horas, tudo para escapar do `maldito engarrafamento´.

 

O PREÇO DE MORAR NAS CENTRALIDADES 

O VALOR calculou seis serviços que moradores das novas centralidades estão obrigados a pagar mensalmente. Os números aqui apresentados são estimativas médias dos custos dos serviços seleccionados. Embora não sejam obrigatórios, a creche ou empregada doméstica (que juntos perfazem o item seis) também foram escolhidos, pelo facto de que muitos moradores recorrem a esses serviços.

Duração de pagamento da renda 20 a 30 anos e a média é de 50 mil kwanzas.

40 Mil kwanzas, valor pago para creche ou empregada de limpeza

Energia 5 mil kwanzas

Combustível para o carro 48 mil kwanzas (12 mil kwanzas por semana).

Água 5 mil kwanzas

Taxa de condomínio (incluído jardinagem, segurança e limpeza 10 mil kwanzas