MARIA MANUELA MOREIRA, EMPRESÁRIA, BANCÁRIA EX-MEMBRO DA COMISSÃO EXECUTIVA DO BFA

“Pediram-me para pagar a minha posição na comissão executiva”

Saiu da Comissão Executiva do Banco de Fomento de Angola, mas com estrondo. O processo está em tribunal em que Maria Manuela Moreira exige que o banco pague o que ela entende ter direito. Em entrevista ao Valor, acusa responsáveis do BFA de a chantagearem, de ameaçarem e de lhe terem exigido dinheiro para continuar na administração. De resto, não tem dúvidas de que é mesmo a corrupção e os favores que permitem chegar às administrações de alguns bancos. De fora do BFA, dedica-se à Bolsa de Valores, dirige a Lucrum Trust e tem desafia os angolanos a apostar na Bodiva, como garantia de futuro. 

“Pediram-me para pagar a minha posição na comissão executiva”

Cerca de dois meses depois da entrada efectiva no mercado de valores mobiliários com o lançamento da Lucrum Trust, qual é a avaliação que faz?  

Do ponto de vista de penetração no mercado, podemos fazer um balanço positivo. Temos cerca de 130 contas abertas. Uma coisa que me deixa satisfeita é que as contas que temos não foram retiradas do mercado. Fizemos um exercício de captar novos clientes o que, para nós e para o mercado, é bastante interessante. Entendemos, ao longo destes dois meses, que existe muito desconhecimento ainda sobre o tema. É um número muito grande de angolanos que nem sequer conhece o que é isso de mercados de valores mobiliários. Trazer pessoas novas para este mercado é uma decisão da Lucrum. A nível de negócios fechados, poderia ser melhor. Esstamos num processo para que as pessoas nos conheçam, mas, principalmente, para qu  ganhem confiança. O mercado em que actuamos requer confiança e as relações de confiança não se constroem do dia para a noite. Estamos a trabalhar para construir este tipo de relações. Acreditamos que vai melhorar. Os sinais que recebemos do mercado são bastantes positivos. 


Essa confiança será muito determinada pelo que as pessoas poderão ou não ganhar com as aplicações, mas o nosso mercado parece não ser ainda assim tão lucrativo. É uma leitura errada?

O não ser lucrativo depende da perspectiva, como é que as pessoas olham para isso e o que é que fizeram com as suas poupanças. Estamos a falar de um mercado que, do ponto de vista de oferta de produtos financeiros existe pouco ou quase nada. O que as pessoas estão a fazer é o exercício de saírem dos depósitos a prazo tradicionais para encontrarem novos instrumentos que possam rentabilizar um pouco mais e os instrumentos que temos disponíveis na Bolsa, na maior parte deles, têm uma rentabilidade superior aos depósitos a prazo. Só sair de um depósito a prazo tradicional para um instrumento disponível na Bolsa, que tenha que seja 2% a mais daquilo que seja a minha rentabilidade, é um exercício que vale a pena fazer se a minha perspectiva é de obter melhores lucros. Os clientes dizem: “poupo todos os meses do meu salário”. Mas o que faz com esta poupança? Está no banco. Está a rentabilizar? Não! Uma coisa é poupar, outra coisa é poupar com rentabilidade. A nossa perspectiva é elucidar as pessoas da necessidade de que mais do que ter uma poupança é tornar esta poupança rentável, que consiga no curto e no médio prazo trazer algum valor. 


A aposta que fizeram em ir buscar contas novas foi por reconhecer a dificuldade que teriam em captar clientes que estivessem em bancos, sobretudo daqueles que também decidiram apostar em corretoras e ou distribuidoras?

Não é difícil, porque as relações se constroem com pessoas e a mensagem que passei à equipa foi que não vale a pena entrarmos na guerra. Agora é uma guerra e uma guerra desleal. Uma guerra com pouca transparência, porque, naturalmente, a partir do momento que bancos comerciais decidiram abrir as suas próprias sociedades, descaracterizou absolutamente aquilo que estava inicialmente previsto. Mas, estamos a encarar isso como um desafio e não como um problema. O mercado tornou-se mais desafiante. Os bancos tinham carteiras formadas e, naturalmente, terão preferência em passar para as corretoras em que são accionistas. Mas recebemos algumas carteiras transferidas dos bancos que decidiram fazer. Mas também temos clientes que deram instruções a alguns bancos e, passado o 30 Junho, elas simplesmente não foram transferidas. Temos as instruções, os documentos que provam que os clientes deram essas instruções, mas não foram feitas. Posso falar por experiência própria. Sou cliente de um determinado banco, tinha acções e obrigações nesse banco, dei instruções antes de 30 de Junho e a carteira não foi transferida e o banco depois comunica para eu entrar em contacto com a corretora deles porque tinham transferido para essa corretora. Se havia um comunicado que dizia que os clientes tinham de dar a instrução até 30 de Junho. Os bancos deveriam cumprir rigorosamente e transferir para as corredoras o que os clientes indicaram. Acreditamos que temos um supervisor que é sério e que olha para este tema com a importância que merece e que na devida altura irá ajustar-se.