A RECEITA DE GERARD KEEFT

Petrolíferas devem incluir “renováveis” para valorizar activos

PETRÓLEO. Especialista holandês-americano defende inclusão das renováveis entre as apostas das petrolíferas e sugere uma “fusão” entre uma empresa de energia eléctrica e a Sonangol como forma de alavancar o valor energético.

Com a contínua queda dos preços de petróleo, a necessidade de descontar mais “reservas empatadas” e a necessidade de pagar dividendos aos accionistas, como é que as empresas petrolíferas do século XXI podem reinventar-se, permanecer vibrantes e olhar para o futuro?

Essa é a pergunta que colocará aos intervenientes do sector petrolífero, em Outubro próximo, em Luanda, Gerard Kreeft, o holandês-americano director-geral da EnergyWise, empresa de consultoria sediada na Holanda. Kreeft falou com o VALOR, em Luanda, em antecipação ao ‘workshop’.

Quando o papel que o crude joga na economia mundial está a declinar, de acordo com várias análises, “é necessário compreender qual é o ponto de partida do sector de petróleo e gás e como deve ser dada a essa actividade uma nova legitimidade dentro do emergente perfil de energia”, defende Gerard Kreeft.

Na indústria, existem os 3-Rs (RRR, em ingês Reserves Replenishment Ratio). O rácio de reserva de substituição é uma métrica usada pelos investidores para avaliar o desempenho operacional de uma companhia de exploração e produção de petróleo e gás. Os 3-Rs são a quantidade de reservas comprovadas adicionadas à base de incidência de uma empresa durante o ano em relação à quantidade de petróleo e gás produzidos.

Há um mínimo que não se deve ultrapassar mesmo nas condições de grande demanda. E também os 3-Rs valem menos em condições como as actuais, de baixas de preços. É aqui onde a EnergyWise defende que as petrolíferas devem às energias renováveis na sua contagem.

“Se estivermos a medir uma empresa de energia no século XXI, não devemos estar a olhar para ‘unidades de hidrocarbonetos’, mas para ‘unidades de energia’”, disse Gerard Kreeft. “Se analisarmos um período de transição de 20 a 25 anos, então teremos algumas dessas empresas com parte do seu portfólio em energias renováveis. Quer dizer, em vez de as petrolíferas terem apenas a contagem das suas 3-Rs à base de crude, o portfólio deve ser alargado para energias renováveis. Desta forma, mesmo em épocas de baixa do crude, como agora, a alta das renováveis colocará, por extensão, o petróleo e gás em alta, fazendo com que a actividade mantenha o nível sem depreciar.

“Por exemplo, em Angola, já há as empresas de eletricidade que produzem energia hidroeléctrica. Podia haver uma espécie de fusão entre a Sonangol e a empresa de electricidade para que contabilizem as suas unidades de energia em conjunto”, propõe. Essa contagem combinada, calcula, “vai incrementar o valor do sector energético de modo substancial”, permitindo o acesso aos mercados de capitais ou bolsa de valores e tornando os activos mais valorizados. “Não estou a advogar a fusão real da Sonangol e o sector eléctrico”, esclarece Gerard Kreef, “mas uma contagem combinada da unidade de energia com vista a aumentar o valor dos activos. Isso não é um sonho, é algo que pode acontecer nos próximos três a cinco anos”, antecipa.

O consultor tem estado a viajar pelo mundo a “vender” a ideia e muitas empresas petrolíferas internacionais têm estado receptivas, cita o caso da Esso Angola Exploration (internacional ExxonMobil) e da Chevron.

Por cá, a Sonangol foi abordada, mas a concessionária nacional “ainda não entendeu a profundidade do assunto”, explica. Já as empresas que trabalham no pré-sal têm melhor entendimento, pois viram nisso o método de inclusão do gás natural, produto que tem estado a ser encontrado mais do que o próprio petróleo.

O gás natural, no entanto, não é explorado nas bacias do Kwanza, onde se encontra em abundância, por falta de um plano director, segundo a British Petroleum (BP), uma das empresas que detém interessas naqueles campos.

A EnergyWize descreve-se como uma empresa “de conhecimentos, que gerencia e implementa eventos como workshops, seminários, conferências e que tem estado a trabalhar com várias empresas internacionais”. Desde 2003 que realiza os mesmos eventos no nosso país, contanto, desde 2011, com a parceria de três universidades que ministram cursos de petróleo.