Pequenas metalúrgicas que chegam a gerar meio milhão kz
CASAS DE CHAVES. Novo negócio ligado à produção e reprodução de chaves para os mais vários fins ganha terreno em Luanda. Negócio chega a gerar, em alguns casos, receitas na ordem de meio milhão de kwanzas.
A reprodução de chaves, das mais várias tipologias e modelos, é um negócio que começa a ganhar alguma proporção, em vários pontos de Luanda. A actividade, estando ainda muito longe daquilo que a ‘grande’ indústria metalúrgica nacional oferece, em termos de produtos, tem servido de alternativa para satisfazer as necessidades de muitos cidadãos.
Entre os produtos confeccionados, nessa pequena actividade de transformação de metais, destacam-se produção e reprodução de chaves para residências, viaturas e motorizadas.
Numa ronda efectuada por algumas dessas casas, em Luanda, o VE constatou que alguns dos profissionais que se dedicam a esta actividade trabalham por conta própria, enquanto outros por conta de outrem, sendo que, neste último caso, o proprietário do negócio nem sempre é quem executa o trabalho, que é atribuído a um segundo indivíduo, dispondo o primeiro apenas do espaço e material para a efectivação do trabalho.
O processo de reprodução de chaves, em si, apresenta-se, à partida, simples, requerendo materiais como, por exemplo, a lima e duas máquinas especializadas para o trabalho, sendo uma que serve de suporte para apertar a chave partida e outra para efectuar a duplicação à medida da chave antiga.
Esse modelo serve, no entanto, para quem dispõe de alguma verba para poder adquirir a máquina de duplicação que normalmente é importada, sobretudo de países como a China. Os preços, porém, variam de acordo os modelos da máquina.
NEGÓCIO DE VÁRIAS OPORTUNIDADES
O negócio pode também ser executado por quem dispõe de poucos recursos financeiros, conforme relatado por alguns profissionais da actividade, desde que os interessados consigam um espaço num ponto bem frequentado da cidade. Entretanto, aqui, ao contrário das chaves codificadas e especiais, a preferência deverá recair sobre as chaves simples que exigem apenas uma lima para se obter o protótipo original.
É o caso de Hebreu Quilumbo, de 24 anos de idade, chaveiro de profissão há cinco. Trabalha na loja AQM comercial, na Avenida Revolução de Outubro, “uma casa que já reproduz chaves há cerca de 18 anos”.
Quilumbo consegue “viver normalmente”, reproduzindo vários tipos de chaves e, como diz, tem tido rentabilidade já que consegue “pagar o ensino superior com o dinheiro que ganha”.
O jovem profissional reproduz chaves do tipo “direito, esquerda e algumas de viaturas” e os preços variam, conforme a exeigência. Uma chave normal de casa custa mil kwanzas, enquanto as especiais variam entre os três mil e os quatro mil kwanzas’.
Para as chaves não codificadas para viaturas, Hebreu cobra 2.500 kwanzas. Já para as codificadas, os preços rondam entre os 20 mil e 80 mil kwanzas. Durante o dia, Quilumbo chega a amealhar, em média, entre 20 mil e 25 mil kwanzas só a reproduzir chaves residenciais. Com a reprodução de chaves para viaturas, os ganhos situam-se entre os 25 e 30 mil kwanzas.
Feitas as contas, Quilumbo declara que consegue acumular, em média, num mês, um total de aproximadamente 600 mil kwanzas.
“Também reproduzimos chaves de motorizadas, mas, neste caso em particular, não temos sido solicitados com muita frequência”, esclareceu. Hebreu Quilumbo trabalha com quatro ajudantes e cada um recebe entre 30 e 40 mil kwanzas de salário mensal.
A equipa de reportagem do VE contactou também Santos Mbendo, um jovem de 36 anos e que se dedica à reprodução de chaves há três, numa loja, em Viana. Mbendo trabalha sozinho, mas é empregado de alguém. O seu trabalho inclui também reprodução de chaves para carros, motos e para portas de residências e, às vezes, para cofres.
Quase sempre Mbendo é solicitado para reproduzir chaves de carros de marca Toyota, Hyundai e Mitsubishi, mas, ao VE, disse que pode reproduzir chaves de outras marcas, faltando-lhe apenas algum material.
As condições para reproduzir uma chave dependem muito do formato, mas o início da produção é antecedido de algumas regras. “O cliente traz a chave que pretende reproduzir e vê se consta no modelo de chaves lisas que temos no stock. Havendo no stock, discutimos e acordamos o preço, e começamos logo a reprodução”, explica Mbendo.
O fabricante cobra dois mil kwanzas por uma chave normal de uma viatura, e entre mil e três mil kwanzas para chaves residenciais.
Ao fim do dia, Mbendo consegue juntar entre 20 e 25 mil kwanzas, mas o valor é repartido com o dono da loja que fica com a maior parte. Além de sustentar a sua família, Mbendo já conseguiu casa própria, com os salários de chaveiro.
Em relação ao material, Mbendo diz que é importado da China, sendo que, neste momento, usa duas máquinas diferentes, no caso o ‘torno’ (máquina eléctrica) e outra ‘manual’ que só é “utilizada quando não há luz eléctrica”.
Alex Dyakumbanza, outro chaveiro na profissão há sete anos, abriu uma casa nova de reparação de ignição de viaturas e motos, em parceria com o seu ajudante há dois meses, em Cacuaco.
Dyakumbanza afirmou que, por enquanto, a procura pelos seus serviços “é acanhada”, pelo que tem reproduzido em “quantidades reduzidas”. Ao contrário de Mbendo e Quilumbo, Dyakumbanza não consegue, por enquanto ,reproduzir as chaves especiais e as codificadas, devido à “falta de material completo” pelo que não cobra “preços exorbitantes”. Por enquanto, estão fixados entre 400 e 500 kwanzas.
Dyakumbanza também utiliza uma lima e uma máquina de marca chinesa para atender os poucos clientes que recebe actualmente. Nos cálculos deste chaveiro, cinco a sete minutos é o tempo suficiente para a reprodução de uma chave. “A inteligência e a criatividadescontam muito para o sucesso da profissão”, defende.
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