Produção de cacau ‘encalha’ na falta de formação
AGRONEGÓCIO. Falta de conhecimento e ferramentas para produzir cacau de qualidade tem impedido os produtores de Cabinda de exportar. Empresário interessado em implantar fábrica prefere não adiantar o investimento, enquanto não existir capacitação.
Os produtores de cacau que beneficiaram de mudas oferecidas pelo Governo encontram dificuldades no tratamento do produto, devido à falta de formação especializada. António Paulo Pinge, presidente da cooperativa Kikuadi – Kivaku, lembra que o governador provincial de Cabinda, Marcos Nhunga, prometeu há três anos capacitar um grupo de produtores em São Tomé e Príncipe, o que não veio a realizar-se.
“Temos de saber como fazer a fermentação e secagem, só é possível com uma formação. Eu estive no Gana, Costa do Marfim e Togo, os produtores vendem o cacau seco, sabem como fermentar, secar e armazenar para estar dentro dos padrões internacionais. O cacau necessita de muita precisão”, observa.
O desconhecimento destas técnicas faz com que vendam o quilo do fruto fresco a 400 kwanzas, cinco vezes mais baixo do comprado noutros mercados. E, igualmente, impede a exportação visto que os compradores medem a qualidade desde o plantio. No entanto, os compradores são essencialmente outros fazendeiros que desejam começar ou ampliar a plantação e alguns congoleses.
“Com o cacau fresco a este preço não ganhamos nada porque, para ter 40 mil tem, de ter 100 quilos. Está a dificultar-nos a largar as fazendas porque o preço de compra é muito baixo, ainda temos de pagar os trabalhadores”, lamenta.
Em consequência disso, António Paulo Pinge revela que muitos dos 400 beneficiados das mudas de cacau “estão a abandonar” o cultivo, não só por falta de retorno, mas também de meios. O último levantamento, refere, reconhece que existem mais de 100 produtores activos.
A actual realidade levou o empresário angolano Joaquim Van-Dúnem e parceiros a recuarem na implantação de uma média fábrica de chocolates em Cabinda, avaliada em 2 milhões dólares. O empresário explica que o primeiro passo, nunca dado, seria a aposta na formação dos agricultores no sentido de assegurar qualidade e “aumento substancial” da produção. Van-Dúnem apresentou a proposta há mais de três anos ao Ministério da Agricultura e Pescas, mas nunca obteve resposta.
Um proprietário de uma média fábrica de chocolates na Holanda testou o cacau angolano e conferiu 70% de qualidade, se comparado aos dos maiores produtores mundiais. Tem produzido chocolate angolano fruto de uma parceria com alguns agricultores de Cabinda, os quais treina à distância em matéria de secagem e fermentação.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...