PORQUE FALHOU A GOVERNAÇÃO
Na entrevista à Rádio Essencial, esta terça-feira, 11, o empresário Bartolomeu Dias deu algumas respostas curtas e objectivas. O Governo de João Lourenço falhou porque escolheu algumas empresas a dedo para fazer delas parceiras do Estado, entregando-lhes tudo o que tinha e o que não tinha. O Governo de João Lourenço falhou porque deixou de haver divisas para os empresários “não alinhados ao sistema”. O Governo de João Lourenço falhou porque elegeu as contratações simplificadas e adjudicações directas que privilegiam uns poucos e discriminam os outros tantos. O Governo de João Lourenço falhou porque, como sugere o empresário, as empresas privilegiadas do sistema deixam muito dinheiro fora de Angola porque temem serem confiscadas na Angola pós-João Lourenço tal como João Lourenço fez na Angola pós-José Eduardo dos Santos. Em suma, o Governo de João Lourenço falhou porque não teve “estratégia económica”.

Não sendo nem pouco mais ou menos descuráveis, as observações de Bartolomeu Dias não nomeiam, entretanto, os problemas estruturais que condicionaram o prometido milagre económico e desfizeram o ansiado progresso político.
Digamo-lo então de outra forma. A governação de João Lourenço falhou porque, antes de mais, se recusou a ser governação desde a primeira hora. A governação de João Lourenço falhou porque decidiu, desde o início, transformar Angola no maior parque de diversões à céu aberto. A governação de João Lourenço falhou porque as reformas de fundo de que o país precisava nunca foram sequer desenhadas, quanto mais saírem do papel. A governação falhou porque, em todos os casos e em toda a linha, o interesse pessoal se sobrepôs às ambições de Estado. Porque o combate à corrupção e à impunidade foi transformado, desde cedo, num instrumento de consolidação do poder, de perseguição de inimigos e de saque ao erário. É por isso que, com todo o descaramento, o Ministério Público elabora uma peça de acusação em que Manuel Vicente é visado por vezes incontáveis, mas não o acusa do que quer que seja. E o Tribunal não só faz a pronúncia como arranca com o julgamento de ‘Dino’ e ‘Kopelipa’ sem mais nem menos uma vírgula. Não é muito difícil calcular quem terá de responder amanhã por essa profanação impiedosa das instituições do Estado.
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