ANGOLA GROWING
FACTURAÇÃO RONDA OS 300 MIL KWANZAS POR MÊS

Pequenas gráficas resistem à crise

COMÉRCIO. Empreendedores queixam-se dos “preços baixos” praticados por concorrentes chineses e vietnamitas, justificados por suposta “qualidade duvidosa” dos produtos. Mas a crise, que provoca limitações de importação de matérias-primas, é ainda o principal problema.

Gráficas

As restrições na aquisição de matérias-primas, devido à escassez de divisas, continuam a ser o principal obstáculo do negócio de produções gráficas de ‘pequena dimensão’. Proprietários e gestores de mini-gráficas, em Luanda, apontam para “pouca atenção” dada pelo Governo.

Quatro anos após o início da crise económica e financeira, os empreendedores referem que “era já altura de se notarem mudanças em relação às medidas de distribuição das divisas”, lamentando que a micro-indústria gráfica esteja em “segundo plano”.

Para já, limitações na produção, incumprimentos dos prazos de entregas das encomendas e redução de clientes preenchem os constrangimentos do mercado destas unidades. Aliás, fala-se mesmo do risco de encerramento de alguns estabelecimentos.

Embora com pouco ‘espaço de manobra’, como reconheceram, os empreendedores procuram reinventar-se, em função das barreiras do momento. Os gestores da Mundo Imprime, por exemplo, estão a apostar em manter contratos fixos com alguns clientes, batendo a portas de outros que eventualmente desconheçam a gráfica.

“Não é época de esperar que o cliente nos procure”, argumenta o assistente Airton Manuel, acrescentando que manter a contabilidade ‘em dia’ é também uma das estratégias da equipa de gestão, que criou quatro postos de trabalho.

“A contabilidade é o coração de qualquer empresa”, argumenta. Já na gráfica Ircom, localizada no Bairro da Polícia, as medidas de contorno à ‘tempestade do mercado’ passam por aumentar a eficiência e o acompanhamento pós-venda, tendo sido criada uma área de gestão de clientes.

Ainda assim, o técnico de impressão digital e designer-gráfico Simão Gonçalves insiste na necessidade de o Governo olhar para o negócio com ‘bons olhos’, facilitando as divisas para a importação das matérias-primas. “Se houver esta facilidade de importação, o resto a gente dá sequência”, afirma Simão Gonçalves, concluindo que “as nossas gráficas são de pequena dimensão”, mas desenvolvem “trabalhos de grande dimensão” e que “pequenas empresas alavancam grandes economias”.

Lonas, vinil, autocolantes, tinteiros, camisolas e papéis de vários tipos e dimensão são as principais matérias-primas utilizadas pelas gráficas. Os preços dos produtos finais são praticados em função da qualidade, quantidade e dimensão de cada artigo.

Por exemplo, o preço de impressão de um metro quadrado de uma lona varia entre os 2.500 kwanzas e os seis mil kwanzas. Um vinil, de também um metro quadrado, custa entre três mil e 7.500 kwanzas. Já na impressão de produtos em papel, os preços rondam entre 200 e mil kwanzas, tendo sempre em conta o tipo e tamanho do produto.

A facturação destas pequenas empresas ronda entre os 200 e os 300 mil kwanzas/mês, tendo um custo operacional trimestral à volta de 200 mil kwanzas. Em investimentos, uma máquina de imprimir lonas e vinil custa entre 3,5 milhões e 10 milhões de kwanzas. Chineses e vietnamitas são acusados pelos empreendedores nacionais de inundar o mercado com produtos de pouca qualidade e preços baixos, provocando uma “concorrência desleal”.

João Ilídio, proprietário de uma gráfica nos arredores do Golfe 2, está convencido de que o material usado por chineses é reciclado e de baixo custo. Além do seu estabelecimento, na área, existem mais três gráficas, todas de proprietários chineses.

“Realmente, é uma grande concorrência, mas acho que não é justo. Porque eu trabalho com matérias originais, tinteiros e máquinas sofisticadas, já os tinteiros que os chineses usam é reciclado e têm pouca duração”, acusa João Ilídio. “Estou a perder, porque os clientes preferem os chineses por causa dos baixos preços, mas o meu produto tem muito mais qualidade.” Ao VALOR, chineses e vietnamitas recusam-se a comentar o assunto.