SEGUNDO A AGÊNCIA FITCH

Pressão sobre os dólares alivia em 2017

PREVISÕES. A recuperação do preço do petróleo e uma forte perspectiva para a produção auguram uma melhoria das condições económicas no início do próximo ano. No entanto, lembra a agência, qualquer redução do défice comercial não é sinónimo de uma melhoria estrutural nos fundamentos económicos de Angola.

A agência de notação financeira Fitch estima, para o próximo ano, a redução da escassez de dólares que afecta a economia angolana, na sequência da baixa do preço do petróleo nas praças internacionais. Em relatório divulgado esta semana, a Fitch, através da sua unidade de análise BMI Research, esclarece que, embora as expectativas para o défice da conta corrente de Angola sejam pessimistas e mais baixas do que o consensual crescimento de 8,5% do PIB, as perspectivas em relação ao início de 2016 “são positivas”.

Em causa, está a estimada recuperação do barril do brent que, nos cálculos da agência, deverá fixar-se nos 53 dólares, em termos médios, contribuindo para um crescimento de 6,8% do sector petrolífero, que deve contar com uma produção “mais robusta”. “O crescimento vai proporcionar algum alívio na actual escassez de dólares no mercado, permitindo a retoma da actividade económica, depois de ter enfrentado ‘ventos severos’ em 2015 e 2016, como resultado da exposição externa”, detalha a agência.

A dinâmica do comércio externo deve ter reflexos na redução do défice nas contas correntes do país, que deve cair para 3,1% do PIB em 2017, após um pico de 8,9% em 2016. “Isto representa um risco menos significativo para as perspectivas de crescimento económico de curto prazo”, avalia.

 

DEBILIDADES ESTRUTURAIS: UMA AMEAÇA

Embora apresente “dinâmicas positivas” para a balança de pagamentos em 2017 comparado com os dois anos anteriores, 2015 e 2016, a BMI Research realça que qualquer recuperação económica “será frágil e continuará a ser vulnerável às flutuações no mercado global de petróleo.”

O sector do crude mantém a sua posição dominante na economia, respondendo por 27,3% do total do PIB, diz a BMI citando dados do Fundo Monetário Internacional. Em termos nominais, registou-se no entanto uma queda drástica das receitas, nos últimos dois anos, situação que forçou o Governo a aumentar os níveis da dívida pública, complementado com o recurso às reservas internacionais líquidas do banco central. No entanto, como avalia a BMI Research, os limites da dívida impuseram restrições que justificam, em parte, o actual quadro de escassez de cambiais e o abrandamento da actividade económica em 2015 e neste ano, “com as empresas a lutarem para adquirir moeda estrangeira necessária à sua actividade, dificultando a produção”.

 

PETRÓLEO ULTRAPASSA OS 50 DÓLARES

O petróleo de referência para as vendas de Angola foi negociado, na semana passada, ao preço de 50,51 dólares por barril, sete meses depois da última venda negociada nos mercados internacionais, enquanto o crude negociado em Nova Iorque fixou-se nos 49,92 dólares.

De acordo com vários analistas, contribuíram para a subida dos preços o abrandamento do excesso de oferta dos grandes produtores e a redução das actividades das grandes empresas americanas de exploração do petróleo de xistos. Está ainda entre as causas do avanço do preço do brent o incêndio deflagrado há duas semanas no Canadá que interrompeu a extração e refino de cerca de 1,2 milhões barris de petróleo por dia na indústria local.

A última vez em que o preço do petróleo se situou nos 50 dólares foi a 3 de Novembro do ano passado, quando a mercadoria fechou em alta nos 50,91 dólares. Desde então foi sempre a baixar, com oscilações irregulares entre 30 e 45 dólares.

Para o economista Lopes Paulo, passar a marca dos 50 dólares, sinaliza a possibilidade de arrecadação de receitas adicionais nas contas do Estado, já que, no Orçamento Geral do Estado deste ano (OGE) estão inscritos 45 dólares por barril.

“A vender a esse nível tem impacto nas receitas de Angola, porque o petróleo é vendido no mercado de futuro. Esta venda de hoje [26/05] é para a entrega futura, precisamente daqui a dois ou três meses. O que significa que o país está a vender neste preço”, considera Lopes Paulo, que alerta, no entanto, para cautelas “por causa dos perigos da volatilidade dos preços”.

Depois de fechar nos 50.51 dólares, o preço recuou 1,9%, para 49,55 dólares por barril a cotação mais alta, até às 16 horas e 30 minutos do dia 27 deste mês, enquanto a baixa esteve pontuada nos 48,70 dólares.