ANGOLA GROWING
LUÍS TROSO, EMPRESÁRIO E PCA DO GRUPO SANEP

“Os investidores externos antes de qualquer coisa fazem contas e analisam o ambiente económico e político de cada país”

05 Jul. 2023 Grande Entrevista

Empresário e Presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Negócios e Participações (SANEP) defende ser necessário existir “casamento entre as políticas e decisões do governo com os objectivos e metas dos privados”, salientando que as decisões políticas têm afectado e condicionado as intenções de investimentos dos empresários. Justifica o incumprimento no Programa de Privatizações e coloca a variação cambial com um dos maiores desafios na implementação de novos projectos.

“Os investidores externos antes de qualquer coisa fazem contas e analisam o ambiente económico e político de cada país”

Em 2018, o grupo Sanep registou lucro de 15 mil milhões de kwanzas. Dois anos depois, parte significativa do sector empresarial do país abalou, face às consequências da covid-19. Hoje qual é a realidade da empresa?

Infelizmente, a nossa moeda tem-se depreciado muito. Se olharmos para os nossos números em kwanzas, o grupo não tem parado de crescer, mas, face  às principais moedas de referência, sobretudo o dólar e o euro, de 2018 para cá, a nossa moeda depreciou-se na ordem dos 100%. Isto tem um impacto considerável nas empresas e na nossa actividade comercial. Não consigo adiantar números precisos, mas posso dizer que temos crescido na ordem 10 a 12% ao ano. Obviamente, digo isso fazendo contas com a nossa moeda. Comparativamente às principais divisas, e olhando para factores como a inflação, este número reduz substancialmente.

 Esta situação terá condicionado a implementação de um programa, anunciado em 2018, que visava a concessão de crédito a famílias camponesas, no total de 40 milhões de dólares?

O projecto está em curso. Temos a nossa sociedade de microcrédito e estamos a esperar apenas que o banco central faça sair a regulamentação das sociedades de microfinanças para nos elevarmos à microfinança. Mas o processo, infelizmente, não tem corrido com a velocidade que gostaríamos, devido sobretudo a aspectos ligados à qualidade dos projectos e das iniciativas dos empreendedores e também, de certa forma, ao nível de garantias que estes empreendedores poderão oferecer. Contudo, temos vindo a discutir com o Executivo formas alternativas de financiarmos. Além dos empreendedores, também as famílias e aí refiro-me ao crédito ao consumo. Podemos financiar os particulares, aquelas pessoas que têm emprego ou uma fonte geradora de renda para que possam mais facilmente satisfazer as suas necessidades básicas, como a compra de electrodomésticos, mobílias, etc.. Mas, para tal, precisamos que a lei nos permita, porque hoje as sociedades de microcrédito apenas podem financiar iniciativas empresariais, mas o negócio tem vindo a crescer. Actualmente, contamos com uma carteira de negócios que se situa em perto de mil milhões de kwanzas e queremos crescer. Queremos apoiar a diversificação da nossa economia; queremos apoiar o empoderamento das famílias, mas só podemos ir até ao limite da lei. Onde o BNA, enquanto entidade reguladora nos permitir ir, nós iremos. Actualmente, temos protocolo com algumas empresas em que financiamos os funcionários destas empresas. Podem chegar até nós e, em 24 horas, têm o financiamento de até três salários. Já é um passo, mas ainda não é o passo suficiente na nossa óptica, porque entendemos que, para que a nossa economia se desenvolva com um ritmo acelerado, o crédito tem de ser algo comum. As pessoas têm de ter o acesso facilitado ao crédito. O ideal para nós é que, através dos mecanismos de digitalização existentes, o indivíduo possa, através do seu telemóvel, fazer um adiantamento salarial e resolver um problema imediato. É isto, no âmbito do microcrédito, que perseguimos. Queremos poder financiar os funcionários públicos, as famílias, mas aguardamos que os diplomas regulamentares sejam aprovados pelo banco central para incluirmos este tipo de actividades no nosso negócio.

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