“Prisão para quem está a levar o país a falência”
O presidente da Associação Empresarial de Luanda defende que a “falta de autoridade” do Estado no combate à venda informal de divisas e a redução do crédito ao investimento estão a contribuir para falência de várias empresas.
Como analisa o estado actual do empresariado nacional?
Se pudesse dar um adjectivo, o diagnóstico é de ‘problema grave’. Estamos a passar por um problema grave. Não só para os empresários de Luanda, mas também todo o nacional. Em primeiro lugar, porque estamos com o problema de funcionamento do sistema financeiro. Sem ele, não há economia que funcione. A concessão de crédito está parada, o funcionamento da banca, nomeadamente no que diz respeito aos pagamentos ao exterior, está também parado. E o facto de a banca estar parada está a fazer com que todo o sector produtivo também esteja parado.
É apenas o funcionamento do sistema financeiro que está em causa?
É sobretudo isso. Outro caso é a venda informal de divisas. É um problema estrutural do país em que a autoridade do Estado não se está a exercer como deveria. Precisamos de mais autoridade do Estado. Sabemos que o Governo disponibiliza centenas de milhões de dólares para que o país não fique sem divisas. O problema é que os dólares que são disponibilizados chegam aos bancos para serem vendidos ao preço de 166,7 kwanzas, que é o preço oficial do Banco Nacional de Angola, mas é desviado para fora do banco. É traficado de uma forma ilegal e é vendido a 400 kwanzas. Significa que, em Angola, quem trabalha está a ficar pobre, e quem trafica está ficar muito rico. E isso é muito grave para a nossa economia. E aí deveria se fazer exercer a autoridade do Estado.
De que forma o Estado deveria intervir?
Prender quem está a prejudicar o país inteiro. Prender quem está a levar a falência toda a nossa produção nacional. Deve identificar-se quem são essas pessoas e parar com isso. Isto é, identificar quem são os bancos que estão a permitir que assim se faça e multá-los. Se necessário até encerrá-los, porque estão a desestabilizar a economia nacional. Isto é um problema que é mais um caso de polícia do que um caso económico. E isso está a prejudicar muito nosso país. E, a partir deste prejuízo, tudo o resto vai por acréscimo, dando lugar a outros problemas.
Como analisa a nova lei do Investimento Privado?
Há necessidade de se modernizar essas leis. A isso somamos a pauta aduaneira, que também deve ser revista. Não é possível estar a fazer uma indústria, algumas de produtos alimentares, tendo que importar, por exemplo, ração, e ter-se no porto uma única empresa que taxa a entrada dessas mercadorias.
O que significa para si ‘modernizar a lei’?
Por um lado, acreditamos que a lei deve ser melhorada, por outro lado devem estabelecer-se diálogos com as entidades competentes para a melhorar.
À lei soma-se a extinção da Agência Nacional para o Investimento Privado (ANIP), que deu lugar a outras unidades. Como vê essas alterações?
Antigamente tínhamos a ANIP. Agora há uma diversificação mas não está ainda bem clara, bem funcional. E entendemos que os investidores podem dar o seu contributo.
Para si as novas unidades não vão funcionar?
O tempo dirá, porque é uma novidade. Sempre estivemos habituados com um órgão próprio para apoiar o investimento privado, o que normalmente se faz noutros países. Do meu ponto de vista, preferiria que as coisas tivessem funcionado da maneira antiga. Porque os investidores sabiam onde se dirigir. E porque os técnicos estavam concentrados e a trabalhar de forma mais especializada. Ainda estamos a tomar conta dessa novidade, que pode ser boa, desde que funcione.
Essa desagregação parece-lhe difusa?
Está um bocado difusa. Ao mesmo tempo, parece-me que a fasquia dos montantes [para os investimentos a partir dos 10 milhões USD] limita um bocado os investidores. É muito fácil atingir essa verba de 10 milhões. Se todos os projectos com esse montante tiverem de passar a esse nível [presidencial], acho que vai haver um afunilamento, ou terá de se criar uma nova ANIP.
O que significa criar uma ‘nova ANIP’ ?
Hoje, fazer 10 milhões dólares é rápido. Qualquer edifício já custa mais de 10 milhões de dólares. Um edifício grande estamos a falar em 50 a 100 milhões de dólares. Das duas uma. Ou terá de se criar uma nova ANIP, que vai ter um outro nome, ou ficam os projectos afunilados na UTIP.
JLo do lado errado da história