Preços baixos da rede Shoprite geram confusão
COMÉRCIO. A rede de supermercado Shoprite que, nas últimas semanas, é palco de enchentes incontroláveis, foi notificada pela inspeccção do Ministério do Comércio, não por praticar preços baixos como veiculado na internet, mas para responder sobre produtos expirados encontrados no seu estabelecimento comercial.
As enchentes nas superfícies comerciais da Shoprite já se tornaram norma e não faltam registos fotográficos de filas intermináveis e em vídeo de correrias e quase lutas por produtos. Recentemente correram relatos que acusavam a rede sul-africana de práticas de ‘dumping’ e que poderia ser multada pelo Ministério do Comércio. No entanto, o VALOR ouviu Heleno Antunes, Inspetor-geral do Comércio, e o economista Carlos Pedro, que explicam quais as vantagens competitivas na base dos preços mais baixos que a concorrência e a capacidade de manutenção do stock no meio de uma crise de divisas que deixa a maioria com prateleiras desnudas.
A Shoprite tem uma visão estratégica de implementação, alargamento e solidificação da rede de supermercados em vários países africanos que lhe permite a manutenção de preços e stocks independemente da repartição de lucros à casa mãe, explica um especialista em redes de distribuição. Tem uma rede consistente, dispensa financiamentos bancários, pelo que não está onerada pelos juros elevados praticados no país. Além disso, faz as encomendas atempadamente e os seus produtos são transportados para Angola via terrestre. Estes são, entre outros, os factores que outros responsáveis e especialistas, como Heleno Antunes e Carlos Pedro, apontam como vantagens competitivas da Shoprite em relação aos seus concorrentes.
As enchentes de clientes nas lojas Shoprite, sobretudo do Palanca e Belas terão diminuído, depois de nas últimas semanas dezenas de quitandeiras ávidas por produtos para revenda terão procurado em massa os preços baixos do Shoprite. Pessoas oriundas dos vários pontos de Luanda perfilavam-se às primeiras horas do dia para comprar o máximo possível de produtos da cesta básica e a gestão das lojas foi, várias vezes, obrigada a fazer recurso a seguranças, a racionar as vendas, limitando o número de unidades por pessoa e, até mesmo, a fechar portas, quando as enchentes se acumularam.
Face ao cenário, houve quem alegasse que a empresa estaria a praticar ‘dumping’. A direccção da Shoprite preferiu não se pronunciar e, em declarações ao VALOR, uma executiva da empresa garantiu “não existir nada de anormal”, explicando que a falta de stock dos concorrentes e os preços acessíveis que a Shoprite pratica justificam as enchentes.
O chefe do Gabinete de Inspecção do Ministério do Comércio, Heleno Antunes, assegurou ao VALOR, que a Shoprite não está a incorrer em nenhuma ilegalidade, ao praticar preços baixos, “antes pelo contrário, os outros importadores têm de fazer a sua parte e importar em mercados mais próximos para reduzir custos e contribuir para a baixa de preços no mercado nacional”.
Heleno Antunes esclareceu também que, contrariamente às demais redes, a Shoprite não recorre ao mercado externo de cambiais. São produtores nos seus países, como África do Sul e Namíbia, daí que tem sustentabilidade em termos de fornecimento. Desta forma, continua, em termos de despesas a Shoprite ganha vantagens. “Tem menos despesas em relação a quem importa via marítima ou aérea e depende menos de divisa para aquisição dos produtos”, compara.
O inspector do órgão regulador do comércio acrescentou ainda que “no momento actual o Estado não tem como interferir directamente nos preços, podendo apenas, por via do Instituto de Preços do Ministério das Finanças, criar o chamado preço de referência para alguns produtos da cesta básica”.
O que é o dumping?
Regra geral, os economistas designam dumping ao processo de comercialização de produtos a preços abaixo do custo de produção. A razão da existência do fenómeno, segundo os especialistas, surge da necessidade de um determinado operador económico pretender eliminar a concorrência e conquistar uma quota maior de mercado.
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