Prodesi não salva produtores agrícolas
AGRICULTURA. Grito de socorro dirigido às autoridades surge de todos os cantos. Há já quem ameace não regressar à actividade, se não houver apoios do Governo. E não falta quem considere o Prodesi “um fracasso”.
A campanha agrícola 2020-2021 está totalmente comprometida em todo o país devido à falta de chuva. Nas regiões do Norte, centro e Sul, a Adra estima os prejuízos, até finais de Janeiro, em mais de 50% face ao que estava perspectivado em termos de produção, fasquia que tende a aumentar pela falta de alternativas sustentáveis de irrigação dos campos agrícolas diante da estiagem.
Em consequência disso, quase nada foi colhido na primeira fase, muitos produtores mostram-se impossibilitados de continuar por falta de verbas para a segunda época que agora começa.
Simeone Justino, director da Adra na região sul, explica que, fruto do impacto, na zona, a mais afectada pela estiagem, existem produtores sem condições financeiras para a aquisição de sementes, fertilizantes e outros elementos fundamentais à produção. E deixa claro que não terão como devolver o empréstimo financeiro. No entanto, aponta o dedo ao Executivo pela “incapacidade de criar políticas que incentivam realmente a produção nacional”, citando o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi) como “um fracasso.”
“A Huíla, Cunene e o Namibe são províncias que representam uma boa parte do celeiro do país. Ao estarem comprometidas, afectam os programas do Executivo, como é o Prodesi. Logicamente, o programa estará afectado porque estão a dar verbas aos produtores numa perspectiva de financiar e alimentar o nosso mercado. Certamente não será efectivado, porque os produtores vão apresentar a questão da seca”, explica, sugerindo mudanças de estratégia.
“Precisamos de estruturar bem as políticas de financiamento à agricultura. A actividade agrícola, na maior parte dos casos, é considerada de risco por ter uma dependência quase total dos fenómenos naturais. Por essa razão é que estes financiamentos devem ter outras acções que visam proteger a produção. Do que vamos colher hoje, o financiamento tinha de começar cinco anos antes, não podemos pensar que caiu um financiamento este ano e o resultado é já o próximo ano, os factores de produção não estão sob nosso controlo”, observa.
Outrossim, defende a necessidade de o Governo criar soluções mais sustentáveis na região sul, afectada por seca cíclica. Sugere que se ponha fim aos tradicionais furos, uma vez que “vão apenas agredir o subsolo e esgotar o lençol freático”.
A falta de apoio real aos produtores no âmbito do Prodesi é também uma queixa de Mariana Moita, responsável da Adra em Malanje. A ausência, refere, agravou de tal modo a situação que, a nível da província, somente uma “ínfima parte de fazendeiros” teve até agora acesso ao financiamento, enquanto 18 cooperativas aguardam há quase um ano. “Com este cenário, infelizmente negativo, é necessário que os apoios sejam redobrados não apenas na linha da mecanização e de aquisição de sementes e fertilizantes, mas também é necessário que sejam feitos investimentos nos meios de rega para ultrapassar situações de género [pequenas ou grandes estiagens].”
Nas variadas culturas da região, os produtores que tiveram alguma ‘sorte’ conseguiram colher pouco menos de 40% de feijão 65% de milho.
Centro e Norte sem esperança
O clima no seio dos produtores do Huambo e Malanje não é de esperança. Segundo Cidália Gomes, directora da Adra no Huambo, já começa a fazer-se sentir uma crise alimentar na região. “Há famílias a passarem fome nas comunidades. As autoridades têm de andar nas comunidades”, alerta.
Nem metade das principais colheitas, com destaque para o milho e feijão, foi colhida, e cita, como exemplo, a ‘desgraça’ de um produtor que plantou cinco hectares de feijão. A perspectiva “era de colher uma média de seis toneladas, infelizmente, acabou por colher apenas 600 quilos”.
Já em Malanje, as contas são também com os “gastos avultados”realizados na presente campanha. A preparação de um hectare chegou a custar 85 mil kwanzas, ao contrário da campanha anterior, em que ficou pelos 65 mil kwanzas. Já a semente de feijão de 16 quilos custou 25 mil kwanzas, o mesmo valor por que eram adquiridos 50 quilos no exercício anterior. Os produtores garantem que não regressam à actividade, caso não surjam apoios, perante as “enormes perdas”.
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