“Pensar apenas no futebol é ter visão curta”
ENTREVISTA. Carlos Alonso, 38 anos, despediu-se dos relvados em 2014, mas ficou ligado ao desporto com a clínica de fisioterapia ‘Bom Senso’, da qual é sócio. Tem mais dois negócios em vista e encara a actual crise como uma lição para o futuro.
Como um jogador deve gerir o fim da carreira?
Esta é uma questão bastante pertinente e é uma fase muito complicada. Infelizmente, sei de situações de colegas complicadas. Sempre fizemos da nossa vida o futebol e de repente ficarmos, sem isto, é difícil. Poucos se prepararam em termos académicos, paralelamente ao futebol, e depois os horizontes não são muito alargados. Infelizmente, nem todos podem sertreinadores, dirigentes e tudo o que resta para fazer dentro do futebol é muito pouco. Há pouco aproveitamento de ex-jogadores dentro do próprio futebol.
E como se deve poupar?
Deve começar-se do início. Salários milionários, como os de Cristiano Ronaldo e Messi, não são para muita gente e devemos ter a noção do dinheiro que ganhamos e começar a pensar no amanhã. Se ganho dez, só posso gastar cinco. E é muito importante a poupança, porque a nossa carreira desportiva tem prazo e limite.
Não vale apenas pensar só no futebol...
Claro que não. Pensar apenas no futebol é ter uma visão curta. Quem tem visão e pretende crescer na vida deve pensar além do futebol.
Tem exemplos de antigos futebolistas a viverem de caridade?
Infelizmente, já presenciei situações destas de antigos jogadores que não prepararam o futuro.
Ganha-se bem em Angola?
Diria que sim. Um jogador em Angola, numa boa equipa, já consegue ter uma vida tranquila, organizada, desde que tenha os pés bem assentes no chão e pense que não vai ganhar este dinheiro para o resto da vida.
O nosso futebol é profissional?
Sim. Os jogadores angolanos, sobretudo os do Girabola, vivem só do futebol. Obviamente, pode existir quem consiga conjugar com outras coisas.
Foi um dos atletas mais bem pagos?
Não sei. Quando vim para o 1.º de Agosto fiz as minhas exigências que sempre foram aceites pela direcção. Sinto-me felizardo por ter estado num grande clube e por, se calhar, ser o maior de Angola. Sempre cumpriu com as suas responsabilidades e paga o que promete quer salários, quer prémios de jogos.
Como vê a crise?
Preocupa a todos. Temos interesse que Angola evolua e esta crise financeira veio retroceder a nossa evolução. Deve abrir olhos para toda gente e é uma lição. Na fase da bonança, vivíamos uma vida que não era nossa e cometemos muitos exageros. A lição é reaprender a viver com os nossos salários. Esta é uma realidade que já tinha vivido na Europa. O futebol também não foi poupado.
Como está o seu negócio?
A crise afectou toda a gente. Somos uma empresa prestadora de serviços no ramo da saúde, sentimos um certo abrandamento de clientes. Temos uma equipa de angolanos e portugueses com muita vontade de trabalhar e dar a volta à situação.
Teve dificuldades na criação da clínica?
Quando abrimos a ‘Bom Senso’, tivemos de criar um plano de negócio. No princípio, teve um investimento superior, mas foi ajustado para alcançar o sucesso que tem tido. As críticas dos clientes são uma forma de melhorar os nossos serviços.
Projectos….
Existem mais dois em carteira. O mais avançado é uma empresa sobre marketing desportivo e as bases estão a ser criadas. O segundo está em fase de formação e está ligado ao ramo industrial.
PERFIL
Nome: Carlos Manuel Gonçalves Alonso ‘Kali’
Data de Nascimento: 11 de Outubro de 1978, em Luanda
Clubes:
1998-2001 FC Barreirense (2.ª divisão)
2001-2005, Santa Clara (1.ª divisão)
2005-2006, FC Barreirense 2006-2009, FC Sion (Suíça)
2009-Arles-Avignon (França)
2010-2014- 1.º de Agosto
Participações:
em CAN 2000 (Gana/Nigéria)
2008 (Gana)
2010(Angola)
2012 (Gabão/Guiné Equatorial)
Mundial:
2006, Alemanha
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