“Os impactos [da covid-19] no sector segurador são grandes e em diferentes sentidos”
SEGUROS. Faz um balanço do primeiro semestre da Ensa. E fala dos desafios impostos pela pandemia, salientando que “a necessidade de cobrir custos com o seguro de calamidade, face à pandemia, não se coloca em Angola”.
O resultado líquido da Ensa cresceu 150% no primeiro semestre. O que explica esse desempenho?
O crescimento do resultado líquido é justificado pelo aumento do volume de prémios brutos, emitidos com relevância para os ramos de saúde, acidentes de trabalho e automóvel. Por outro lado, houve uma redução das despesas resultantes da renegociação dos contratos com fornecedores, da melhoria dos resultados dos investimentos financeiros e da recuperação de sinistros no resseguro.
Qual é a perspectiva do resultado líquido para o final do ano?
Analisando a prestação do primeiro semestre e a continuação da execução do nosso plano estratégico, iremos manter a mesma dinâmica de crescimento na segunda metade do ano. No entanto, devido ao cenário pandémico e à incerteza do mercado, há um risco associado de derrapagem face ao orçamento, que prevê um resultado positivo de mais de 4 mil milhões de kwanzas.
O aumento do volume de prémios, como referiu, sugere que a pandemia não impactou negativamente nos negócios da empresa?
Os impactos no sector segurador são grandes e em diferentes sentidos. O importante é avaliar esses impactos e mitigá-los com diferentes estratégias, ramo a ramo de negócio. De entre as medidas, salientamos o lançamento de campanhas direccionadas, o investimento no canal digital e a nossa presença nas superfícies comerciais com a comercialização do produto ‘Ensabaza’, já prevendo as restrições de movimentação das famílias.
Face à experiência da Ensa, pode dizer-se que as empresas que atribuem ao momento da pandemia eventuais resultados negativos não tiveram, na verdade, capacidade de se reinventar com estratégias adequadas?
Não necessariamente. Esta pandemia e as incertezas que dela advêm são novas para todos. Não sabemos, com precisão, quais as medidas estratégicas adoptadas pelas outras empresas, mas, tal como nós, certamente todas estão a trabalhar afincadamente para minimizar os impactos do cenário nos seus negócios, até aproveitando as oportunidades que emergem daí. Há um lado positivo em todos os cenários de crise. Há desequilíbrios geradores de novas oportunidades. Nós estamos a tentar identificá-las.
Os números dão conta de uma redução da taxa de sinistralidade que passou de 44% para 33% no semestre em análise. O que mais concorreu para esta quebra?
Registámos um aumento do volume de prémios e uma diminuição nos sinistros, traduzindo-se na redução na taxa de sinistralidade. Por exemplo, o confinamento em Luanda fez baixar a circulação automóvel e, consequentemente, também os sinistros neste ramo. Mas também verificámos o mesmo efeito no ramo de saúde. Isto permitiu-nos uma maior margem de negociação de descontos e campanhas promocionais, aumentando assim a penetração nestes ramos.
Deste ponto de vista, o momento actual é positivo para a indústria?
Cremos que não. O desempenho do sector segurador não é aferido unicamente pelo nível de sinistralidade. Existem outros factores a ter em consideração, nomeadamente no lado da receita. Nota-se uma alteração do poder de compra das famílias e na contracção de determinadas actividades económicas que impactam directamente na capacidade de suporte dos prémios de seguro.
Registaram algum sinistro de grande proporção?
Felizmente, não registámos qualquer sinistro de relevância. Ou seja, pelo menos, até ao momento, não foram reportados sinistros dignos de relevo.
Algumas seguradoras internacionais apresentaram o momento como negativo pela necessidade de cobrirem custos com o seguro de calamidade, face à pandemia. É uma realidade que se coloca no mercado nacional?
É um momento desafiante para todos. Contudo, a necessidade de cobrir custos com o seguro de calamidade, face à pandemia, não se coloca, na medida em que o seguro saúde exclui as doenças pandémicas. O impacto é indirecto.
O custo de sinistros registou uma “ligeira diminuição de 1%”. Em termos nominais, qual foi o valor?
Tivemos uma diminuição na ordem dos 169 milhões de kwanzas que constitui uma variação positiva, saindo dos 17,6 mil milhões de kwanzas, em Junho de 2019, para 17,5 mil milhões de kwanzas em Junho de 2020.
Como está a implementação das tarefas previstas no Plano Estratégico Ensa 2020-2022? O que já foi feito e de que forma alterou o dia-a-dia da empresa?
A taxa de implementação do Plano Estratégico está dentro do planeado. Promovemos o investimento no capital humano através de acções com foco na sua capacitação e motivação, como, por exemplo, as sessões de ‘coaching’ com objectivo de nos tornarmos mais dinâmicos; o processo de saneamento financeiro continua em marcha; o processo de privatização corre dentro dos prazos estipulados, tendo sido recentemente nomeados os assessores financeiro e legal; iniciámos o processo de descontinuação das actividades que não fazem parte do ‘core business’ da empresa. Enfim, a implementação do plano estratégico está em velocidade de cruzeiro, com um atraso aqui e ali, que deriva do contexto pandémico que vivemos.
Como está o processo de retirada ou deslocação daquelas actividades que deixarão de ser parte do negócio da seguradora, tais como os serviços médicos, peritagens, imobiliária e outros?
Iniciámos negociações visando o estabelecimento de parcerias com entidades estratégicas com experiência nos respectivos sectores de actividade e esperamos ter mais novidades em breve. Estamos a olhar para a área clínica, a actividade imobiliária, peritagens e salvados e outras.
E quais destas áreas tem mais interessados para potenciais parcerias?
Existe um grande interesse por parte dos potenciais parceiros relativamente a todas estas áreas de negócio.
Quanto vale cada uma destas áreas no global dos negócios da Ensa?
Estas áreas são de grande valor, com maior perspectiva de crescimento se geridas por profissionais experientes nos respectivos sectores, destacando-se a área dos activos imobiliários. A decisão de deslocação da gestão destas áreas, em parceria com profissionais verdadeiramente especializados, resulta da necessidade de adequar a Ensa aos padrões internacionais, focando-se única e exclusivamente no seu ‘core business’, que, naturalmente, são os seguros e a gestão de fundos de pensões.
Os números distribuídos em relação ao primeiro semestre de 2020 não fazem referência às dívidas da empresa. Como está neste indicador?
As dívidas eram significativas com a agravante de haver discrepâncias entre os registos contabilísticos e a dívida reclamada por terceiros, tendo sido objecto, aliás, de uma reserva do auditor em 2019. Portanto, estamos a realizar trabalhos de circularização e certificação dessa dívida e, à medida que é regularizada, os indicadores têm melhorado significativamente. Estamos a falar de um universo de dívidas de clientes, fornecedores, resseguradores, etc. É um trabalho recorrente que irá manter-se nos próximos meses.
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