Plano motiva desconfianças
AGRICULTURA. Plano Intercalar, proposto pelo Governo, é visto como “exequível”, mas “escasso”, pelos operadores agrícolas. Uns sugerem mais medidas, além das preconizadas. Outros ‘torcem o nariz’ aos prazos.
As medidas destinadas à agricultura, previstas no Plano Intercalar, “são as necessárias, mas precisam de sair do papel e o período previsto para a implementação é irreal”, concluem diversos operadores ouvidos pelo Valor.
O director da ADRA (Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente), Belarmino Jelembi, entende que “a situação da agricultura é muito crítica e precisa de uma intervenção em outras variáveis” como na “facilidade de financiamento de longo prazo porque não apresenta resultados imediatos” e no seguro agrícola.
Por sua vez, José Maria Dumbo, presidente da cooperativa dos agricultores do Huambo, propõe um “rigoroso controlo” para se identificar quem na verdade é agricultor ou pescador. Sugere, por isso, que ambos os ministérios credenciem quem tem máquinas que justifiquem a subvenção ao combustível “para que não apareçam oportunistas”. Para este líder associativo, “sem combustíveis, não há agricultura mecanizada e, sem essa, os resultados serão apenas virados ao consumo e não para a comercialização”.
O empresário José Macedo, administrador da Agrolider, defende mais medidas para que reflictam as necessidades do sector, mas alerta ser preciso “sair do papel e passar a acções concretas”.
O gestor do ramo agro-industrial gostava que a agricultura fosse olhada “com mais importância”, lembrando que, em Angola, ainda há muita agricultura de subsistência. Daí que proponha que se aposte na agricultura empresarial. “A agricultura deve ser vista com outros olhos, talvez com um orçamento mais gordo, contrariamente aos anos anteriores”, defende.
Os operadores lembram ainda que algumas das medidas propostas no plano “são velhas”. O plano preconiza, entre outras medidas, implementar um sistema de crédito fiscal pós-produção, um modelo de subsídio ao combustível orientado para a agricultura, pesca e alguma indústria transformadora, o aumento da produção e o reforço da capacidade institucional e técnica dos órgãos de fomento agrícola. Além disso, prevê a revisão de todo o sistema de gestão de infra-estruturas de irrigação, de forma a optimizar o seu rendimento.
Acelerar a produção de sementes e actualizar o estudo sobre o seguro agrícola e estimular as seguradoras a terem em carteira uma percentagem mínima alocada a este seguro também constam do plano.
Outras medidas passam pela dinamização da produção do algodão, cana-de-açúcar, girassol, café, palmar e cacau, promovendo a sua articulação com a indústria, pela revisão do sistema de gestão e pelo redimensionamento das fazendas de média e grande escalas e a melhoria dos acordos de partilha da produção das pescas, privilegiando os interesses nacionais.
O Plano Intercalar foi apresentado em Outubro com a previsão de concluir a implementação destas medidas até Março.
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