Portugal arde por todos os lados
INCÊNDIO. Numa única semana, os fogos consumiram mais de 70 mil hectares. A Ilha da Madeira transformou-se num inferno: quatro mortos, 208 edifícios queimados e prejuízos de quase 70 milhões de dólares. Os portugueses discutem aumentar as penas para fogo posto.
Os dados recolhidos pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS) dão uma dimensão do que foi a última semana em Portugal: um autêntico inferno, com os fogos a queimarem mais de 70 mil hectares, o equivalente a quatro vezes toda a província de Luanda. Desde Janeiro, arderam mais de 90 mil hectares de mata. O EFFIS, da Comissão Europeia, monitoriza diariamente o que se passa nos países, não só europeus, através de imagens de satélite.
Desta vez, os incêndios atingiram edifícios e casas de habitação, provocaram milhares de desalojados e ameaçaram atingir alguns centros populacionais. No combate às chamas, os bombeiros foram auxiliados por aviões vindos de Marrocos, França e Rússia.
Considerada um paraíso e muito virada para o turismo, sobretudo sénior, a Ilha da Madeira viveu dias infernais. Quatro pessoas morreram durante os incêndios que atingiram a capital, Funchal, mas também a Calheta. Mais de 200 edifícios foram atingidos, sendo que 105 ficaram totalmente destruídos, e os prejuízos foram calculados em quase 70 milhões de dólares. Um dos hotéis de luxo e emblemático, no topo da ilha, foi completamente consumido pelas chamas. Dois hospitais foram evacuados e houve mais de mil desalojados.
A catástrofe madeirense provocou uma onda de solidariedade com ofertas de materiais e dinheiro, em que estiveram envolvidos, além da população da ilha e do continente, turistas, clubes de futebol e até Cristiano Ronaldo que se disponibilizou a ajudar na recuperação.
O incêndio teve origem na mata quando um indivíduo, de 27 anos, resolveu atirar fogo. Já tinha antecedentes criminais precisamente pela mesma razão, o que avivou a discussão sobre a possibilidade de se alterar a moldura penal para casos destes. Nos últimos meses, a polícia portuguesa deteve 27 pessoas, acusadas de fogo posto. Muitas delas passaram apenas alguns dias detidas e foram libertadas, apenas com a obrigação de se apresentarem em esquadras policiais até ao julgamento.
Nem só a ilha foi fustigada. Por todo o continente português, registaram-se focos de incêndios, ajudados por ventos fortes e com temperaturas a ultrapassar os 40 graus. Ao todo, no final da semana, havia 300 focos.
As ajudas que chegaram a Portugal acabaram por não ser suficientes. A União Europeia enviou meios aéreos, mas limitados. A fraca ajuda foi justificada pelos graves incêndios florestais que vários Estados-membros estavam a enfrentar. Portugal chegou a accionar o Mecanismo Europeu de Protecção Civil. A ministra portuguesa da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, admitiu que “estava à espera de uma maior solidariedade dos parceiros europeus”, lembrando que Marrocos, apesar de não pertencer à União Europeia, respondeu prontamente ao pedido de auxílio.
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